Posse do presidente eleito foi parte da agenda do 17º Encontro Nacional do PT, realizado em Brasília entre os dias 1 e 3 de agosto

Edinho Silva discursou em cerimônia de posse que contou com a presença de personalidades importantes do Partido dos Trabalhadores, como o presidente Lula, Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, ministros de Estado, deputados e vereadores, além dos novos dirigentes do partido que também foram empossados na data.

Confira abaixo o vídeo e a transcrição do discurso do novo presidente nacional do PT, Edinho Silva.

Transcrição na íntegra:

“Gratidão por essa saudação, gratidão por todo o apoio, por toda a solidariedade nesse processo que nós construímos juntos. Eu quero agradecer a vocês que estiveram comigo nos 22 estados que eu visitei do nosso país. Estiveram comigo debatendo, dialogando, o que fez com que nós construíssemos o maior PED da história do nosso partido, com 547 mil filiados fazendo a opção, escolhendo as nossas novas direções.

Fica aqui registrada a minha gratidão, saudando as delegadas e delegados, a nossa militância aqui presente. Quero também saudar os companheiros que compartilharam comigo esse PED, o companheiro Romênio Pereira, Valter Pomar e o Rui Falcão, que propiciaram que nós pudéssemos debater o nosso partido, dialogar sobre o nosso partido e promovêssemos essa festa da democracia interna que é o PED. 

Quero saudar também as mulheres e homens que compuseram a última direção do nosso partido nesse ciclo que se encerra agora, como também saudar as mulheres e homens que vão dirigir o nosso partido nesse novo ciclo, saudando aqui as mulheres e homens que vão presidir os nossos diretórios estaduais, em nome delas e deles, saudar todos os dirigentes dos zonais onde nós temos zonais, regionais onde nós temos regionais, dos diretórios municipais, diretórios estaduais e da nossa nova direção nacional.

Quero saudar o companheiro Paulo Okamoto, que preside a nossa Fundação Perseu Abramo, em nome dele e de todos os demais dirigentes da Fundação. Saudar o companheiro Humberto Costa, que tão bem conduziu o nosso partido no último período e fica aqui o meu registro de gratidão. Saudar também a companheira Gleisi Hoffmann, nossa ministra da SRI e, na minha avaliação, a maior dirigente da história do PT – pelas condições históricas que dirigiu o nosso partido e conduziu o nosso partido ao Lula livre e à eleição presidencial que propiciou que o presidente Lula assumisse a presidência do nosso país pela terceira vez. 

Quero aqui saudar a minha companheira Juliana, quero aqui saudar a minha companheira de partido de militância, Janja. E quero aqui saudar ele que é o motivo de todos nós estarmos aqui – e se me permitem aqui uma deferência, que é o motivo de eu estar aqui, que é o presidente Lula. Na década de 80, eu – no final da minha adolescência, começo da minha juventude, militando na Pastoral da Juventude, no grupo de jovens da periferia de Araraquara, do Jardim Imperador, da Capela Nossa Senhora Auxiliadora – ouvi um líder operário com voz rouca que falava de sonhos, de possibilidades de transformação, que fez com que o meu olho brilhasse para a política. E eu confesso aqui, eu fui primeiro lulista para depois ser petista. Quem me levou à filiação no Partido dos Trabalhadores foi o presidente Lula, foi o líder operário que emergia do ABC –  que na minha avaliação, é o maior líder político da história brasileira. Então, se eu optei pela militância, se eu optei por ser um militante do Partido dos Trabalhadores, foi porque eu fui seduzido pelos sonhos e pela liderança do presidente Lula. Muito obrigado. 

Eu quero aqui também saudar e agradecer todos os representantes de partidos que estão aqui, de delegações internacionais, representantes da diplomacia internacional. E quero pedir licença a vocês para que eu possa saudar a minha família, que também está aqui, saudar a minha mãe, que está aqui com 80 anos, a dona Maria que ajudou meu pai que não está mais entre nós, o Antônio, a criar os filhos, sendo lavadeira, cozinheira e costureira. Então, minha gratidão a minha mãe, aos meus familiares que estão aqui, minha irmã Cidinha, meu filho Pedro, os meus outros filhos não puderam estar, Isabela e João, que estão trabalhando, minha saudação também, minha gratidão pela presença das minhas amigas, meus amigos de Araraquara que estão aqui, e um beijo ao Théo, esse menino que a vida me deu e que eu tenho muito carinho por ele também. Minha gratidão à presença de todas e todos. 

