Em meio à crise, uma viagem a Paris
Ministro da Educação cumpre agenda na Europa, após debandada no Inep. E não se manifestou sobre a crise no Inep, cujo presidente foi à Câmara e desconversou
Desde o início da semana, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, está em Paris para participar da 41ª Conferência Geral da Unesco. Ele fica na capital francesa até domingo, 14, segundo a agenda oficial, apesar da crise que assola o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), às vésperas da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para acontecer nos dias 21 e 28 de novembro.
Na quarta-feira, 10, ele foi um dos oradores da conferência e discursou sobre alguns programas do Ministério da Educação, citando as dificuldades de retomada do ensino após a pandemia de Covid-19 no Brasil. E, na cara dura, Ribeiro pintou um quadro fantasioso, dizendo que o governo tem compromisso com o ensino.
“Permitam-me, assim, reafirmar com veemência o compromisso do governo brasileiro com a superação de todos os desafios atuais e históricos da educação, ao lado da Unesco, cuja presença em meu país é tradicionalmente forte”, discursou. Parecia pintando um quadro de idealismo do governo, esquecendo de dizer que, com Bolsonaro no Palácio do Planalto, a educação vem sofrendo cortes no orçamento, ano após ano. Apenas em 2021, foram retirados 3,2 bilhões do orçamento do MEC.
A ausência do ministro durante a semana em Brasília ocorreu em meio à crise do Inep, com 35 funcionários pedindo exoneração coletiva. O pedido de exoneração coletiva fez com que um grupo de deputados apresentasse requerimento de convocação do ministro à Comissão de Educação da Câmara.
Em depoimento na Câmara, o presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro, desconversou sobre a crise. Disse que “está tudo tranquilo” na instituição e que “eventuais descontentamentos de servidores” serão resolvidos com diálogo. As declarações do dirigente do Inep provocaram a indignação de parlamentares da bancada do PT na Câmara.
Ao se dirigir ao presidente do Inep, o deputado Rogério Correia (PT-MG) lembrou que servidores denunciaram a imprensa que devido ao assédio moral na instituição, “o medo é a tônica na instituição”. Segundo o petista, por mais que Danilo Dupas diga que está tudo bem, “não é possível que mais de 30 servidores tenham pedido demissão à toa”.
“O senhor (Danilo Dupas) me lembrou o comandante do Titanic, que bateu na geleira, estava afundando e o capitão pediu calma e disse que estava tudo sob controle”, ironizou. O deputado Leo de Brito (PT-AC) cobrou que as denúncias sejam investigadas. “Temos que ir até os órgãos de controle para investigar esse caso”, declarou.