Durante a Conclat, sindicatos defendem direitos trabalhistas, melhores salários e condições de vida como prioridade na agenda política. “O momento é muito grave”, disse o presidente da CUT

 

 

A Conclat 2022 (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), realizada no dia 7 de abril, com a participação de nove centrais sindicais, reafirmou a necessidade de derrotar Bolsonaro nas próximas eleições. Para as lideranças que discursaram no encontro, essa é condição primordial para que direitos trabalhistas, melhores salários e condições de vida voltem a ser prioridade na política brasileira.

“Temos consciência de que vivemos um momento muito grave. Precisamos derrotar o fascismo, o que não será tarefa fácil nesses sete meses que nos separam das eleições”, disse o presidente da CUT, Sérgio Nobre. “Assim como sabemos que os próximos quatro anos tampouco serão fáceis. Vamos ter que comprar muita briga para conseguir implementar nossas propostas de mudança”, completou.

Essas propostas estão contidas na Pauta da Classe Trabalhadora, lançada publicamente na Conclat (o documento pode ser acessado em https://bit.ly/35LRwbQ). O objetivo das centrais é apresentar a pauta para candidatos e candidatas nas eleições deste ano, desde que tenham trajetória de compromisso com a defesa dos direitos trabalhistas e de políticas sociais. Outra tarefa pretendida pelas centrais é que os sindicatos façam debates públicos em torno das propostas.

A preferência pela candidatura de Lula é majoritária entre as lideranças das centrais, segundo os organizadores da Conclat. Mesmo assim, não houve manifestações explícitas ao candidato durante o encontro. O ex-presidente já havia recebido o documento na segunda-feira, dia 4, em reunião com a cúpula da CUT.

Já o grito “Fora Bolsonaro” foi manifestado sem censura pela plateia e em faixas pelo auditório e no palco. A Conclat aconteceu em formato híbrido, com presença reduzida de público e transmitida online, como medidas de prevenção à covid-19. O rapper Gog e a cantora Ellen Oléria comandaram a apresentação, com música e poesia. Na abertura, duas frases da dupla podem ser tomadas como síntese da Conclat: “Eu sou povo, posso ser o que quero. Não somos comunidades carentes, somos comunidades querentes”.

Se a necessidade de derrota de Bolsonaro é opinião unânime, por outro lado é vista apenas como o primeiro passo. É preciso um novo modelo de desenvolvimento e eleger o máximo possível de parlamentares e governadores de fora da direita, afirmaram lideranças. “Qual o retrato do Brasil de hoje? Juros abusivos, inflação descontrolada e uma taxa de câmbio que não nos leva a nada”, atacou o presidente da CTB, Adilson Araújo. “Precisamos mudar este modelo que só faz sorrir os rentistas e sangrar o bolso do povo”.

Para o presidente da CSB, Antonio Neto, a mudança precisa passar pelo que ele chamou de modelo de governança. “Acabar com esse toma-lá-dá-cá que coloca o centrão no comando e que promove a aprovação de tantas leis ruins”, disse. “Se não, seremos traídos novamente”. Emanuel Melato, da Intersindical, defendeu que, qualquer que seja o próximo governo, o movimento sindical deverá realizar uma greve geral para exigir a mudança da legislação trabalhista em vigor: “Só um processo de negociação não bastará. Temos de nos mobilizar para acabar com a reforma trabalhista de 2017”, afirmou.

Outra proposta defendida pelas centrais é que as questões de gênero, a luta antirracista e a defesa dos povos originários sejam parte permanente das mobilizações e das reivindicações. “As mulheres estamos lutando por um espaço de igualdade, que é uma palavra simples, mas que faz enorme diferença”, resumiu Maria Edna de Medeiros, da UGT e integrante do Fórum Nacional das Mulheres Trabalhadoras. Também representante do Fórum, Junéia Batista, diretora da CUT, afirmou: “Precisamos garantir a participação dos povos das florestas e das águas, das pessoas com deficiência e, definitivamente, ter a eliminação do racismo na sociedade como objetivos”.

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, defendeu que a retomada dos direitos trabalhistas seja estendida para a juventude e para novas funções, como a dos motoentregadores de aplicativos. Por fim, Torres registrou a resistência do movimento: “Parabéns para quem não se rendeu”. •

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