O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador de inflação do país, encerrou o ano de 2021 com alta de 10,06%, resultado muito acima do teto da meta de inflação do ano (5,25 %) e a maior elevação de preços desde 2015. Os itens que mais sofreram aumento foram aqueles relacionados aos combustíveis e energia, e aos alimentos e bebidas. 

O ano mal começou, e a inflação continua em dois dígitos. Anunciado na quarta-feira, 26 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 variou 0,58% em janeiro, contra 0,78% em janeiro de 2021. Considerado a “prévia da inflação”, o indicador acumula alta de 10,20% em 12 meses.

A variação de janeiro ficou acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela Bloomberg esperavam avanço de 0,44%. Economistas também projetavam variação menor no acumulado em 12 meses: 10,05%. Até dezembro, o acumulado era de 10,42%.

Em 12 meses, o IPCA-15 está bem acima da meta de inflação perseguida pelo Banco Central. O centro da meta é de 3,50% em 2022, e o teto foi definido em 5%. Os analistas já projetam novo estouro da meta, o segundo consecutivo.

Para 2022, a expectativa ainda é que a inflação seja menor, mas tem grandes chances de novamente superar o teto da meta estabelecido para o ano. Atualmente, a previsão dos analistas de mercado consultados no boletim Focus, do Banco Central, é que o IPCA encerre o ano de 2022 em 5,09%.

Apesar do aumento da inflação ser um fenômeno global, o Brasil se destacou negativamente neste ponto em 2021. No grupo dos 19 países mais ricos do mundo — mais a União Europeia —, o Brasil apresentou a terceira pior inflação, só perdendo para Argentina (51,2%) e Turquia (21,3%). 

A política de preços de combustíveis adotada pela Petrobrás desde o governo de Michel Temer é um dos fatores que mais contribuiu para a carestia, uma vez que repassa diretamente o aumento do preço do petróleo e os efeitos da desvalorização cambial para o bolso do consumidor, produzindo lucros extraordinários para os acionistas privados e estrangeiros da empresa, enquanto o custo é arcado totalmente pelo consumidor brasileiro.

Outro fator a se destacar é a desvalorização cambial excessiva, fruto da completa ausência de controles de capitais e do desmonte dos instrumentos de estabilização cambial, decorrente de um processo acelerado de liberalização financeira. Com isso, o real foi a sexta moeda que mais perdeu valor no mundo em 2020 e a décima segunda em 2021.

Por fim, dois outros fatores impactaram diretamente o resultado da inflação. Em primeiro lugar, a ausência de estoques reguladores e alimentos e o desmonte das políticas de financiamento à agricultura familiar limitam a capacidade do Estado de estabilizar os preços e garantir a segurança alimentar da população. Em segundo, os extremos climáticos têm provocado secas duradouras em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, prejudicando a produção de alimentos e impactando o preço da energia elétrica. O incentivo ao desmatamento ilegal e o desmonte das políticas de proteção ambiental contribuem decisivamente o agravamento desse cenário. •

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