A preocupação dos brasileiros com a Covid-19 voltou a crescer, mas o negacionismo do governo Bolsonaro é minoria. Aqui, traçamos uma análise do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, sobre as pesquisas mais recentes divulgadas pelos institutos de opinião.

O levantamento mais recente, divulgado pelo Datafolha, mostra a opinião da população em relação à vacinação, à contaminação pela Covid-19 e as medidas sanitárias contra o coronavírus. Segundo a pesquisa, 96% dos brasileiros com 18 anos ou mais afirmam ter tomado ao menos uma dose da vacina contra a Covid-19, sendo que 90% já tomaram duas doses. Outros 2% não tomaram o imunizante mas pretendem. Somente 2% não pretendem se vacinar — uma queda de 14 pontos percentuais em relação a um levantamento de janeiro de 2021.

Questionados sobre a contaminação, 25% afirmam terem testado positivo para a doença, enquanto 5% declaram que foram contaminados, mas não fizeram teste. Entre os 30% dos entrevistados que afirmam ter contraído Covid-19, 84% o fizeram quando não estavam vacinados, 7% quando haviam tomado apenas a primeira dose e 10% contraíram tendo tomado as duas.

A alta adesão à vacinação decorre no apoio a medidas sanitárias de prevenção. São 81% os que defendem o “passaporte da vacinação” para entrada em locais fechados, como escritórios, bares, shows e restaurantes.

A maioria faz a defesa da vacinação de crianças. Entre todos os entrevistados, 79% são a favor da imunização dos pequenos entre 5 e 11 anos, 17% são contra e 4% não souberam opinar. Entre aqueles responsáveis por alguma criança nessa faixa etária, 76% são a favor da aplicação dos imunizantes.

O Datafolha mensurou a opinião dos brasileiros em relação à atuação do presidente da República no tema: 58% creem que Bolsonaro age para atrapalhar a vacinação de crianças e 25% acreditam que seja para ajudar. Mas 14% não souberam responder, e outros 2% não vinculam Bolsonaro.

Tal percepção sobre o presidente se reflete, evidentemente, na avaliação do governo. Outras duas pesquisas trouxeram novos índices. O cenário segue de estabilização da aprovação e da reprovação, em patamares baixos e altos, respectivamente.

As últimas seis rodadas da pesquisa Ipespe mostram a reprovação ao governo Bolsonaro oscilando entre 54% e 55% da população. Já o levantamento do Ideia Big Data trouxe o número de 52% — desde julho de 2021, a soma dos que apontam o governo como ruim ou péssimo fica entre 51% e 53% dos brasileiros. O Datafolha não divulgou, até o momento, dados além da percepção sobre a pandemia.

As pesquisas dão pistas sobre a composição desta rejeição. Segundo o Ipespe, 57% dos brasileiros avaliam a atuação de Bolsonaro durante a pandemia como ruim ou péssima, números semelhantes aos de sua avaliação de governo (considerando a margem de erro).

Sem abordar a pandemia em seu levantamento, o Ideia Big Data faz uma pergunta direta: o presidente merece ser reeleito? Para 64%, Bolsonaro não merece mais um mandato. Há percepção majoritária de que o governo é desastroso no combate à pandemia, que mais atrapalha do que ajuda, o que se potencializa com o descalabro econômico — segundo o Ipespe, 66% dos brasileiros percebem a economia no rumo errado.

O negacionismo do presidente, de seus asseclas e de seus apoiadores contrasta com a confiança dos brasileiros na vacinação e na ciência. O povo brasileiro não é negacionista.

Neste contexto, as pesquisas continuam demonstrando o favoritismo de Lula (PT) nas eleições presidenciais. Segundo o Ipespe, desde setembro a intenção de voto no ex-presidente segue num patamar entre 42% e 44% dos brasileiros. Enquanto isso, Bolsonaro caiu de 28% para 24%, o que coincide com a entrada de Sergio Moro (Podemos) — o ex-juiz foi de 11% a 9% desde novembro.

Ciro Gomes (PDT), que outrora chegou a ter 11%, agora tem 7%, e João Doria (PSDB) caiu de 5% para 2%. A pesquisa Exame/Ideia traz números semelhantes: Lula tem 41% de preferência e Bolsonaro, 24%. Moro tem 11%. Ciro, 7%, e Dória, 4%.

Ambas confirmam a larga vantagem de Lula contra seus concorrentes nas simulações de segundo turno. Segundo o Ipespe, 25 pontos percentuais separam Lula de Bolsonaro em um eventual confronto — 56% a 31%). O ex-presidente tem vantagem de 19 pontos contra Moro. De acordo com o Ideia, a vantagem de Lula para Bolsonaro é de 16 pontos — 49% a 33% —, e contra Moro, o petista teria 17 pontos de dianteira — 47% a 30%.

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