A oposição clamou, corretamente: o papel da oposição é este mesmo, o da crítica capaz de sacudir as entranhas e o coração do governo.
 
Foi realmente muito fraco o crescimento da economia durante o ano findo. A crise mundial existe mas não seria uma razão suficiente para essa performance tão fraca; a maioria dos países emergentes, e da América Latina, conseguiu bem mais do que os nossos 0,9%. A explicação mais forte deve estar ligada à baixa taxa de investimento reinante nos últimos anos e à política de sustentação da economia na base do incentivo ao consumo. A decisão de manter a gasolina artificialmente barata para estimular a venda de automóveis, em prejuízo desastroso para a Petrobrás, foi, a meu ver, o exemplo mais gritante deste erro de política. Não sou economista mas dou o meu palpite: seria o caso de relaxar um pouco no superávit primário e elevar o investimento público direto em infraestrutura, a começar pela própria Petrobrás; seria o melhor estímulo governamental capaz de puxar o investimento privado estagnado.
 
Dito isto como necessário, vale lembrar outras faces e razões do Brasil e de seu povo com relação ao tema em foco. A começar pelo significado do próprio crescimento do PIB, que não é o mesmo para todos. O PIB não é um fim em si mesmo e, enquanto meio, seu crescimento mais acelerado é mais importante para os fins do business do que para o povo e a Nação. Para estes, qualquer resultado igual ou pouco acima de 3% ao ano é bom, desde que haja continuidade na política de redistribuição e harmonização de uma sociedade mais justa e democrática. O Brasil não precisa ser a quarta economia do mundo no meio do século, mas seria muito melhor que fosse a nação mais feliz, mais justa, mais estavelmente democrática. Seria excelente que desse ao mundo bons exemplos de cuidados com o planeta e com as futuras gerações; que desse ótimos exemplos de repúdio à violência e à guerra, desenvolvendo, além da economia, a
cultura do entendimento e da negociação, interna e externamente.
 
Acho necessário que se mantenha viva essa perspectiva, que aliás é sancionada pela alta taxa de aprovação popular ao Governo Dilma, apesar do choro dos pibeiros com os 0,9%.
 
Continuando, vale observar que, apesar do PIB humilhante de 2012, o Brasil continuou sendo uma excelente alternativa para o investimento produtivo internacional, precisamente em razão desses decisivos fatores de atração, que são a estabilidade política e o crescimento da classe média pela via da redistribuição.
 
No mesmo diapasão, impressionando a opinião internacional, o nível de emprego no Brasil, em sentido contrário a toda a tendência mundial, elevou-se no ano passado e segue elevado no primeiro trimestre em curso, reforçando a dimensão política do chamamento ao investimento produtivo.
 
O empresariado local, entretanto, está sujeito a outras condições, move-se segundo uma tradição bem brasileira, típica do nosso modelo de economia mista de Vargas que sempre ofereceu os melhores resultados quando bem administrada: os empresários olham para o governo e acompanham suas decisões de inversão: o que sempre puxou o investimento privado no Brasil foi o investimento público.
 
Percebo sinais de uma mudança orientação governamental nesse sentido, e espero que se confirme a expectativa criada a partir da recuperação da capacidade econômica da Petrobrás e da prioridade declarada em relação ao setor de transportes em geral, especialmente dos portos e das ferrovias. E continuo esperançoso, aguardando o reconhecimento governamental da necessidade da criação de uma grande empresa nacional mista de navegação.
 
*Roberto Saturnino Braga, ex-senador (PT/RJ), autor de O curso das ideias, editado pela EFPA e integrou o Conselho Curador da FPA.