Quero também saudar os ex-presidentes do nosso partido, nosso companheiro Zé Dirceu e Rui Falcão, que estão aqui em nome deles. A todos os ex-presidentes, aqueles que estão entre nós e aqueles também que não estão entre nós. 

Minha saudação às ministras e aos ministros do governo do presidente Lula, aos nossos senadores que estão aqui, às nossas deputadas e deputados federais e estaduais, aos prefeitos e prefeitas, às vereadoras e aos vereadores. 

Companheiras e companheiros, eu vou ser bem objetivo na minha fala, porque a fala mais importante aqui é a do presidente Lula, mas quero utilizar esse espaço para reafirmar os meus compromissos, compromissos que eu construí nos debates do PED. Como eu disse, eu visitei 22 estados de fevereiro a julho, e quero dizer que a partir de segunda-feira construirei as agendas para que eu visite os cinco estados que eu não pude ir durante o PED para que eu conclua esse ano tendo estado em todos os estados brasileiros, tendo dialogado com a nossa militância em todos os estados do nosso país. E dizer aqui que essa não vai ser uma prática apenas do período do PED, eu quero ser um presidente presente na vida do nosso partido, quero viajar o Brasil e quero estar junto com vocês no dia a dia na construção do nosso partido.

Quero dizer que nós assumimos, nós, dirigentes do PT, assumimos a direção do nosso partido no momento histórico mais importante da nossa existência. Eu disse isso por diversas vezes nos estados que eu percorri e até disse “olha, eu sei que cada eleição que chega, a gente diz que será a eleição mais importante das nossas vidas, mas essa, de fato, é a eleição mais importante da nossa vida”. Nós teremos, no próximo período, tarefas fundamentais e que eu quero aqui destacar para vocês algumas.

Primeiro, nós temos a responsabilidade de construir o Partido dos Trabalhadores quando o presidente Lula não estiver mais nas urnas disputando o nosso projeto. O presidente Lula nos deixa um legado que ele será fundamental na condução do nosso partido para o resto da nossa existência. Mas nós sabemos que todas as dificuldades enfrentadas pelo PT, seja na crise de 2005, seja na farsa da Lava Jato, quando o nosso partido foi duramente atacado, o presidente Lula foi para a sociedade, disputou as eleições e reconduziu o partido ao seu lugar de direito. Essas cenas, após 2026, até por direito ao descanso e por direito a viver também um pouco a sua vida pessoal, nós não o teremos mais depois de 2026. E como bem disse o presidente Lula, e eu quero reafirmar: o seu substituto não será o nome, o seu substituto será o Partido dos Trabalhadores. Porque se o PT estiver forte, se o PT estiver organizado, dialogando com a sociedade brasileira, o nome nós vamos construir, a liderança será construída. Até porque não nascerá outro Lula, não nascerá outro Lula porque as condições históricas, quando o novo sindicalismo e os novos movimentos sociais emergiram, e a sociedade brasileira lutava pela democracia e no meio desse processo histórico tinha um gênio da política brasileira. Esse cenário não vai se repetir. Nós teremos que construir um partido que seja capaz de enfrentar grandes embates, embates que estão colocados na conjuntura e embates que estão colocados no próximo período histórico.

Eu quero dizer a vocês que reeleger o presidente Lula significa nós reafirmarmos o nosso projeto de país, reafirmarmos um projeto de construção de um Brasil que seja forte, que tenha sim uma agricultura forte, que tenha sim uma pequena propriedade organizada e produtiva, que tenha sim uma indústria forte. Um país que seja capaz de produzir riqueza, produzir riqueza é necessário porque nós temos muita pobreza para combater. Mas também um país que faça a reforma agrária, um país que faça a reforma da renda, um país que apoie o pequeno e médio empresário, um país que apoie o empreendedor, e um país que olhe para os excluídos e para os sofridos da nossa nação.

