As expectativas para a economia brasileira em 2021 apontam para um crescimento de 4,5% na comparação com 2020. A maior parte desse resultado foi fruto de uma base de comparação muito baixa com 2020, quanto o Produto Interno Bruto (PIB) despencou 3,9%. Apesar do crescimento de 1,2% no primeiro trimestre do ano passado, nos dois trimestres seguintes, a atividade encolheu 0,4% e 0,1%, respectivamente, entrando em um cenário de recessão técnica. 

O principal componente de expansão foi o investimento no primeiro trimestre — que já passou a desacelerar e recuar nos trimestres seguintes. O que motivou essa alta foram as importações de plataformas de petróleo pelo Repetro, regime de tarifas especial que permite ao setor de petróleo e gás adquirir bens de capital sem pagar tributos federais.

Isso reflete um fator meramente contábil por ser resultado de um investimento já feito anteriormente e apenas contabilizado este ano. Mas foi responsável por cerca de um terço da elevação do investimento no primeiro trimestre. Além disso, houve a expansão da aquisição de máquinas agrícolas. E, no terceiro trimestre, foi sustentado pela construção civil. 

Já o consumo das famílias ainda não recuperou o patamar pré-pandemia, por conta do elevado desemprego, perda de renda e da elevada inflação — que fechou o ano em 10,06% — corroendo o poder de compra dos brasileiros. Para 2022, o Boletim Focus, do Banco Central, prevê estagnação, projetando para o PIB uma alta de 0,28%. 

O Banco Mundial aponta que o desempenho da economia brasileira em 2022 deve ser o pior entre os países emergentes, e um dos piores entre os países da América Latina e Caribe, melhor apenas que o Haiti. Segundo relatório da CEPAL, o Brasil deverá ter o menor crescimento da região neste ano. O mau desempenho esperado é sobretudo por fatores domésticos.

A combinação da falta de perspectivas de recuperação do mercado de trabalho e da renda das famílias, agravada com a permanência de uma elevada inflação e a expectativa de um maior aperto monetário por parte do Banco Central, dão o tom calamitoso que nos aguarda em 2022.  Em especial, a subida dos juros em um contexto em que três em cada quatro famílias brasileiras estão endividadas e em que as empresas estão no maior patamar de endividamento da década é particularmente grave. 

O cenário de estagnação da economia reforça a ideia de que, sem que se recupere a demanda interna, não há espaço para recuperação econômica. Para isso, é necessário retomar o emprego, a renda, e que o Estado atue diretamente garantindo a demanda.

Na crise de 2008/2009, quando o governo Lula atuou expandindo os investimentos públicos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), garantiu-se renda aos trabalhadores com a manutenção da política de valorização do salário mínimo. Houve na época a expansão do crédito consignado.

A economia conseguiu tanto ser muito menos impactada quanto se recuperar muito mais rápido. Bolsonaro, pelo contrário, cortou investimentos, reajustou o salário mínimo abaixo da inflação, e vem elevando a taxa de juros contribuindo para o agravamento da recessão. 

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