Na Argentina, Lula mostra o caminho da retomada
A viagem do presidente Lula à Argentina é um reencontro do maior líder popular da América Latina com um povo que lhe ama e com quem ele tem relação histórica de afeto, admiração e parceria. Em 2002, quando venceu a eleição no Brasil, a Argentina foi o primeiro país visitado por Lula, antes mesmo de sua posse e da histórica viagem aos EUA, quando anunciou ao mundo que o Brasil iniciava uma nova etapa da sua trajetória e de seu papel no cenário internacional.
O líder operário, metalúrgico brasileiro, nunca escondeu seu apreço pelo povo argentino. Sua paixão por tudo que faz, sua capacidade de emocionar e fazer do coração a bússola de sua conduta encanta Lula, que em certa medida se enxerga no povo vizinho. Sua admiração por Maradona, pelo Papa Francisco, Néstor e Cristina Kirchner pavimentaram os caminhos para essa sólida amizade com Alberto Fernández, reforçada pela coragem do atual presidente argentino, que mesmo durante a duríssima campanha eleitoral que enfrentou, fez questão de visitar Lula em Curitiba (PR) em um dos momentos mais difíceis das injustiças patrocinadas por Sérgio Moro e a Lava Jato.
Lula sempre teve muito claro o papel estratégico e decisivo do Brasil para a possibilidade de uma mudança estrutural nas condições econômicas políticas e sociais da América do Sul. Em várias oportunidades, fez questão de ressaltar que nunca pensou um projeto de desenvolvimento e justiça social sem que os países vizinhos tivessem oportunidade de crescer junto, criar oportunidades, distribuir renda e proporcionar políticas de inclusão das camadas mais humildes, há tantos séculos vítimas da desigualdade e da injustiça estrutural que marcou a formação econômica da América do Sul — portuguesa e espanhola.
Durante seu governo, em que pese os esforços no sentido de fortalecimento dos BRICS, da presença ativa no G8 e no G20, Lula dedicou um tempo precioso para o fortalecimento do Mercosul e da Unasul. A década em que Lula presidiu o Brasil, foi, sem dúvida, o período mais importante e transformador em toda a história do continente. Todos os estudos realizados revelam que foi nesta década que a desigualdade foi mais combatida na América do Sul, possibilitando políticas de inclusão, distribuição de renda e combate à fome.
Lula no Brasil, Kirchner na Argentina, Tabaré Vázquez e Mujica no Uruguai, Rafael Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Lugo no Paraguai e Chávez na Venezuela possibilitaram um momento de afirmação de projetos nacionais e de rompimento da relação histórica de submissão aos interesses norte-americanos no Cone Sul. Este movimento provocou marcas profundas e irreversíveis, especialmente no sentimento de pertencimento, de soberania e de certeza de que os países sul-americanos, unidos, possam formar um bloco econômico e político capaz de mudar a realidade secular.
A presença de Lula na Argentina, o maior parceiro comercial do Brasil no Cone Sul, é, na realidade, um reencontro do líder brasileiro com seus compromissos com a América do Sul como um todo. O desejo de pensar um projeto de desenvolvimento para o Brasil, que seja também uma oportunidade de mudanças estruturais em toda a região e o fortalecimento de parcerias econômicas e culturais.
O Brasil, como principal força econômica e política do continente, durante o governo de Bolsonaro, virou as costas para Argentina, para seus países vizinhos e aprofundou a subserviência aos interesses norte-americanos. No período mais crítico da pandemia, tratou com desprezo os irmãos sul-americanos, enquanto reafirmava, de forma permanente, sua sabujice e disposição de cumprir um papel de capitão do mato dos interesses dos EUA na região. Lula faz exatamente o contrário — abre os braços e reafirma de forma pública o seu entusiasmo em promover esse reencontro.
Lula foi recebido na Argentina como chefe de Estado, as manifestações de carinho de apreço e de afeto nos locais onde o líder circulou, permitem com que ele agradeça a solidariedade do povo argentino, principalmente dos trabalhadores e trabalhadoras, do governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner e de suas bancadas parlamentares, que sempre se manifestaram em sua defesa no período em que foi perseguido pela Lava Jato e por setores da mídia tradicional.
Após sua viagem para a Europa, onde demonstrou que o Brasil pode retomar seu espaço e protagonismo no cenário internacional, tão prejudicado a partir do golpe contra Dilma Rousseff e pela desastrosa gestão de Bolsonaro, a presença de Lula na Argentina tem por objetivo mostrar que o projeto pensado para o Brasil não é individual. O Brasil pós-Bolsonaro é pensado sob a ótica de fortalecimento regional e um intenso processo de mudanças estruturais na América do Sul. •