Brasil na vanguarda
A Universidade de Columbia, uma das mais consideradas dos Estados Unidos, vai abrir no Rio, no início do próximo ano, um centro universitário de estudos e pesquisas, ligado à rede de outros centros que mantém no mundo. A razão da decisão foi resumida pelo prestigiado professor e economista Jeffrey Sachs: “O Brasil é superlativo em todos os sentidos: enorme, diverso e crucialmente importante…Pode-se dizer que, para onde for o Brasil, o mundo irá também”. Outros professores e diretores da Universidade disseram também coisas relevantes e auspiciosas sobre o nosso País. Para quem nasceu, cresceu e se aculturou no Brasil no século passado, visto então pelo mundo como país pouco sério e quase definitivamente atrasado, esta é uma transformação realmente espantosa!
Esta apreciação positiva do Brasil está também muito difundida na Europa e na África, e muito especialmente na América do Sul, onde a liderança brasileira é reconhecida de forma generalizada, até mesmo pelos argentinos, tão superiores naqueles tempos passados. Exemplo bastante comprovador desta liderança aparece claramente na disputa eleitoral pela presidência da Venezuela: enquanto o Presidente Chavez é um notório aliado político do governo brasileiro, o candidato de oposição, Henrique Capriles, vem afirmando em seus pronunciamentos de campanha sua admiração e sua intenção de seguir o modelo brasileiro.
Tenho sustentado que há três ordens de razões para esse novo interesse internacional pelo Brasil, todas de natureza política: a primeira se refere à clara decisão popular tomada na eleição de 2002, com a eleição de Lula; a decisão de rejeitar, antes da eclosão da crise, o modelo neoliberal então ainda louvado mundialmente, e adotar uma política de forte presença do Estado na economia, aliada à implementação de programas nítidos e diretos de redistribuição de renda. Algo que evidentemente faz lembrar a socialdemocracia europeia dos meados do século vinte, porém com mais nitidez, seja na intervenção estatal, seja na forma de transferência direta dos programas de redistribuição.
Outra importante ordem de razões políticas decorre de uma prática democrática que afirma claramente os valores da igualdade social e das posições esquerdistas, elege sucessivamente um torneiro mecânico e uma ex-guerrilheira para a Presidência da República, e realiza projetos na linha dos interesses imediatos da população mais carente, sem se perturbar com o clássico apodo de populismo. Enfrentando, ademais, a permanente oposição quase unânime da mídia, não entra, entretanto, em conflito aberto com ela, como frequentemente acontece nesses casos de confronto sistemático. Faz lembrar o velho refrão: os cães ladram e a caravana passa.
Na terceira ordem de razões se deve colocar a política exterior bem afirmativa da independência em relação à grande potência do Continente, que sempre determinou o comportamento internacional do Brasil. Também neste caso, esta afirmação de soberania nacional não tem assumido traços de antiamericanismo sistemático ou de oposição permanente aos interesses das nações líderes do Ocidente, e não tem prejudicado a manutenção de relações amistosas e tradicionais com esses países. Passou por aqui esta semana o Primeiro Ministro do Reino Unido, ultrapassado pelo Brasil como oitava economia do mundo. David Cameron veio em busca de associações e disse algo como: quando não se pode vencer, junta-se ao vencedor. Faz parte desta nova linha política exterior a adesão e o empenho do Brasil no projeto de integração sulamericana, sem confrontamentos abertos com o Hemisfério Norte.
*Roberto Saturnino Braga, ex-senador (PT/RJ), membro do Conselho Curador da FPA e autor de O curso das idéias: A história do pensamento político no Brasil e no Mundo, publicado pela EFPA.