Esse projeto é o projeto que estará em disputa em 2026. Também um projeto de soberania nacional, onde nós não admitiremos que nenhuma das nossas instituições seja atacada, e que nós vamos dizer que não somos e não queremos ser um puxadinho dos Estados Unidos.Não somos e não queremos ser o quintal dos Estados Unidos. Nós somos um país soberano, um povo soberano e uma nação soberana. Portanto, reafirmarmos esse projeto, é reeleger o presidente Lula em 26. 

E quero dizer que a reeleição do presidente Lula também significa mais um passo que nós vamos dar para derrotarmos as forças do fascismo no nosso país. Do fascismo explícito ou do fascismo implícito, hegemonizado pelo pensamento fascista, que hoje, infelizmente, forma e tenta construir maioria na sociedade brasileira. Tem aqueles que defendem explicitamente o fascismo e tem aqueles que se deixam hegemonizar pelo fascismo. Nós temos que derrotar ambos, porque ambos significam o retrocesso da democracia, o retrocesso dos direitos humanos e o retrocesso do projeto de país que nós queremos. 

E dizer aqui, sem nenhum temor, que nós estamos enfrentando o maior líder fascista do século XXI, que é Donald Trump. Ele é o representante do fascismo. E se alguém tem dúvida, é só nós olharmos o que ele faz com os imigrantes dos Estados Unidos. O que ele faz ao transformar El Salvador no campo de concentração do século XXI. Tratando imigrantes de forma desumana, de forma violenta. Não é um discurso nacionalista. É um discurso que rasga os direitos humanos, que na prática enfraquece aquilo que foi construído a duras penas, pós-segunda guerra mundial, em 1948, que foi a Declaração Internacional dos Direitos Humanos.

E dizer que, mais do que nunca, a defesa dos direitos humanos tem que ser uma bandeira da esquerda, tem que ser uma bandeira do socialismo. Não existe construção socialista sem a defesa dos direitos humanos. E dizer que aqueles que foram vítimas e que deram origem de forma fundamental à declaração dos direitos humanos, que é o povo judeu, os judeus têm que defender os direitos humanos. Não é possível que o povo judeu rasgue a declaração dos direitos humanos convivendo com a situação da Palestina. O povo judeu tem que ser maior que o atual governo de Israel. O povo judeu tem que ser maior que o atual governo de Israel. E nós temos que fazer esse debate com toda a coragem e com muita sobriedade. 

Portanto, companheiras e companheiros, nós temos que ter um partido forte, um partido que tenha uma agenda que valorize o nosso legado, que valorize tudo aquilo que nós construímos ao longo de 45 anos. Mas esse partido também tem que estar atento às agendas que deverão ser construídas neste período de profundas transformações do mundo do trabalho, de profundos embates, de rumos que o mundo trava e que o Brasil também tem que travar. Eu quero dizer a vocês que esse partido forte tem que ser um partido que valorize as suas instâncias. 

Quero dizer aqui, presidente Lula – eu tenho 40 anos de filiação partidária – eu não conheço outro partido na minha vida. Desses 40 anos de filiação partidária, por 31 anos eu cumpri mandato. Então, o que eu digo aqui, eu digo sabendo da importância dos mandatos. Não é possível nós disputarmos hegemonia na sociedade sem os mandatos. Mas mandato não pode substituir instância partidária. 

E também quero reafirmar aqui, no nosso 17º encontro, o compromisso de nós construirmos no próximo período o nosso Congresso. É preciso o PT fazer um Congresso, é preciso o PT reafirmar os nossos espaços organizativos. Reafirmarmos o nosso projeto de sociedade e as bandeiras que vão nos conduzir no próximo período. 

Mas quero dizer a vocês que eu defenderei a partir de amanhã que os núcleos de base passem a ser espaços de decisão do nosso partido. Nós temos que voltar a fazer nucleação como uma orientação da direção partidária. Nós temos que fortalecer a organização de base do Partido dos Trabalhadores. 

Eu quero dizer a vocês que eu sou professor, que eu utilizo as novas tecnologias, que eu sou favorável às novas tecnologias,que eu sou favorável que, muitas vezes, a gente até faça palestras, reuniões, utilizando as novas tecnologias. Mas quero dizer a vocês que ninguém faz disputa de consciência de classe postando reels. Que a consciência de classe, que a disputa da consciência de classe é educação popular, é reunir 10, 15, 20 pessoas. Reunirmos a nossa periferia, a nova classe trabalhadora, a juventude que tem se afastado de nós. Reunirmos aqueles que são a razão da nossa existência.

