O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu, na sexta-feira, 27, a primeira etapa da jornada pela aliança em favor da democracia e da reconstrução do Brasil. Ele encerrou a caravana que fez ao longo de duas semanas por seis estados do Nordeste. Lula deixou uma mensagem de otimismo e de esperança para o povo. “Hora de ampliar nossas conversas”, disse, após encontros em Fortaleza com os líderes políticos Tasso Jereissati (PSDB), Cid Gomes (PDT) e Eunício Oliveira (MDB), além de representantes do PSol e PCdoB.

“Dividimos uma longa caminhada em defesa de democracia e de um projeto de inclusão. E compartilhamos a preocupação com o momento que atravessa o nosso país”, disse Lula sobre o encontro com Cid Gomes. Sobre a conversa com Jereissati, o ex-presidente reforçou que a democracia é o centro do debate. “Os democratas deste país têm a responsabilidade e o desafio de resgatar a civilidade da política brasileira pelo bem do Brasil”, lembra.

Mas, além dos encontros políticos, não faltou o reencontro de Lula com o povo na passagem pelo Ceará. Em um grande ato com artistas e líderes de movimentos sociais, o ex-presidente ressaltou que o sucesso dos governos do PT se deu em razão de ideias surgidas em conversas com representantes desses movimentos.

“Quero lembrar uma de minhas músicas, que fala de um mistério que existe e que quando derrama suas faíscas, despeja seu trovão, acaba com tudo, modifica tudo que não é certo não. Pavão misterioso é outro pássaro sagrado que Lula também incorpora”, disse o cantor e compositor Ednardo.

Já no Rio Grande do Norte, Lula adiantou que a caravana da esperança é só o começo de uma grande articulação para recuperar o Brasil. “Quero conversar com muita gente e, até o fim do ano, passar por todos os estados. Conversar com empresários, trabalhadores, fazendeiros, trabalhadores rurais, gente comum da sociedade, para construir não uma aliança para ganhar as eleições, mas sobretudo para recuperar o Brasil”, declarou.

Em encontro com dirigentes de movimentos sociais e culturais, Lula, que esteve acompanhado da governadora Fátima Bezerra (PT) e do senador Jean Paul Prates (PT-RN), reforçou, no Dia do Artista, a importância da soberania nacional para o povo brasileiro “andar de cabeça erguida e ter orgulho do chão onde pisa”.

Já na Bahia, encontrou-se com dirigentes de partidos políticos, movimentos sociais e culturais, indígenas e do movimento negro. O primeiro compromisso foi o encontro com o PT e representantes de organizações sociais no ato “Combater a Fome e Reconstruir o Brasil”, na Assembleia Legislativa da Bahia.

Lula lembrou que o país é o terceiro maior produtor de grãos do mundo e não precisa ter o povo passando fome. Ele também lamentou que as mulheres ainda sofram com a violência de gênero. “Sempre falo da minha mãe porque acho que a minha causa é a mesma que a dela. Ela apanhou do meu pai, saiu de casa com oito filhos e ainda pariu um cabeçudinho que virou presidente da República. Ela só queria cuidar dos filhos. E eu quero cuidar do povo brasileiro”, afirmou.

Acompanhado do governador Rui Costa (PT) e dos senadores Jaques Wagner (PT-BA)) e Rogério Carvalho (PT-SE), Lula visitou a Policlínica de Narandiba. Ele afirmou que o Brasil só sairá da atual crise quando começar a discutir seus reais problemas e parar de dar importância às “loucuras” de Bolsonaro.

“O Sete de Setembro é um dia oficial de comemoração e acontece desde a Proclamação da República. O Bolsonaro está tentando tirar proveito. É mais uma bravata. Ele só vive disso”, avalia.

“Ele anda desesperado, inventa história todo dia, conta mentira, faz provocação a tudo e a todos, tenta desacreditar as instituições. Mas nós precisamos nos manter com a cabeça tranquila, preocupados com este país, com o povo, com o emprego, em garantir que a população viva em paz, e não dar muita importância para as loucuras do Bolsonaro, que cai mais em descrédito a cada manifestação que faz”, destaacou.

O último compromisso do ex-presidente em Salvador foi na senzala de Barro Preto, sede do Ilê Aiyê, onde se encontrou com representantes do movimento negro. Em discurso, o petista afirmou que, se eleito, os negros “não serão apenas consultados, mas vão montar a estrutura” do governo. “Daqui para frente, não dá para discutir política nesse país se a gente não colocar na pauta a questão do povo negro, a questão do jovem negro, a questão da mulher negra, se a gente não colocar na pauta a questão dos índios, se a gente não colocar na pauta a questão das mulheres e das mulheres negras, se a gente não colocar na pauta a questão dos LGBTs”, apontou.

“Temos que mudar efetivamente a forma de enxergar as soluções do Brasil, porque toda a estrutura de governança do Brasil e toda a estrutura das instituições foi feita há muitos anos por uma elite, e quando eles fizeram isso só podia votar quem tinha propriedade de terra, salário alto, diploma universitário”, acrescentou.

No encontro, Lula ainda fez um aceno aos religiosos. “Como cidadão brasileiro, tenho minha religião. Todo mundo sabe que sou católico, mas enquanto candidato ou presidente da República, todas as religiões desse país serão tratadas com a maior decência, com o maior respeito e eu jamais, jamais, enquanto governo irei permitir o autoritarismo de uma religião sobre a outra”, explicitou

“Eu não acredito que o genocida [Bolsonaro] seja religioso. Eu não acredite que ele acredite em religião, não acredito que ele acredite em Deus. Deus simboliza o amor, a bondade, a fraternidade, um ser humano carinhoso, e eu não posso admitir que o Deus do Bolsonaro seja esse que nós gostamos e amamos”, disse.

Na passagem pelo Nordeste, Lula visitou ainda Piauí, Maranhão e Pernambuco. A expectativa é que o ex-presidente faça, até o final do ano, uma nova caravana pelos demais estados da região. •

`