A Guerra de Guerrilhas em São Paulo
Assistimos, na Grande São Paulo, em outubro e novembro, à reedição da onda de assassinatos em série que tínhamos vivido em maio de 2006.
Só nos últimos 18 dias, 191 pessoas foram mortas, a maioria com características de execução por duplas com capacete em motos ou dentro de carros escuros.
É o recrudescimento de uma guerra não assumida entre duas facções que agem na ilegalidade: grupos de criminosos profissionais e grupos de policiais que agem na clandestinidade. Os criminosos tiveram uma mudança em sua organização há pouco mais de vinte anos. Eles criaram facções que agem dentro e fora dos presídios.
Dentro, exercem o poder sobre os outros detentos. Fora, cometem crimes priorizando a obtenção de recursos para o grupo ou executando outras ordens dos chefes. Os policiais que agem à margem da lei são uma velha praga, começada na década de 1950 no Rio e depois, em São Paulo e outros estados, com os esquadrões da morte. A novidade no mundo dos criminosos é vingarem seus mortos ou chefes presos, matando policiais. É uma mudança de extrema gravidade para a qual o governo do Estado não conseguiu dar resposta suficiente, nem ser transparente.
Nas declarações do governador e do secretário de Segurança, tudo está e sempre esteve sob controle. O Estado e a Justiça falharam no esclarecimento dos crimes e na punição dos culpados. Só agora o governo estadual resolveu compartilhar o problema não resolvido com o governo federal.
Antes, deu preferência à política do que a medidas eficientes que fizessem os dois lados recuarem e absterem-se destes crimes. As instituições do Estado foram então substituídas por bandos de agentes do próprio Estado, que já antes vinham agindo à margem da lei. O governador, o secretário e os chefes das polícias só admitem isso quando, vez por outra, aparece algum vídeo feito por testemunha, como o que foi veiculado no “Fantástico”, no domingo passado, da execução de Paulo Batista do Nascimento, no Campo Limpo, por policiais militares.
É a guerra de guerrilhas. Nela se sabe quais são os dois lados que se combatem. Mas eles aparecem de repente, camuflados, executam ações rápidas, e desaparecem. Esta guerra no submundo agrava a segurança de todos. Impõe um clima de terror na sociedade. Qualquer cidadão que for uma inocente testemunha destas chacinas pode ser morto. Quem, para auxiliar a Justiça, contar o que viu, tem grandes chances de estar condenado à morte. Esta é a lei do crime: despreza as pessoas, o Estado brasileiro, as leis, e exerce a sua própria justiça através da ameaça e da morte. É a presença da barbárie no mundo contemporâneo.
Precisamos combatê-la com eficiência, dentro das leis e instituições do País.
*Elói Pietá, ex-prefeito de Guarulhos, é secretário-geral nacional do PT e vice-presidente da Fundação Perseu Abramo