Nós existimos para organizar a classe trabalhadora. Nós existimos para que a gente possa organizar as excluídas e os excluídos. Nós existimos para que a gente possa construir um novo protagonismo das trabalhadoras e dos trabalhadores e esse processo só vai se dar se o PT tiver presença, presença nas periferias, presença junto à classe trabalhadora brasileira. 

Quero também dizer a vocês de um compromisso que não é um compromisso discursivo, porque eu acredito que nós temos que fazer com que a economia solidária seja eixo central da organização do nosso partido e tenho dialogado de forma fraternal com as nossas lideranças sindicais. É evidente que uma parte importante da classe trabalhadora nós organizamos por meio dos sindicatos, mas também está muito evidente que uma parte da classe trabalhadora nós não estamos conseguindo organizar pelos instrumentos do movimento sindical.

Defendi, defenderei e vou dizer aqui a vocês que é um compromisso que eu assumi e assim será: a primeira reunião que eu farei com o presidente do PT será com a direção da nossa central, com a CUT, e quero dialogar com as demais centrais sindicais do nosso país. Tenho defendido que cada sindicato crie a Secretaria de Economia Solidária para que a gente possa dialogar com as trabalhadoras e trabalhadores que estão se afastando das formas mais tradicionais de organização do momento sindical. Portanto, o cooperativismo tem que ser instrumento de organização da nova classe trabalhadora, das desempregadas, dos desempregados e dos excluídos. 

Quero também dizer a vocês, e eu disse isso no PED: nós não podemos normalizar, porque não pode ser normal, que a Prefeitura do PT não faça orçamento participativo, que as vereadoras e vereadores do PT não defendam o orçamento participativo, que o orçamento participativo esteja saindo da nossa agenda enquanto partido. Nós não podemos aceitar, até porque o orçamento participativo não é apenas reunião para a gente escolher obra. O orçamento participativo é democracia direta, é nós mostrarmos à periferia do Brasil que eles podem decidir que o orçamento não é uma peça de construção da elite política, da elite econômica. O orçamento tem que expressar efetivamente a organização, tem que expressar o poder da organização das trabalhadoras e dos trabalhadores. 

Quero dizer a vocês, para que eu vá encerrando, que o governo do presidente Lula tem feito um esforço imenso de reorganização das nossas políticas públicas. E é nosso papel lembrarmos a sociedade brasileira, que assumimos, que o presidente Lula assumiu em 23, um país destruído – não podemos permitir que a sociedade brasileira se esqueça. Segundo os relatórios da transição, um rombo de quase 370 bilhões de reais. Que o governo do presidente Lula tenha reorganizado as relações institucionais do Brasil, tenha reconstruído as políticas públicas, como bem disse aqui a Gleisi. Portanto, nós temos que dar todo o apoio necessário ao governo do presidente Lula, porque ele é o maior patrimônio do PT, ele é o maior patrimônio das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. 

Mas reconhecermos os avanços do governo do presidente Lula, que são imensos, não significa que o PT não tenha que ter a sua agenda, que a gente não tenha que ter uma agenda de debate com a sociedade brasileira, que nós não tenhamos que ter uma agenda para dialogar com o Congresso Nacional e fazer disputa de hegemonia e alterar a correlação de forças, até porque só assim o governo do presidente Lula poderá avançar. O PT tem que ter uma agenda permanente de diálogo com a sociedade brasileira. 

E quero dizer que nós temos que ser o partido que formule sobre a transição energética. Se o Trump, que representa o fascismo, diz ao mundo que não tem urgência climática e que o modelo de produção de riqueza que ele defende é o modelo de destruição da natureza, nós temos que dizer não a isso. A esquerda tem que dizer não a isso. Nós reconhecemos a urgência climática, nós defendemos a transição energética e nós queremos um modelo de produção de riqueza que seja sustentável, que defenda e preserve os nossos recursos naturais. 

O PT tem que ter a coragem de enfrentar o debate da segurança pública, porque é uma necessidade da sociedade brasileira. Se o nosso modelo de segurança pública não é o modelo da polícia que mata, nós temos que dizer para a sociedade qual é o nosso modelo. Que nós defendemos uma segurança pública que tenha programas para os adolescentes em conflito com a lei, porque se nós não disputarmos os adolescentes em conflito com a lei, nós não vamos ter uma política de segurança pública que seja eficiente, que seja eficaz. 

