Ciro Gomes, João Doria e Eduardo Leite continuam atrás na corrida presidencial, enquanto Lula está à frente, com dianteira entre 23 e 40 pontos percentuais, em relação ao candidato do PDT e aos tucanos

 

A menos de um ano das eleições presidenciais de 2022, as pesquisas apontam grande vantagem do ex-presidente Lula da Silva (PT), com possibilidade de vitória no primeiro turno, e uma dificuldade de diversos pré-candidatos em se aproximar de Jair Bolsonaro (sem partido), o segundo colocado.

É o que o NOPPE (Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo) tem mostrado em seus boletins e nos artigos publicados na Focus. Nos editoriais de grandes veículos de comunicação e em entrevistas de representantes do dito ‘mercado’, no entanto, ainda se aposta – com ar de clamor – no sucesso de um candidato capaz de romper a dita ‘polarização’ entre Lula e Bolsonaro, o que tem se chamado de ‘terceira via’ eleitoral.

Neste artigo, fizemos uma breve análise sobre o tema, com foco em três nomes que postulam o Planalto: o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) e os governadores João Doria Jr. (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS). Os três pré-candidatos partem de um discurso em comum: afirmam que Lula tem sua força eleitoral escorada em uma rejeição a Bolsonaro que, se retirado do segundo turno, abriria o caminho para que um terceiro vença o ex-presidente.

Os tucanos se colocam como moderados e liberais de centro e contam com a contumaz simpatia de parte do mercado financeiro e do empresariado brasileiro. Em meio às prévias do PSDB, acusam um ao outro de ter dado as mãos a Bolsonaro no pleito anterior – ambos apoiaram o extremista Bolsonaro nas eleições de 2018 e se beneficiaram da onda bolsonarista naquela ocasião.

Os grandes meios de comunicação cobrem as prévias do partido com um fervor que destoa dos 4% de votos que teve na última eleição presidencial. O Globo chegou a fazer um debate entre os postulantes às prévias do PSDB, com farta propaganda e até brinde a quem assistisse, enquanto o Estadão publica editoriais clamando por unidade dos liberais em torno de uma candidatura. Apesar de todo esse esforço, os dois governadores seguem estacionados nas pesquisas com números similares aos obtidos por Geraldo Alckmin (PSDB) em 2018.

Doria alcança no máximo 6% na pesquisa Quaest realizada em outubro, e Leite, 4%, no mesmo levantamento. Parecem enfrentar os mesmos problemas de quatro anos atrás: foram abandonados pelo eleitorado mais à direita, que o partido mobilizou historicamente e que recentemente se aglutinou em torno do bolsonarismo. Agora, também veem os dois governadores como inimigos: sobraram entreveros públicos entre eles e Bolsonaro, seja pela Coronavac (grande bandeira de Doria) ou pelas medidas restritivas adotadas pelo paulista e pelo gaúcho durante a pandemia – além de lamentáveis ironias preconceituosas do presidente e seus apoiadores a Leite, pelo fato deste ser homossexual.

Situação diferente vive o pedetista Ciro Gomes (PDT). Terceiro colocado em 2018, aposta tanto no recall eleitoral quanto num rompimento de relações com o PT e Lula para colocar-se como uma via possível do antipetismo, buscando conquistar segmentos arrependidos do voto em Bolsonaro em 2018, ou que votaram no segundo turno daquele pleito.

Sob o mote de um Projeto Nacional de Desenvolvimento, com viés desenvolvimentista, também sinaliza à direita, mas não conta com simpatia dos mercados como os tucanos. Tem espaço no debate público, em especial no mediado pela imprensa empresarial a cada vez que critica Lula e os outros petistas – em tom cada vez mais forte e conspiracionista.

Ciro desempenha melhor que os tucanos e, na pesquisa com resultados mais favoráveis, feita pelo instituto Quaest em outubro, atinge 12% dos votos totais quando compete apenas com Lula, Bolsonaro e Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

Os três nomes parecem disputar votos entre si, não penetrando nas bases de Lula e Bolsonaro. Cenários diferentes trazem resultados parecidos ao ex-presidente e o atual: Lula flutua entre 40% e 48% a depender do levantamento, e Bolsonaro entre 23% e 35%, sem grandes variações na intenção de voto dos outros três candidatos.

No segundo caso, há persistência na intenção de voto a Bolsonaro mesmo em seu pior momento perante a opinião pública, o que torna a aposta dos postulantes – ir ao segundo turno contra Lula –, pouco provável até aqui.

Ao contrário da premissa dos entusiastas da terceira via, levantamentos têm apontado que Lula não está escorado no antibolsonarismo. O ex-presidente tem força própria e seu desempenho é forte contra todos.

Segundo a pesquisa Quaest, Lula tem 38 pontos percentuais de vantagem nas simulações de 2º turno contra Doria, 40 pontos contra Leite e 23 pontos contra Ciro. Ainda segundo a pesquisa Poderdata, realizada no final de setembro, 91% dos brasileiros poderiam votar em Lula e em Bolsonaro, enquanto 9% não votariam de jeito nenhum em nenhum dos dois. Segundo o mesmo levantamento, 6 em cada 10 brasileiros cogitam votar no petista.

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