O Brasil rural mudou muito, e para melhor, nos últimos dez anos e a 2ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário é um espaço vivo para a construção de propostas e troca de experiências que continuem impulsionando as mudanças

Por Elvino Bohn Gass

Tem muita gente Brasil afora pedindo mais. Que bom! Quem pede mais, gosta do que tem, só não está satisfeito ainda. É precisamente o caso do campo brasileiro.

Sim, o Brasil rural mudou muito, e para melhor, nos últimos dez anos. Com políticas acertadas, o Governo Federal garantiu melhorias históricas para homens e mulheres que vivem da terra. A agricultura familiar tem encontrado espaço para crescer e produzir mais alimentos. Melhor: a agricultura familiar, finalmente, obteve o respeito de que sempre foi digna. Mas, sim, sabemos que podemos fazer mais.

Neste contexto, a 2ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário é um espaço vivo para a construção de propostas e troca de experiências que continuem impulsionando as mudanças. E com paridade de gênero e grande participação de jovens, a 2ª Conferência já começa do tamanho do Brasil.

Foram muitas etapas regionais, intermunicipais, territoriais e temáticas, além das 27 etapas estaduais que elegeram 1.200 delegados e delegadas. Esta representação legítima é que vai consolidar a construção do Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, com metas a curto, médio e longo prazos – até 2030 – para o fortalecimento do campo brasileiro. Ao todo, foram discutidas mais de 11 mil propostas que, conjugadas, chegam à Brasília em forma de 388 ideias cujas importâncias, validades e alcances serão, mais uma vez, analisadas pelas delegações.

Desta síntese nascerá, então, o Plano Nacional.  E a garantia de que o documento final da Conferência será o principal orientador das ações do governo, vem justamente da participação decisiva dos setores ligados à agricultura familiar em todo o território nacional. Há, por parte do governo, a certeza de que o Plano produzido pela Conferência reproduzirá, de forma fiel, a cara deste Brasil rural que se moderniza, inclui e amplia sua importância econômica e social.

Nunca é demais lembrar que a agricultura familiar é responsável pela ocupação da grande maioria da mão de obra no campo e, ao mesmo tempo, que produz 70% da comida que nos alimenta e o faz de forma sustentável, respeitando a natureza e seus ciclos. Assim, torna-se natural, que um dos temas a ser destacado na 2ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável seja a agroecologia. Trata-se de um sinal muito positivo que envolve, principalmente, os jovens do campo, nitidamente preocupados em produzir preservando a natureza.

A maciça participação de jovens nesta Conferência deve fortalecer o debate sobre a construção de um modelo agrícola que não destrua, preserve os recursos naturais, elimine o veneno e o agrotóxico da mesa dos brasileiros. Nós sabemos, os jovens sabem: este é o caminho. A segurança alimentar segue ameaçada por interesses econômicos maquiados, que oferecerem novas tecnologias e que se apresentam como a salvação da lavoura. O problema é que este é um espaço praticamente dominado por meia dúzia de multinacionais que não têm preocupação ambiental, mas econômica. É o lucro, não o futuro que está neste horizonte. No passado a chamada revolução verde prometia resolver os problemas de fome no mundo.

Agora são os transgênicos. Mas o que mudou? Produzimos mais, mas são alimentos pobres, plantas sensíveis às menores variações e altamente dependentes de insumos cada vez mais caros. Isso sem contar na proliferação de pragas resistentes a estes venenos.

Portanto, apontar um caminho de respeito à natureza, de diálogo entre os saberes do campo e os saberes da academia, parece a aposta certa a se fazer. É o que deve se afirmar nesta 2ª Conferência, a importância do respeito às mulheres e homens do campo, destacar o papel protagonista dos jovens e, acima de tudo, que um país sem miséria precisa de uma agricultura familiar forte e sustentável.

Elvino Bohn Gass é deputado Federal pelo Rio Grande do Sul e Secretário Nacional Agrário do PT Nacional

Artigo publicado originalmente em www.pt.org.br