Líder nas pesquisas, o ex-presidente é esquecido pela grande mídia. Não adianta. Segundo a Quaest, ele tem 56% no primeiro turno, e 30 pontos de vantagem para Bolsonaro em um eventual segundo turno

 

Dois temas conjunturais mantêm relação direta com os dados de pesquisas mais recentes. Por um lado, o contraste entre o desempenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos cenários eleitorais e sua potente agenda de reuniões com líderes europeus com a cobertura dada pela imprensa brasileira. De outro, as dificuldades que Jair Bolsonaro (sem partido) enfrenta na tentativa de se reeleger presidente.

Nos últimos dias, Lula foi aplaudido de pé no parlamento europeu, foi recebido com pompas e louvor pelo presidente francês Emmanuel Macron e debateu os principais temas globais da contemporaneidade — desigualdade, fome, crise climática e desenvolvimento — com líderes das grandes potências europeias em momento pós-Cop26 e G20.

Nos últimos meses, ressaltamos aqui em artigos e boletins que o ex-presidente é líder absoluto das pesquisas, com diversos levantamentos indicando possível vitória dele ainda no primeiro turno. Ele é, ainda, o candidato com maior possibilidade de derrotar o nefasto governo antidemocrático e negacionista de Jair Bolsonaro nas urnas. Mas sua força não se limita apenas a esse fator. Lula venceria todos os outros candidatos em segundo turno e não depende de Bolsonaro para ter força eleitoral.

De acordo com a última pesquisa Quaest, Lula tem 56% dos votos válidos no cenário de primeiro turno e 30 pontos percentuais de vantagem para o atual presidente em uma possível disputa de segundo turno. Já a Vox Populi aponta que Lula mantém o patamar entre 44% e 45% dos votos totais tanto em simulação de primeiro turno com Bolsonaro, quanto na simulação que exclui o atual mandatário. Neste caso, seus votos se dispersariam entre outros candidatos, como Sergio Moro, e votos em branco ou nulos e indecisos.

Todos esses aspectos não foram suficientes, no entanto, para que a agenda diplomática de Lula ganhasse o merecido destaque no noticiário nacional. Alguns poucos comentários quase tímidos se viram nos canais fechados de notícias e na mídia impressa.

O fato destoa da cobertura in loco das prévias do PSDB – partido que obteve apenas 4% dos votos nas eleições de 2018 e pontua nesse mesmo patamar nas pesquisas mais recentes. Segundo a Quaest, João Dória tem 2% das intenções de voto e Eduardo Leite vem com 1% nos respectivos cenários que testam os nomes tucanos. Notamos, também, a diferença da cobertura jornalística da possível candidatura de Sérgio Moro à Presidência da República em capas de jornais, revistas e em longas matérias na TV aberta,  para além de debates exaustivos nos canais fechados.

 

Os obstáculos para Bolsonaro

Os dados levantados pelas pesquisas e a própria conjuntura econômica trazem muitas  dificuldades para o atual presidente na busca por sua reeleição. Para além da momentânea ausência de filiação partidária – que pode se resolver a qualquer momento com a possível entrada do clã Bolsonaro em algum partido do chamado Centrão, o presidente terá que reverter a baixa popularidade de seu governo e o desastre econômico que assola o Brasil.

De acordo com os últimos levantamentos — destacados nos recentes artigos para a Focus Brasil —, a economia torna-se o principal problema para os brasileiros à medida que a vacinação avança e o temor com a pandemia regride.

Segundo o levantamento da Quaest, 48% dos brasileiros consideram que o principal problema do Brasil é econômico, 17% veem a pandemia e a saúde como grandes problemas e 13% enxergam problemas sociais como principais — a maior parte menciona a fome e a miséria. A aprovação de Bolsonaro está em um patamar por volta de um quinto da população, enquanto a reprovação a seu governo chega a 56%.

Do ponto de vista das intenções de voto, nas simulações de primeiro turno, Bolsonaro alcança números parecidos com sua aprovação de 21%. Além de estar muito atrás de Lula, ele passa a sofrer com outra concorrência, Sérgio Moro. A entrada do ex-ministro da Justiça nas simulações eleitorais causou uma queda de 5 pontos percentuais na intenção de voto a Bolsonaro. O ex-juiz tende a disputar o mesmo eleitorado que seu ex-chefe.

O governo parece saber de tais limitações e aposta em mecanismos obscuros de troca de apoio parlamentar por parcelas dos recursos orçamentários, as tais emendas do Orçamento Secreto. Tenta, com elas, garantir apoio eleitoral de parlamentares em suas bases regionais. Procura, ainda, emplacar um auxílio temporário substituto ao sólido e internacionalmente reconhecido Programa Bolsa Família, uma marca própria visando recuperar apoio de parcela da base da pirâmide, como fez com o auxílio emergencial em meados de 2020.

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