A democracia derrota o genocida
O mês de agosto foi contemplado com algumas pesquisas de opinião pública que reforçam tendência de aumento da reprovação do governo Bolsonaro, mostram a valorização da democracia e a rejeição a projetos autoritários ou militarizados. Neste artigo, tratamos de quatro pesquisas de diferentes institutos, propondo um debate sobre seus resultados e suas escolhas metodológicas.
Na pesquisa PoderData, destaca-se o aumento de seis pontos percentuais – desde a última publicação – daqueles que rejeitam o governo, chegando a 64% de reprovação entre a população geral. Foi registrada também queda de três pontos percentuais entre aqueles que aprovam o governo, caindo de 34% para 31%. O segmento que mais rejeita Bolsonaro é o da juventude: 76% da população entre 16 a 24 anos avalia o governo como ruim ou péssimo.
O percentual dos que acham que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve sofrer impeachment saltou para 58%, segundo a mesma pesquisa. É um aumento de oito pontos em relação ao levantamento anterior, realizado no começo de julho. A proporção dos que acham que Bolsonaro deve continuar no cargo caiu 13 pontos percentuais no mesmo período. Passou de 45% para 32%.
O último levantamento da XP/IPESPE mostra que são 54% os que consideram o governo ruim ou péssimo, ante 52% da última rodada — um crescimento dentro da margem de erro. O crescimento na rejeição também é contínuo desde outubro de 2020, quando 31% diziam considerar a gestão ruim ou péssima. Do outro lado, aqueles que aprovam o governo somam 23%. Destaca-se também a insatisfação com a economia. Cresceu quatro pontos percentuais quem avalia mal a condução das políticas econômicas, chegando aos 63% da população.
Com relação à intenção de voto, Lula (PT) aparece com 40% e Bolsonaro com 24% – ambos variando dois pontos em relação à última pesquisa. Lula para mais e Bolsonaro para menos.
A pesquisa publicada pelo Instituto Opinião faz um levantamento sobre percepções da população com relação à democracia e ao desfile militar do governo realizado em Brasília em 10 de agosto.
Entre a população geral, quase 75% acham que democracia é melhor do que qualquer outra forma de governo, 84% rejeitam a volta da ditadura, e 58% acha que Bolsonaro quer implementar uma ditadura no Brasil. Ainda segundo essa mesma pesquisa, quase 60% da população tomaram conhecimento do desfile realizado em Brasília. Entre estes, 46,3% revelam que tiveram mais vergonha que orgulho e 47% acreditam que a imagem do Brasil fica pior no exterior após o evento.
A UERJ e IREE fizeram uma opção metodológica que merece destaque: roteiro semiestruturado em grupos focais com perfil pré-determinado – o que possibilita maior aprofundamento dos temas a serem investigados. Para composição dos grupos, além de contemplar tradicionais variáveis socioeconômicas (sexo, renda, escolaridade, idade, religião, local de residência), utilizaram como variável filtro a escolha do voto em 2018 e o posicionamento em relação ao governo hoje. Assim, participaram dos grupos focais eleitores de Bolsonaro em 2018, mas divididos em dois perfis distintos: os que se arrependeram do voto e aqueles que ainda apoiam o presidente.
Pode-se destacar, como resultados, o fato de que mesmo entre os apoiadores de Bolsonaro, a democracia é considerada um valor, sendo poucos aqueles que se entusiasmam com a intervenção militar – opinião muito restrita aos homens mais velhos. Mesmo assim, há bastante relativização com relação ao que foi o regime militar de 1964-1985. Segundo o relatório da pesquisa, muitos acreditam que Cuba e Venezuela seriam exemplos mais contundentes de ditadura. Para eles, no Brasil, ainda que possa ter havido perseguição à “gente de esquerda”, houve um período que é lembrado por uma maior sensação de segurança.
A publicação mostra também que os militares ainda gozam de bastante prestígio e tem uma imagem bastante idealizada – ainda que, entre os arrependidos do voto, surjam críticas consistentes em relação à capacidade de gestão dos militares (nos grupos focais encomendados pela UERJ e IREE, essa discussão está centrada ao redor da avaliação do general Pazuello à frente do Ministério da Saúde na pandemia).
Entre os apoiadores de Bolsonaro, é forte a ideia de que o presidente não performa bem, porque é impossibilitado de governar — seja pela ação do STF, seja pela pandemia.
Por último, vale destacar que o arrependimento do voto em Bolsonaro em 2018 não garante perspectiva imediata de intenção de voto em Lula. Muitos, no entanto, já consideram a possibilidade de votar no candidato petista em 2022. E, entre aqueles com mais resistência a Bolsonaro, há declaração aberta e entusiasmada com a perspectiva de volta do ex-presidente Lula à frente do governo federal. •