Às 17 horas do dia 22 de agosto de 1979 começou o meu 33º dia de greve de fome e 3.442 dias de cárcere político. Estava fisicamente debilitado e intelectualmente excitado. A prudência mandava ficar deitado, poupar energias e evitar um acidente de percurso na linha de chegada; a ansiedade impulsionava à ação continuada de articulação tentando influenciar os últimos lances da luta pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita.

Às 17 horas do dia 22 de agosto de 1979 começou o meu 33º dia de greve de fome e 3.442 dias de cárcere político. Estava fisicamente debilitado e intelectualmente excitado. A prudência mandava ficar deitado, poupar energias e evitar um acidente de percurso na linha de chegada; a ansiedade impulsionava à ação continuada de articulação tentando influenciar os últimos lances da luta pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita.

Na noite do dia 22 de agosto de 1979, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Anistia parcial proposto pelo General Figueiredo e derrotou a Emenda Djalma Marinho que a ampliava, por uma diferença de apenas 4 votos; e o Substituto do MDB pela diferença de 15 votos, inviabilizando na esfera legislativa a tese da Anistia Ampla Geral e Irrestrita.

Pelo telefone ouvimos, diretamente do Congresso Nacional, os choros e protestos de nossas mães, pais, esposos e esposas, parentes e lideranças do movimento pela Anistia que estiveram nas rampas, nas galerias e nos gabinetes lutando até a última hora para nos libertar da prisão e libertar o povo brasileiro da repressão institucionalizada.

Honrando mais este compromisso, o Senador Teotônio Vilella telefonou de Brasília ao Presídio Político do Rio de Janeiro, nos informando dos últimos lances da batalha pela Anistia, das votações e da derrota. Com a mesma voz pausada e firme com que anunciou à Nação, depois de visitar os cárceres políticos, que lá não tinha encontrado terroristas, legitimando a nossa resistência armada ao regime e nossa reintegração à vida política nacional, ele vaticinou: depois do movimento cívico pela anistia e da sua aprovação ainda que parcial, pelo Congresso Nacional, o regime militar não terá mais condições de manter opositores políticos presos.

Após ouvir nossos familiares, deputados e senadores do MDB, lideranças do movimento pela Anistia, eu e mais 14 presos políticos da Frei Caneca (como os demais presos políticos em greve de fome em São Paulo, Fortaleza, Salvador e Recife, Natal) reunimos nossas últimas forças físicas para fazer uma avaliação da greve de fome e da luta pela Anistia, e chegamos a três conclusões: a Anistia não saiu como a gente queria; nós continuaríamos presos, por mais algum tempo; mas a ditadura militar estava com os seus dias contados!

Pausadamente caminhamos até o refeitório e esperamos a nossa primeira refeição ao 33º dia de greve de fome, com aquela alegria interior dos que se sentem vitoriosos!

 

*Gilney Viana, médico; ex – preso político, deputado estadual pelo PT/MT.

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