Maio Baiano: Uma história de resistência e luta
É impossível falar do ocorrido no mês de maio de 2001 sem citar o termo violência. E essa tem caráter institucional, ou seja, é praticada contra uma parte da sociedade civil a mando daqueles que detêm o poder, não sendo necessariamente o governo, pago com dinheiro do contribuinte.
Falar do Maio Baiano é falar de um capítulo sombrio da história recente da Bahia e do Brasil, onde a vontade de lutar pelos princípios básicos de justiça e democracia estavam estampados nos semblantes de todos aqueles manifestantes que eu consegui capturar através das minhas lentes. No dia 10 de maio de 2001, ao saber da manifestação pela cassação do então senador Antônio Carlos Magalhães, que teria início na antiga escola técnica da Bahia, me dirigi até o local, para realização de mais uma pauta. Entretanto, algo me dizia que aquele seria um dia descomunal, visto que eu encontrei de 50 a 80 pessoas, na grande maioria, estudantes.
No decorrer da marcha, o que eram cerca de 80 pessoas já havia se tornado mais de 500, e se aproximavam das imediações do estádio da Fonte Nova. Até então, a marcha era pacífica, os manifestantes ecoavam o termo “cassação já”, em referência ao crime de violação do painel do Senado federal, cometido por ACM, presidente do Senado à época. O que era um ato sossegado até então se transformou em um cenário de guerra, quando a manifestação se aproximou da avenida Sete de Setembro, próximo à Casa D’Itália, onde a Polícia Militar do Estado da Bahia estava esperando, com o intuito de combater aquele ato a favor da democracia, prevista na Constituição, por meio do uso da força.
O mês de maio tem no dia 16 a confirmação da brutalidade de uma instituição pública que é paga para defender a população como um todo, mas que foi usada pelo Estado para combater uma ação democrática do povo. Essa atrocidade pode ser comparada com a ocorrida nos 500 anos do Brasil, em Porto Seguro.
Quando os estudantes chegaram até a UFBA, campus do bairro do Canela, eles foram encurralados por incontáveis soldados da PM, que tinham a ordem de não permitir que os manifestantes chegassem até a casa de ACM, localizada no bairro da Graça. Nem mesmo uma ordem judicial de desocupação fez com que os PMs deixassem as dependências da universidade. Depois de um tempo de resistência por parte dos manifestantes, que exigiam seu direito de ir e vir, o comando geral da PM ordenou o fim geral do ato, aí então, os polícias que ali estavam, passaram a efetuar disparos com arma de borracha, acionar bombas de efeito moral em todos aqueles que ousassem passar pelo local. Toda essa ação foi ordenada pelo então governador César Borges.
Não conformada com tamanha violência, a PM baiana, comandada pelo major Castro, avançou com seus homens até chegar ao pavilhão da Faculdade de Direito. Lá, os policiais atiraram dezenas de granadas, fazendo ainda mais vítimas, mesmo com todos os apelos feitos pelos professores e funcionários que ali estavam. Uma cena me marcou, um jovem, menor de idade, teve ferimentos brutais por todo o seu corpo por conta da explosão de uma destas bombas.
Na Bahia, a democracia passa de fato a se mostrar sabotada em episódios como esse, onde desde a promulgação da Constituição de 1988, o regime ditatorial ainda demonstra resquícios de sua existência dentro de instituições públicas, como é o caso da Polícia Militar, que nesse caso foi usada como braço de força a serviço de velhos coronéis e pessoas com poder dentro da política baiana contra o seu povo.
Em resumo, o ocorrido no Maio Baiano pode ser considerado um marco democrático, visto que foi a primeira derrota imposta a essas forças do atraso que ainda fazem morada no Estado e se disfarçam de democratas. O movimento civil organizado deu uma verdadeira aula de resistência, respeito e amor pela liberdade e pela democracia.
O que começou com cerca de 80 estudantes, resultou em uma outra grande manifestação no dia 30 de maio, para comemorar a renúncia de cargo do senador fraudador, Antônio Carlos Magalhães.
Wandaick Costa é repórter fotográfico
16 de maio de 2001- Campus da UFBA, Faculdade de Direito
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16 de maio de 2001 – Confronto no campus da UFBA/Vale do Canela
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No confronto desigual, estudante devolve bomba de gás arremessada pela PM dentro do pavilhão, onde havia aula
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10 de maio de 2001 – Avenida Sete de Setembro/Casa D’Italia. Agressão a estudante de Jornalismo.
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16 de maio de 2001 – Clínica São Marcos, Bairro da Graça. Estudante é atingido por uma granada lançada pela PM na manifestação
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Oficial da PM, portando um bastão, se incomoda com o sorriso de um estudante, o agride sem justificativa e o leva preso
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10 de maio de 2001 – Avenida Sete de Setembro/Casa D’Italia. Transeunte é agredido brutalmente por um oficial da PM enquanto passava pela avenida
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PMs encurralados por manifestantes são recebidos a pau e pedra, após atirarem bombas de gás e bala de borracha em estudantes e funcionários da UFBA no Vale do Canela
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16 de maio de 2001 – Campus da UFBA/Faculdade de Direito. Estudante é agredido e preso
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16 de maio de 2001 – Estudante é ferido por estilhaços de granada e por tiro de bala de borracha dado pela PM
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16 de maio de 2001 – Estudante de 14 anos é ferido brutalmente por estilhaços de granada lançada por PMs em invasão do campus da UFBA / Vale do Canela
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16 de maio de 2001 – Estudante de 14 anos é ferido brutalmente por estilhaços de granada lançada por PMs, em invasão do campus da UFBA/Vale do Canela
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16 de maio de 2001- Prisão de estudante e agressão a manifestantes no campus da UFBA
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16 de maio de 2001 – Agressão a manifestantes por PMs com bombas de gás, granadas e tiros de balas de borracha no campus da UFBA
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10 de maio de 2001 – Estudantes das escolas particulares de Salvador aderem às manifestações e gritam “cassação já” na rua Carlos Gomes
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16 de maio de 2001- Barricada da PM impede a circulação de todos no Vale do Canela, na subida para o pavilhão da Faculdade de Direito
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16 de maio de 2001- Manifestantes fazem protesto contra a ocupação e bloqueio da PM no campus da UFBA/Vale do Canela
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16 de maio de 2001- Bloqueio total da PM no campus da UFBA/Vale do Canela
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16 de maio de 2001- Manifestação pacífica com bloqueio da PM no campus da UFBA/Vale do Canela
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Avenida Sete de Setembro/Casa D’Italia. Estudantes das escolas particulares e públicas em resistência pacífica à ordem de dissolução da passeata
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10 de maio de 2001 – Estudante secundarista contra tropa de choque da PM na avenida Sete de Setembro/Casa D’Italia
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10 de maio de 2001 – Prisões e agressões a manifestantes que foram espancados pela PM na avenida Sete de Setembro/Casa D’Italia
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10 de maio de 2001 – Estudantes no bairro dos Barris seguem em direção à avenida Sete de Setembro/Casa D’Italia
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