Na proposta do governo Bolsonaro de acabar com um programa exitoso e reconhecido como o Bolsa Família e substituir pelo Auxílio Brasil, sem definir a linha de pobreza e o valor dos benefícios, estão embutidas algumas outras medidas, inclusive uma que está na contramão do esforço pela inclusão e pela permanência das crianças mais pobres no sistema educacional. Se aprovada, a proposta irá ampliar a desigualdade social e desmontar os equipamentos públicos do Estado brasileiro que procuraram assegurar uma educação universal.

Por isso, é inacreditável que em um país devastado pelo descontrole da pandemia e pelas crises social e econômica, Bolsonaro ainda tente retirar recursos das prefeituras destinados à educação de crianças carentes. A ideia de criar um voucher pago diretamente às creches privadas nada mais é, na prática, que a privatização da educação infantil.  Essa experiência começou no final dos anos 50, 60, nos Estados Unidos e só 3% da rede americana adotou esta política ultraneoliberal, que foi muito mal avaliada e revista, inclusive em outros países que adotaram essa concepção privatizante.

A verdade é que não há nenhum estudo acadêmico com fundamentação pedagógica que demonstre que o voucher melhorou a inclusão e a qualidade da educação infantil. Nos países que têm os melhores sistemas de educação, a escola é pública. As verbas que eram repassadas diretamente para as prefeituras, agora cortadas por Bolsonaro, constituíam um importante mecanismo de investimento estratégico nas áreas mais carentes do país, ajudando no combate à desigualdade e contribuindo para a universalização da educação.

Os estudos mais importantes e reconhecidos, como o do prêmio Nobel James Heckman, revelam que a educação infantil tem um papel fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças e para redução das desigualdades, com implicações relevantes ao longo de toda a vida escolar, profissional e mesmo adulta.  Deveria estar no topo das prioridades do país, ao contrário de mais esse desmonte e retrocesso patrocinado pelo desgoverno de Bolsonaro.

Precisamos mobilizar forças para que esse mecanismo de ampliação da desigualdade educacional proposto por Bolsonaro e Guedes não conte com o apoio do Parlamento brasileiro. Foi com uma ampla mobilização que derrotamos o governo e aprovamos o Fundeb. Unidos, conscientes e mobilizados também derrotaremos esse grave retrocesso educacional para as futuras gerações.

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