Os governadores de todos os estados do Brasil e do Distrito Federal estão preocupados com a crise institucional que vem sendo promovida por Bolsonaro e, por isso, se organizam para defender a democracia. Governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias explica a Focus Brasil que independentemente das filiações partidárias, os administradores dos estados e do Distrito Federal estão alinhados quanto à importância da estabilidade e da paz. Articulador do diálogo entre os estados e outros poderes, ele diz que existem tratativas com o Congresso para garantir medidas de proteção social e de defesa do meio ambiente, políticas que vem sendo desmontadas desde o Golpe de 2016.

 

Focus Brasil — Na quarta-feira, governadores assinaram carta em defesa da democracia, compromisso de “proteger a ordem” e de não participar de qualquer ação fora da Constituição. Ao mesmo tempo, a nota conclama a sociedade a defender a legalidade. Qual deve ser a atuação dos governadores nesse contexto de crise?

Wellington Dias — Além da gestão dos estados e DF, nós governadores, a governadora Fátima [Bezerra], temos também uma obrigação política. Representamos uma posição política vinda do povo e, nesse aspecto, o lado destacado é que através do Fórum dos Governadores do Brasil reafirmamos uma posição, que eu diria, quase unânime no colegiado: a defesa da democracia como vital para os avanços que o Brasil teve até agora. E, ainda, a importância da defesa da democracia pensando no presente e no futuro. Significa também a defesa, o trabalho para que a gente tenha o cumprimento da Constituição e das leis. Isso não é só um jogo de palavras. Na verdade, nossa Constituição de 1988, com tudo o que tem de bom e algo que tenha ainda por melhorar, funciona como um manual para a vida, a relação do Brasil com o mundo e sua soberania. A garantia de que a gente tenha ali os direitos individuais, coletivos, a questão social, enfim, e principalmente, a harmonia entre os poderes e ainda o compromisso da democracia que abre possibilidade para cada um dos que nascem no Brasil para desenvolver qualquer profissão. Com certeza, essa posição do Fórum dos Governadores para o momento que a gente vive é fundamental.

 

Para além da esfera federal, temos visto manifestações de policiais militares em apoio à conspiração golpista promovida pelo presidente. Quais são as medidas possíveis para coibir esse tipo de movimento?

— É claro que temos situações muitas vezes de manifestação de policiais aposentados, na reserva. É diferente de quem atua, quem está em atividade. Veja que de forma firme, enérgica, em cada lugar do Brasil, independente de partido, temos tido posições pela garantia do respeito, da disciplina, do cumprimento da Constituição e da lei. E neste aspecto, com certeza, é fundamental para aquilo o que o Brasil mais precisa para a estabilidade, para a confiança, para um ambiente não só de harmonia, mas para que o país possa na relação com investidores, com outras pessoas de outros lugares do mundo e que precisam encontrar aqui aquilo que foi sempre próprio do Brasil, a paz, o respeito ao outro. A segurança dos estados tem um papel fundamental. E vamos cumprir.

 

A partir desse encontro houve uma proposta de uma nova reunião com o presidente. O senhor acredita nessa possibilidade?

— O presidente da República, pelo que foi noticiado nas últimas horas, estaria colocando dificuldades para a agenda. Mas nós colocamos ali uma posição que não é só estratégica, é uma necessidade do Brasil. O país tem um conjunto de problemas. Estamos diante da necessidade de controle da variante Delta. Para isso, [é preciso] mais vacinação. É preciso discutir sobre encurtar o tempo entre 1ª e 2ª dose para que a gente tenha mais vacina para poder, inclusive, aplicar a 3ª dose, principalmente na população com mais de 70 anos. Isso é um tema que diz respeito à vida, é parte do pacto pela vida que buscamos desde o início da pandemia. Mas existem também os efeitos sociais. Pessoas estão passando fome, desempregadas e precisam dessa atenção e de medidas concretas de quem é prefeito, governador e presidente da República. As equipes devem estar integradas com o setor privado, com as igrejas para que possamos dar conta.

É isso o que queremos tratar com o Congresso, o programa voltado para essa rede de proteção aos mais pobres, o auxílio emergencial financeiro, alternativa de crédito para que se possa garantir condição de uma renda permanente. Precisamos garantir, por exemplo, um projeto como outros países fizeram para uma retomada econômica segura na medida em que se avança em vacinas. Os EUA, para citar uma referência muito colocada aqui no Brasil, investiu US$ 1,2 trilhão de dinheiro público no país. O Brasil precisa de medidas para garantir recursos públicos somados aos privados para facilitar a atração de investimentos. A política do teto de gastos não é razoável nesse momento. É preciso garantir que evitemos um desequilíbrio na Federação. Queremos uma reforma tributária, mas que traga mais justiça social. Municípios e estados estão afinados nesse caminho. Agora, estamos dialogando com outras esferas para tirar o Brasil dessa pauta de guerra, aparentemente voltada para as eleições de 2022 e trazê-lo para os interesses do povo brasileiro.

 

Sobre o Consórcio do Nordeste, o trabalho dos estados vem fomentando políticas de proteção social, inclusive no âmbito da pandemia, que não existem por parte do governo federal. Quais são essas políticas?

— No Nordeste temos a crise derivada da pandemia, mas que também é agravada desde o processo de ruptura com a cassação ilegal da presidenta Dilma Rousseff. Desde então, a gente entrou em uma linha de instabilidade, praticamente parando todos os programas sociais que existiam no Brasil. Todas as áreas que são de necessidade do povo foram afetadas. Temos uma rede de proteção com crédito por meio de cartão pelo qual se transfere renda para famílias que estão fora dos programas sociais. Ao mesmo tempo, garantimos comida adquirindo alimentos da agricultura familiar. Agora, temos o auxílio financeiro para órfãos da Covid, o programa Nordeste Acolhe. São crianças e adolescentes que precisam de apoio. Estamos atendendo a necessidade da população com renda e ofício para que renda. •

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