Minha participação na Campanha da Anistia teve início com o meu engajamento no Movimento Feminino pela Anistia – Bahia, tendo sido uma de suas organizadoras. Realizamos várias atividades enquanto MFPA; destacamos a que ocorreu no Colégio das Mercês.

Depois desta passagem pelo MFPA, juntamente com Joviniano Neto, Ana Guedes, Arthur de Paula, Aguinaldo Rabelo, entre outros, constituímos a Comissão Organizadora do CBA-BA, tendo sido publicada a sua composição no Diário Oficial da Bahia.

As atividades do CBA-BA foram intensas, como em vários outros lugares. Participei de várias caravanas pelo interior do Estado, quando fazíamos atividades em praça pública nas cidades onde passávamos, transformando, por vezes, carrocerias de caminhões em palco, de onde falávamos para a população local sobre a "Campanha pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita". Integrei a comissão que organizou o II Congresso da Anistia. Estive em muitas reuniões regionais de Anistia realizadas em Aracaju-SE, Maceió-AL, Recife-PE e Salvador-BA. Por ocasião de uma reunião regional do CBA ocorrida em Salvador, realizamos uma manifestação em frente ao Teatro Castro Alves, e um companheiro de Alagoas, Eduardo Bonfim, até hoje quando me encontra, lembra que, enquanto a polícia se aproximava para cercar a nossa manifestação, eu cantava. Um dos momentos marcantes para mim foi quando Theodomiro dos Santos, que estava preso na mesma época que meu ex-companheiro, tirou uma foto de minha filha Lia, com um ano e pouco de idade, atrás das grades, escrito no chão ANISTIA, e esta foto se transformou no cartão que os presos enviaram no Natal de 77, sendo inclusive publicado no Estadão ou na Folha e em jornais do Exterior, como símbolo da luta pela Anistia. Até hoje guardo essa foto com muito carinho e várias lembranças.

A luta pela Anistia fez parte integral da minha vida. No último período da luta pela Anistia eu estava grávida da minha filha Maíra, que nasceu no dia 22 de julho de 1979, às vésperas da votação da Lei. Os companheiros diziam que eu iria parir na sede do CBA-BA. Foi um momento muito importante quando comemoramos a aprovação da Lei da Anistia nas escadarias da Igreja do Bonfim, encerrando uma carreata que durou o dia inteiro. Não fui na carreata, mas estava nas escadarias da Igreja com minhas filhas Lia e Maíra recém-nascida. Foi muito emocionante, pois na ocasião foi lida a carta escrita por Haroldo Lima, falando da fuga de Theo, que começava assim: "E viva a Liberdade!"

Destaco também o show "Falso Brilhante" de Elis Regina, no Teatro do ICEIA, em Salvador-BA, que doou parte da arrecadação para o CBA-BA. Ela, Elis, nos chamou (Joviniano, Fátima Gaudenzzi e eu) ao palco para falarmos da Campanha para o Teatro lotado.

Outro momento importante foi o lançamento do livro "Anistia" no Colégio 2 de julho, em Salvador, com a presença de Teotônio Vilela; na ocasião os filhos pequenos de ex-presos, inclusive minha filha Lia e sua amiga Joana (filha de Rosa e Miltinho) entraram no auditório com ramos de flores brancas para serem entregues a Teotônio e vários homenageados, ex-presos e ativistas da luta da Anistia. O auditório estava lotado, com muitas pessoas querendo entrar e sem poder, ficando no pátio do Colégio até o fim da atividade.

Foram muitas as horas passadas no Aeroporto 2 de julho para recepcionar os exilados vindos de vários países. A qualquer hora estávamos a postos, desde às 4 horas da manhã, até altas horas da noite. A disponibilidade e solidariedade das pessoas ligadas ao CBA-BA era muito grande, criando uma ligação especial entre seus integrantes.

A Campanha da Anistia jogou papel preponderante na luta pelas liberdades políticas e dos direitos sociais, pois estava no centro das discussões e atividades a busca da liberdade para os que a tiveram cerceada, a denúncia das atrocidades das torturas e desrespeitos aos direitos humanos.

Estas questões fizeram com que familiares e vários setores da sociedade se mobilizassem e contribuíssem com a Campanha, manifestando seus repúdio àquela situação, exigindo liberdades democráticas, a extinção da Lei de Segurança Nacional e outras leis de exceção. A campanha da Anistia deu visibilidade a este anseio do povo brasileiro.

 

*Maria Liège Santos Rocha, ex-militante do MFPA e do CBA da Bahia.

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