Brizola continua a ser inspiração
Muitos aspectos podem ser lembrados da ação política de Leonel Brizola. Coerência? Claro, sempre foi sua marca. Coerência era a retidão de vida de Brizola, o que o fazia respeitado, mesmo em meio a tanta polemica em que mergulhava.
Nunca procurou enganar ninguém, nunca aderiu às palavras fáceis. Sempre na procura de expressar o seu sentimento, nunca ocultá-lo, distanciava-se dos hábitos corriqueiros dos políticos menores. Coerência como questão central, não apenas decorrente de manifestações passageiras.
Coragem? Coragem cívica o distinguia. Como na decisão de expropriar as multinacionais de eletricidade e de telefonia, que sufocavam a economia gaúcha. Dominavam as concessões, mas não investiam, não expandiam, impediam a industrialização e o desenvolvimento da economia.
O exemplo mais vivo foi a rebelião que Brizola liderou pela posse de Jango, enfrentando as cúpulas das Forças Armadas. Sua coragem encontrou eco no povo brasileiro, que soube mobilizar, e que esteve ao seu lado. Venceu com a marca da coragem. Demonstrou coragem ao ficar contra a derrubada de Fernando Collor, que rompia sua investidura popular. Pagou preço elevado, mas a derrubada da Dilma mostrou que tinha razão.
Mas a melhor característica era ser portador de um pensamento. Brizola tinha pensamento político, o que o diferenciava de tantos do seu tempo e de hoje em dia.
Brizola era trabalhista, que na política brasileira ligava-se ao nacionalismo. As correntes mais autenticamente nacionais, mais enraizadas no povo brasileiro. O trabalhismo forjou-se no Brasil de maneira bem diversa das correntes europeias, assumindo fisionomia própria. Diferenciou-se do que se denominava socialismo ou social-democracia.
O próprio Brizola dizia que o seu pensamento ficou definido quando ele via nas ruas os operários e gente do povo defender a legislação do trabalho e os direitos do povo. Aquela era a gente com quem se identificava, diferente em boa parte do que ele via em outras áreas.
Brizola ligava-se ao sentimento de pátria, de brasilidade. Compreendia a situação em que o Brasil foi colocado ao longo da história, de maneira marginal. Reclamava que que os grupos econômicos e os países centrais não tinham o direito de se apropriar de nossas riquezas. Sempre clamou para que a política brasileira enfrentasse os interesses internacionais.
Sua paixão pela educação era solidariedade ao povo brasileiro e a visão superior do Brasil. Em Brizola, o trabalhismo e o nacionalismo se misturavam, como da tradição brasileira.
Brizola, hoje, estaria ao lado de Lula, sem dúvida. Sendo homem de pensamento, sendo trabalhista e nacionalista, não titubearia em ver que o único político no Brasil, hoje, que abraça as causas trabalhistas é o Lula.
Assim como o PT é o partido que mais defende a legislação trabalhista, a Previdência e as estatais estratégicas. Como sempre o fez, Brizola estaria junto na luta pela derrubada de tudo o que se abateu sobre o Brasil.
Talvez a coisa mais marcante dos 100 anos seja constatar que brizolismo e lulismo hoje se confundem. •