Da mesma forma, companheiras e companheiros, eu sei que o que eu vou falar aqui é polêmico, porque foi polêmico. É impossível um partido de esquerda, socialista e humanista, que não defenda o programa de reinserção social de apenados. Não existe prisão perpétua no Brasil. Quem pagou pelo seu erro, pelo seu crime, tem que ter o direito de se reinserir na sociedade, tem que ter o direito de reconstruir sua vida. E nós temos que defender políticas de segurança pública, que também adotem as novas tecnologias, que ofereçam o ambiente de segurança para a sociedade, adotando as novas tecnologias, o monitoramento, as câmeras, os tótens de segurança. Portanto, nós podemos sim ter um programa de segurança pública e eu quero chamar o PT para formular junto com os nossos governadores, junto com os nossos prefeitos, prefeitos de capitais, governador e governadora e as nossas lideranças que debatem segurança pública, como a nossa querida deputada Adriana que está aqui, presidente do PT de Goiás.

Quero também dizer a vocês, e eu tenho dialogado muito com o ministro Camilo nesse sentido, nós temos que levantar a bandeira da universalização da educação integral. O Brasil não será um país justo enquanto a educação integral não for universalizada. Como nós não podemos abrir mão e dialogar com a sociedade, com o Congresso Nacional, criar as condições objetivas para que o governo do presidente Lula avance e a gente universalize os programas da primeira infância, universalize o direito à creche, à segurança alimentar, ao estímulo do cognitivo das crianças, da classe trabalhadora, na fase mais importante da vida humana.

Nós temos que defender e apoiar o programa de reindustrialização do governo do presidente Lula, que pretende investir 300 bilhões de reais na reindustrialização do Brasil. Porque o Brasil só será um país forte se a nossa indústria for forte, se nós investirmos em ciência e tecnologia. Portanto, o PT tem que debater isso com a sociedade brasileira e apoiar o governo do presidente Lula de forma intransigente nas suas medidas. 

O PT tem que dialogar, e eu tenho dito isso aos companheiros da FUP, nós temos que ter um programa para a Costa Equatorial. A riqueza que está lá é a riqueza do povo brasileiro, é a riqueza para a gente combater a fome e a miséria, para a gente construir um país de igualdade. Nós temos que debater para que se crie um fundo com as riquezas da Costa Equatorial, para que a gente possa reflorestar a Floresta Amazônica, monitorar, melhorar e aprimorar o nosso sistema contra o desmatamento, para que a gente tenha um programa sustentável para a Amazônia Legal. Nós não queremos desmatamento, nós não queremos pesca ilegal, nós não queremos caça ilegal, mas nós temos que ter um programa para o povo, para a sociedade da Amazônia Legal, que sinalize para a riqueza que sinalize para o desenvolvimento de forma sustentável. O Partido dos Trabalhadores, principalmente liderado pelos nossos companheiros e companheiras da região amazônica, temos que formular um projeto e dialogar com a sociedade e criar as condições para que o governo do presidente Lula implemente esse programa como uma forma de desenvolvimento nacional. 

Quero dizer a vocês que nós temos que fazer o debate, porque esse é o principal problema da sociedade brasileira, e esse é o esforço do governo do presidente Lula, esse é o esforço do ministro Padilha, de nós melhorarmos os instrumentos de financiamento do SUS, para que a gente possa efetivamente fazer com que a saúde pública seja plena e universal no nosso país. 

E nós temos, companheiras e companheiros, e nós estamos vendo, nós temos que apoiar o governo, por isso nós temos que ter programas, nós temos que ter propostas para a exploração das terras raras – que ninguém tenha dúvida que esse é um dos motivos da maior violência diplomática que nós sofremos no último período. Eles querem ter controle sobre a exploração das terras raras e as terras raras pertencem ao povo brasileiro, é a riqueza das próximas gerações do nosso país.

