Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu da prisão, em novembro de 2019, as forças políticas de direita tentaram criar um clima de que ele estaria contaminado por sentimentos de revanchismo, raiva e vingança. Mas, na histórica entrevista no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Lula mostrou o contrário. O que assistimos foi a força de um estadista, generoso, de peito aberto, sem rancores e com as qualidades enriquecidas pelo tempo de cárcere injusto, como aconteceu com Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e outros gigantes da história.

Já no pronunciamento aos veículos da mídia independente, na última, Lula consolidou o avanço da sua vitória nas eleições presidenciais de outubro. Primeiro, porque o PT se fortaleceu. Há um sentimento popular de que, assim como Lula, o PT foi perseguido e que os erros são menores do que a contribuição histórica do projeto ao país. Por isso, o PT é o preferido de 28% dos eleitores, enquanto outros aparecem com apenas 2%.

O PT também retomou a vitalidade de ações, de formulação e de discussões. A Fundação Perseu Abramo, por exemplo, possui, há cinco anos, 25 Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas, formados por ex-gestores, ex-ministros, pesquisadores e líderes em todas as áreas estratégias do Estado. Da mesma forma, as setoriais do PT acabam de eleger por meio do voto direto novos secretários e coordenadores.

Lula mostrou consciência da necessidade de ampliar as alianças do campo democrático. E sinalizou disposição ao diálogo e na construção de uma campanha com forças políticas e lideranças mais amplas do que no cenário anterior, isolando a extrema direita autoritária, anticivilizatória e obscurantista. A reconstrução do Brasil exigirá a derrota do golpismo e o esforço de construção de pontes com forças democráticas para além do PT.

É nesse sentido que Lula tem buscado um entendimento com o PSDB histórico, no qual Mário Covas foi grande expoente. É fato que, desde a redemocratização, o PT e o PSDB sempre disputaram e tiveram divergências programáticas importantes, especialmente com a adesão dos tucanos à agenda neoliberal e ao Consenso de Washington. Entretanto, essa disputa sempre foi balizada pelo respeito à democracia, ao reconhecimento do resultado as eleições, sendo que os que atuavam como oposição eram fiéis aos seus programas e compromissos, mas valorizavam e respeitavam a soberania do voto popular.

Esse entendimento foi rompido nas eleições de 2014, quando o candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves, foi um dos protagonistas do golpismo e subiu à tribuna do Senado Federal para dizer que a então presidenta eleita Dilma Rousseff não governaria. O resultado do Golpe de Estado de 2016 foi a retirada de direitos e a ascensão do bolsonarismo, apoiado, inclusive, por setores do PSDB, que fizeram a campanha de Bolsonaro, em 2018, e rifaram Geraldo Alckmin. Entretanto, há setores do PSDB histórico e democrático que não se renderam ao bolsonarismo e com o qual precisamos dialogar.

A atração de Geraldo Alckmin promovida por Lula para o nosso projeto também pode ser decisiva para a eleição de Fernando Haddad em São Paulo. Neste caso, uma vitória nacional com ampla vantagem de votos e a conquista do governo do estado de São Paulo pela primeira vez na história significariam um imenso deslocamento na correlação de forças, considerando o peso econômico e político do estado.

Mas, conforme Lula consolida sua vitória e amplia a vantagem em todas as pesquisas, há um esforço hipócrita dos conservadores de tentar separar Lula e o PT. Lula é o grande construtor e principal líder do PT e o partido sempre esteve ao lado do ex-presidente, inclusive nos momentos de maior dificuldade, tendo sido a coluna vertebral dos governos Lula.

O partido tem história, marcas, cicatrizes e um profundo compromisso democrático. O PT está consciente de que a força da base e a mobilização popular serão fundamentais para colocar novamente os pobres no orçamento, taxar com progressividade a renda e a riqueza, enfrentar a fome, a pobreza, a precarização do mundo do trabalho e, sobretudo, a brutal desigualdade social. Por isso, estamos consolidando uma agenda que trata dos problemas reais do povo, construindo medidas emergências e estruturais que promovam a reconstrução e a transformação do Brasil. É por isso também que Lula avança! •

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