As corporações médicas, movidas por uma lógica baseada centralmente no lucro e em um modelo de medicina distante das necessidades da população, têm reagido contrariamente à vinda de médicos de fora

Por Luiz Alberto

O obscurantismo, preconceitos políticos, ideológicos e de classe e interesses meramente corporativistas têm eclipsado a visão de alguns dos avanços que o Brasil tem alcançado nos últimos dez anos. Programas e políticas adotadas pelo governo federal para beneficiar amplos segmentos da população, que historicamente nunca tiveram prioridade dos gestores públicos, têm sido objeto de ataques movidos pela intolerância.

É o caso de artigo publicado neste jornal, no dia 26 de julho, intitulado “Meia Sola”, do médico e presidente da Academia de Letras da Bahia, Aramis Ribeiro Costa. Ele apenas confirmou preconceitos e aversão ao que tem sido feito para transformar o Brasil em um país mais justo e desenvolvido, com igualdade de oportunidade a todos. Alinhou-se aos corporativistas contrários ao Programa “Mais Médicos”, anunciado há um mês pela presidenta Dilma Rousseff e que se destina a suprir a deficiência no atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), com investimentos de R$ 15 bilhões em infraestrutura de hospitais, unidades de saúde e contratação de médicos brasileiros e estrangeiros – em segundo plano.

As corporações médicas, movidas por uma lógica baseada centralmente no lucro e em um modelo de medicina distante das necessidades da população, têm reagido contrariamente à vinda de médicos de fora. A população brasileira, contudo, reconhece a importância estratégica da iniciativa e, segundo o Datafolha, 54% dos entrevistados aprovam a contratação de estrangeiros – já que falta interesse de profissionais brasileiros em ocupar as 15 mil vagas ofertadas. A união da categoria parece ser, unicamente, para minar a tentativa do governo de trazer médicos estrangeiros para atuar em lugares longínquos do país, em especial médicos cubanos – reconhecidamente experientes em missões humanitárias – e não uma preocupação com a saúde pública.

A visão xenófoba das corporações escora-se no falso argumento de que o SUS enfrenta, fundamentalmente, problemas de infraestrutura. Ora, não há condições de se instalar um hospital ou laboratório em todos os rincões do país, mas isso não significa que não se possa contratar um médico para atuar junto à população. Medicina não se faz só com equipamentos, pode ser preventiva e educativa.

O médico, nas comunidades, tem liderança, pode  atuar na orientação das pessoas. O fato de não haver laboratórios e hospitais em uma comunidade não impede que certas doenças sejam detectadas e curadas e que, nos casos mais graves, o paciente seja enviado para uma cidade maior.

É evidente que a infraestrutura de hospitais e unidades de saúde é tão fundamental quanto à realocação desses profissionais. Entretanto, os dizeres agressivos exibidos nos cartazes e emanados nas manifestações vêm transparecendo a visão estereotipada, negativa e preconceituosa que muitos possuem em relação ao SUS e, consequentemente, a seus usuários.

Outro fato preocupante são as injustiças e iniquidades na área da saúde pública em decorrência de avaliações subjetivas e distantes dos profissionais de saúde, com danos e alta taxas de mortalidade aos segmentos pobres, em especial a população negra. A obrigatoriedade de formação no SUS, em seu período de residência, vai aproximá-los da realidade dos usuários do sistema público de saúde compatível com o juramento de Hipócrates, como forma de retribuir o investimento feito pela população brasileira nos profissionais formados nas escolas públicas de medicina.

Quanto às políticas de cotas, um dos bodes expiatórios eleitos pelo médico Aramis Ribeiro Costa para difamar os programas do governo, cabe alertá-lo que no último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), os egressos do curso de medicina das primeiras turmas de formandos cotistas obtiveram nota igual aos exames realizados nos anos anteriores. Isto demonstra que alunos beneficiários dessa política, ao contrário do que o médico afirma, não depreciam a qualidade dos cursos de medicina. Tenho certeza que os cotistas serão profissionais com uma compreensão da realidade mais legítima e sensível.

Luiz Alberto é deputado federal pelo PT da Bahia