E quero dizer aqui, companheiras e companheiros, o debate 6×1 não é só uma bandeira, o debate 6×1 é o debate do quanto que o trabalhador e a trabalhadora vão ter de direito ao lazer, ao estudo e às relações familiares, ao direito à cultura e ao esporte. O debate do 6×1 é dizer o quanto do tempo do trabalhador e da trabalhadora será ocupado pelo trabalho e o quanto do tempo será ocupado pelas relações que o trabalhador e a trabalhadora quiser construir. Esse debate é central e o PT tem que jogar peso nesse debate.

Presidente Lula, eu quero dizer aqui ao senhor, o PT tem que levantar a bandeira e criar as condições para que a gente avance no debate da tarifa zero. Hoje, 20 milhões de brasileiras e brasileiros não usam transporte público porque não têm condições de pagar, não têm condições, muitas vezes, de fazer um curso, não têm condições de ir atrás do lazer, não têm condições de usufruir da cultura, não têm condições, muitas vezes, de visitar os seus familiares. Tarifa zero tem que ser bandeira prioritária de um partido que queira dialogar com a classe trabalhadora.

E eu encerro dizendo que nós teremos que enfrentar o debate da reforma política eleitoral. Nós estamos vendo aos nossos olhos o esvaziamento do presidencialismo. O esvaziamento do presidencialismo por conta de dois governos fracos, o Temer e o Bolsonaro. Um porque não tinha legitimidade, que foi fruto de um golpe. O segundo porque era um inepto para governar.

Nós não, o presidente Lula tem um projeto de nação, tem um projeto para o nosso país. E nós queremos restabelecer os poderes condicionais do presidencialismo.

O Congresso não pode executar 52 bilhões de reais e nós acharmos que isso é normal. O Congresso não pode se apropriar de atribuições do Executivo. Nós temos que fazer uma reforma política eleitoral. Eu não sei onde, porque eu participo da vida partidária desde 1985, eu não sei onde que nós aprovamos que nós não somos mais a favor do voto em lista. Porque o PT sempre defendeu o voto em lista para fortalecimento dos partidos. O PT tem que voltar a levantar a bandeira do voto em lista porque é mais fácil debater um projeto de país com quatro, com cinco, com seis partidos do que permitir que uma agenda nacional seja sucumbida diante do varejo e dos interesses pessoais que permeiam o Congresso Nacional. 

O PT tem que priorizar a reforma política eleitoral no país e quero aqui, de fato, encerrar fazendo um convite a vocês companheiras e companheiros: o PED acabou, nós não podemos alimentar a disputa interna. Nós não podemos alimentar e dar sustentação ao ambiente de disputa e de acirramento. Os nossos adversários estão do outro lado da trincheira, não estão dentro do Partido dos Trabalhadores. E quero dizer a vocês que a partir de amanhã eu sou o presidente do PT, não sou o presidente de um grupo, não sou o presidente de uma tendência. E quero trabalhar incansavelmente – isso não é força de expressão, vocês vão ver – para que o nosso partido se unifique, para que a gente chegue forte nas disputas que nós teremos pela frente.

Mas quero fazer outro convite a vocês: nós não construímos o PT para projetos pessoais. Nós não construímos o PT para ascensão social. O PT é instrumento de luta do povo brasileiro. Nós não podemos, não podemos mesmo, aceitar que o PT se torne um acolchoado de interesses pessoais, de projetos pessoais. O nosso projeto é o projeto do povo brasileiro. O nosso projeto é o projeto liderado pelo presidente Lula. 

E quero dizer a vocês que nós somos o partido do combate ao racismo, ao machismo, à homofobia. E se nós somos o partido do combate ao racismo, ao machismo, à homofobia, a todas as formas de preconceito, nós não podemos reproduzir dentro do PT aquilo que nós combatemos. Se nós queremos convencer a sociedade das nossas propostas, a sociedade tem que enxergar em nós coerência naquilo que nós defendemos.

E encerro dizendo, mais uma vez, a minha gratidão a toda a nossa militância pela oportunidade de cumprir a maior missão da minha vida. Presidir o PT é a maior missão que eu já cumpri, é o meu maior desafio. E quero dizer a vocês, dizer ao presidente Lula, que eu honrarei todos os dias a confiança de vocês e que eu quero ser o presidente do maior partido de esquerda da América Latina e que o PT continue sendo, por muito e muito tempo, o maior partido de esquerda do Brasil e o maior instrumento de luta do povo brasileiro. Muito obrigado.”