Sobre José Dirceu
A enorme injustiça perpetrada pelo STF com a condenação do nosso companheiro de partido, José Dirceu, teve um resultado para mim: resolvi deixar para mais tarde todas as tarefas que me cabiam e dedicar-me a preparar uma resposta às acusações absurdas feitas nesse processo. O que mais me deixou perplexa foi perceber que, na ausência de provas, o que foi apresentado para justificar a condenação eram apenas suposições não baseadas em fatos, mas sim em uma grande hostilidade contra o réu.
Isso me moveu a, baseada no meu conhecimento e convivência com Zé Dirceu durante muitos anos, relembrar suas qualidades, assim como a importância que sempre teve na luta por um país mais justo e livre de arbitrariedades.
Uma das maiores características do Zé é a facilidade que sempre teve para reunir pessoas em torno dele e exercer a liderança em todos os grupos dos quais participou, começando pelo Movimento Estudantil de 1968, do qual foi um dos principais expoentes, e que desempenhou um papel muito importante na luta contra a opressão e pelas liberdades.
Apesar de sua vida agitada e atribulada, ele nunca deixou de ler e estudar, mesmo no exílio e na clandestinidade, o que explica a enorme bagagem de conhecimentos que lhe permite fazer leitura tão acurada dos acontecimentos.
Ninguém pode negar a enorme inteligência e a aguda capacidade de análise política que sempre usou para compreender o país e identificar caminhos para a sua transformação. Isso aconteceu, por exemplo, no processo de construção do Partido dos Trabalhadores, na Campanha das Diretas, na eleição de Lula para Presidente da República e em muitos outros momentos da nossa vida política.
Também me comove lembrar a dedicação e lealdade que José Dirceu demonstra por seus companheiros e por aqueles que o ajudaram em momentos difíceis. Emociona-me, especialmente, o respeito carinhoso que sempre dedicou a Perseu Abramo, meu marido.
Além de tudo isso, Zé é uma pessoa muito afetiva, especialmente com as crianças que são do seu convívio. Essa é uma qualidade que sempre me impressionou favoravelmente.
Esperemos que o bom senso se reestabeleça e que, livre de perseguições, Zé Dirceu continue conosco na luta pela superação das desigualdades, pelo aprofundamento da democracia e pelo fim dos privilégios das elites deste país.
Zilah Wendel Abramo
Brasília, 20 de outubro de 2012