Quando os poderes legalmente instituídos se ausentam, a força do dinheiro se impõe, a política é discricionária e o senso comum se corrompe pelo preconceito, ignorância e apatia, a organização e a mobilização da classe trabalhadora, em todas as suas especificidades, são a força que resiste, combate e modifica. Tem sido assim desde sempre.

A edição de maio de 2023 da Revista Reconexão Periferias traz relatos que têm esse ponto em comum: coletivos, reunidos em torno de ideias e ações que questionam a ordem estabelecida, seguem produzindo mudanças. A revista pode ser baixada aqui.

Na entrevista do mês, a terapeuta ocupacional Tatiane Patrícia Souza da Silva conta como a Oficina de Criatividade, criada no seio do centenário Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, vem transformando a vida de pacientes em sofrimento psíquico – e a vida das pessoas ao redor – com a prática das artes. A própria Oficina é uma história de rebeldia, nascida da luta dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, de pesquisadores e pacientes pela mudança do modelo manicomial e sua lógica de isolamento.

O poder transformador dos coletivos
arte FPA

A Escola Nacional de Energia Popular (Enep), que protagoniza nossa seção Perfil deste mês, tem resistido aos abusos e crimes das grandes companhias de mineração, recorrendo para isso à formação de novos quadros e lideranças populares com um modelo de aprendizado baseado na troca de novos conteúdos, a partir das experiências de vida.

Nessa mesma perspectiva de luta, a vereadora Enedina Soares, de Caucaia (CE), coloca sua trajetória de professora e dirigente sindical a serviço de um mandato que ela pretende popular, ligado à organização dos trabalhadores e trabalhadoras em busca da superação das más condições que vigoram atualmente no mercado de trabalho. Enedina é a entrevistada de nossa seção Quando Novas Personagens Entram em Cena.

O mercado de trabalho também é tema do artigo que fala sobre os desafios de um cada vez maior grupo de pessoas que trabalha por conta própria, sem proteção social e apoio governamental, e cujas carências e potencial não cabem mais em antigos enquadramentos e soluções. Por falar nisso, o Reconexão Periferias lançou em maio o livro “Viver por Conta Própria”, conjunto de propostas para tratar desse segmento. Produzido durante a pandemia e sob um governo de extrema direita, esse livro é também fruto da resistência coletiva. Disponível no site da Fundação Perseu Abramo, a obra vem à luz em momento de esperança.

A desejada e benvinda carteira de trabalho, por si só, não dará conta dos enormes desafios, como já se supôs anteriormente. Essa mesma carteira de trabalho que o racismo ainda encastelado no Brasil transmutou em uma espécie de carta de alforria, como aborda outro artigo dessa edição.

A seção Arte, assim como as de Oportunidades e a Agenda, completam essa nossa busca por transformações sociais construídas coletivamente, sonho maior do Reconexão Periferias.