O ministro que deveria valorizar a moeda do país fica mais rico toda vez que o real se desvaloriza. É uma imoralidade absurda. Como ele e Roberto Campos Neto, que também tem conta em paraíso fiscal, têm recursos milionários lá fora?

 

 

A imprensa brasileira, como sempre, abafa ou minimiza escândalos envolvendo neoliberais que têm como meta a destruição ou venda de empresas públicas e estatais a preços irrisórios para enriquecer ainda mais as elites rentistas nacionais e estrangeiras. É o caso da denúncia envolvendo o ministro da economia, o pinochetista Paulo Guedes, detentor de uma conta offshore no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe. “Apenas” US$ 9,54 milhões, cerca de R$ 54 milhões. Sem pagar um centavo de imposto.

O ministro offshore ganhou mais de R$ 1 milhão nas últimas semanas com a desvalorização do real, graças a sua política econômica desastrosa que deixa o Brasil a reboque dos especuladores, empobrecendo cada vez mais a classe médias e os trabalhadores. O escândalo ou não teve cobertura dos órgãos tradicionais da imprensa ou foi minimizado e agora evaporou. Talvez porque os barões da mídia tenham também suas contas offshore ou queiram expressar solidariedade a 60 mil brasileiros que têm bilhões de reais em contas no exterior, nem sempre declaradas ao fisco.

Guedes, que fala grosso com os pobres e o funcionalismo público, demonstrou covardia ao fugir do tema e não dar explicações sobre como mandou essa dinheirama para sua conta secreta. Mas a misteriosa conta terá de ser explicada na Câmara em novembro, possivelmente em sessão conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Controle e a de Trabalho, Administração e Serviço Público.  Há também convocação para que preste esclarecimentos no plenário, diante da comissão geral.

Triste sina do Brasil sob o governo Bolsonaro. O ministro que deveria valorizar a moeda do país fica mais rico toda vez que ela se desvaloriza. É uma imoralidade absurda. Como ele e seu colega do Banco Central, Roberto Campos Neto, outro com conta em paraíso fiscal, têm recursos milionários lá fora? Têm informações privilegiadas, podendo, inclusive, interferir na política cambial e beneficiar-se das decisões que tomam.

Pior. Como pretendem atrair investimentos, se eles mesmos têm uma fortuna e não investem no território nacional? Como Guedes pretende querer que os brasileiros paguem impostos, se ele mesmo recorre a um paraíso fiscal para sonegar? Como vai estimular a geração de emprego, se o seu próprio exemplo é de especulação? Como pretender que o Brasil tenha credibilidade, se nem ele, que é o ministro da Economia, acredita no país e esconde seu dinheiro num paraíso fiscal usado pela escória do planeta?

As contas de Guedes e Campos Neto nas Ilhas Virgens Britânicas são ilegais, imorais e violam o Código de Conduta da Alta Administração. Ambos praticam descaradamente o autofavorecimento, enquanto a economia brasileira desce a ladeira

Na Câmara, o ministro offshore terá que explicar ao povo brasileiro de onde saiu esse dinheiro e como foi parar numa conta escondida no Caribe. No início de outubro, estimou-se que, desde que assumiu o cargo, ele ganhou cerca de R$ 420 mil mensais por mês por conta da desvalorização do real. Com o governo militar liderado por Bolsonaro, o real perdeu mais de 40% de seu valor perante o dólar.

A dolarização que enriquece Guedes é o desastre diário enfrentado pelo povo brasileiro. Os alimentos e combustíveis sobem, o dragão da inflação voltou, os salários estão congelados, direitos trabalhistas e sociais são desmantelados, o desemprego campeia.  A economia real, que gera empregos e renda, está longe do radar do governo Bolsonaro.

Curiosamente, o mesmo ministro da offshore um dia chamou funcionários públicos de parasitas e quer impor uma ‘’reforma administrativa’’, com a chamada PEC 32, que demole o serviço público brasileiro. Sigmund Freud tratava dos chamados atos falhos. Talvez tenha sido o caso de Guedes, ao usar a palavra parasita, já que seu enriquecimento diário com a desvalorização do real deixa claro quem é que suga recursos do povo brasileiro.  É inaceitável sua continuidade no cargo. A hipocrisia de certa parte da elite brasileira que trata o caso com desdém equivale a dizer que o crime compensa.

`