Conselheiro de Biden com Bolsonaro, a tecnologia 5G e a China
A visita do conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, ao presidente Bolsonaro poderia ser vista como parte do necessário diálogo entre países soberanos no afinamento, discussão e conhecimento mútuo das suas estratégias nas diversas frentes do complexo momento geopolítico mundial. Poderia, se tivéssemos no Brasil um presidente que liderasse a sociedade e afirmasse a nossa soberania. Ao contrário, aqui temos um governo cada vez mais submisso aos ditames dos governantes dos EUA e sem qualquer resquício de visão estratégica nacional e soberana. Assim ocorreu com Donald Trump, assim se dá na relação com Joe Biden.
O jornal Folha de São Paulo noticia que o visitante americano e sua comitiva, no melhor estilo do toma-lá-da-cá, ofereceram ao governo brasileiro algo em troca deste impedir que a empresa chinesa Huawei participe da implantação das redes 5G no Brasil.
É sabido que os chineses estão bastante à frente dos americanos e demais países ocidentais no desenvolvimento da tecnologia 5G e que costumam oferecer os seus sistemas a preços bastante inferiores aos dos seus concorrentes. Sabe-se também que essa tecnologia se constitui numa infraestrutura que é a base para um processo disruptivo de transformações econômicas e sociais. Através dela, estão surgindo a indústria 4.0, a agricultura avançada de precisão, carros autônomos, telemedicina de alta complexidade, dentre outros. O Brasil se prepara para a implantação dessas redes de nova geração, através do leilão das frequências adequadas, a ser realizado pela Anatel ainda neste ano.
Alegam os americanos, sem apresentar provas, desde o governo Trump, que os equipamentos chineses dispõem de dispositivos que viabilizam a captura clandestina de informações. Trata-se de argumento estritamente político, usado como arma na guerra que se trava pelo domínio tecnológico e econômico na esfera global.
E o que oferecem ao Brasil os americanos?
Segundo a notícia, Jake Sullivan ofereceu ao governo Bolsonaro, como contrapartida ao impedimento da Huawei no 5G, apoio para que o Brasil se torne um sócio global da Organização do Tratado do Atlântico Norte – Otan. Para tal, o conselheiro americano esteve também com o ministro da Defesa Braga Netto e com o ministro das Comunicações Fábio Faria.
Parece brincadeira, mas não é. Os americanos oferecem aos militares brasileiros, que estão mergulhados até o pescoço no governo Bolsonaro, a oportunidade de conhecer, estudar e até adquirir equipamentos militares por eles fabricados, cujo acesso é exclusivo aos integrantes da Otan. Um atrativo aos militares, mas que nada tem a ver com os interesses estratégicos do Brasil, que precisa de um caminho para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental.
Por outro lado, o eventual bloqueio da Huawei significaria um atraso na implantação das redes 5G, com forte impacto na modernização da economia, pois inevitavelmente geraria um grande e complexo contencioso jurídico. Outro provável impacto, seria o aumento dos custos de implantação dessa tecnologia em decorrência da menor competição e da retirada daquela que pratica os menores preços. Esses aumentos de custos seriam inevitavelmente pagos pelos usuários desses serviços.
Por fim, mas não menos importante, é sempre bom lembrar que a China é o principal importador dos produtos brasileiros e grande fornecedor de produtos industriais ao Brasil. Uma decisão como a sugerida pelos americanos teria forte impacto negativo para a economia brasileira. Já vimos isso, quando o governo chinês reagiu às declarações de Bolsonaro e dos seus filhos sobre a intenção de barrar a Huawei, suspendendo o envio de vacinas e de IFA até que o governo brasileiro mudasse de posição. Um possível alinhamento automático do Brasil aos EUA nessa guerra tecnológica, com certeza trará consequências desastrosas à economia e ao povo brasileiro.
O Brasil é um país de dimensões continentais, de grande população e cuja economia, apesar desse governo desastroso, está entre as maiores do planeta. Precisa de uma política externa que afirme a sua soberania, que afirme a autodeterminação dos povos e que estabeleça relações geopolíticas amplas a partir dos seus interesses enquanto nação.
Temos saudades de uma política externa de outrora, de um Brasil respeitado internacionalmente, com suas posturas ativas e altivas.