O ex-presidente Lula afirmou que, caso eleito novamente, vai tornar o Brasil mais exigente nas relações comerciais com outros países e blocos regionais, incluindo os mais desenvolvidos e industrializados. Lula afirmou que o país precisa buscar maior equilíbrio e incluir nos acordos cláusulas que ajudem o Brasil e a América Latina a aprimorar sua pauta de exportações.

“Numa negociação com a União Europeia, a gente desejaria não apenas facilidade para exportarmos produtos in natura, commodities. O que nós queremos na verdade é também exportarmos produtos manufaturados, que é como se pode gerar mais valor agregado, criar mais empregos de qualidade, ter mais investimentos em ciência e tecnologia”, disse Lula, dirigindo-se ao alemão Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu, com quem esteve reunido na manhã de terça-feira, 5 de abril. Os dois participaram do encontro ““Brasil-Alemanha – União Europeia: desafios progressistas – parcerias estratégicas”, realizado pela Fundação Friedrich Ebert (FES) e pela Fundação Perseu Abramo, em São Paulo.

Schulz, que é presidente da FES, think tank do Partido Social-Democrata da Alemanha, foi além e defendeu que para garantir condições mais justas nos acordos comerciais entre países ou blocos regionais, são necessárias mudanças que garantam padrões mínimos e equivalentes de direitos sociais e de salários em cada um dos parceiros. Incluídas como cláusulas nos acordos, essas exigências seriam instrumento para combater a superexploração das nações mais pobres e construir uma visão de que a luta contra a miséria no mundo deve ser tarefa conjunta e permanente.

“O mundo globalizado precisa de regras. Não pode ser governado apenas pelo lucro”, disse Schulz. Em sua opinião, as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estipulam padrões civilizatórios para os mercados de trabalho em todo o mundo, deveriam ser obedecidas nos acordos comerciais, para ambas as partes.

“Se houver as mesmas condições, se os direitos trabalhistas forem respeitados nos países que fazem parte do acordo, aí fará sentido”, defendeu. “Do contrário, o mundo fica muito sombrio”, ponderou o dirigente alemão.

Lula e Schulz concordam que a ONU precisa passar por mudanças que garantam novas relações internacionais. Para o ex-presidente brasileiro, a ONU precisa ter autonomia e “autoridade moral” para que determinadas decisões sejam aplicadas automaticamente pelos países-membros, sem necessidade de aprovação pelos parlamentos nacionais.

Lula recorreu ao exemplo recente das vacinas contra a Covid-19. Apesar da decisão da ONU para que fossem distribuídas igualitariamente entre os países, isso não aconteceu. “Teria que ser cumprida imediatamente, sem depender dos congressos de cada país, ou então não adianta ser decidido pela ONU”.

A atual guerra entre Rússia e Ucrânia, na visão de Schulz, é “fruto do abandono do caminho do multilateralismo, um processo que já vinha sendo trilhado sorrateiramente há muito tempo”. Além da guerra, outros episódios marcam essa tendência, como os Estados Unidos de Trump. “Adotou o America First, e o resto que se dane”, disse o alemão, ressaltando que o vício do unilateralismo se verifica em outros países, inclusive na América Latina.

Lula crê que a Alemanha pode ser um importante parceiro na construção dessas mudanças, que chamou de “nova governança global”, especialmente com a volta da social-democracia ao governo. Schulz, por sua vez, não poupou elogios a Lula e ao papel que o Brasil pode retomar na cena internacional com a volta do ex-presidente.

“Ficamos tão encantados com a política do Brasil nas primeiras décadas deste século porque o país defendia a resolução de problemas com mais cooperação entre as nações. O Brasil liderou esse movimento. Eu e muitos no mundo queremos que isso volte, e tudo isso está intimamente ligado ao seu nome, Lula. Você sempre foi um exemplo do que deve ser a política de esquerda. Você chegou ao topo e continuou a mesma pessoa. Você é um grande estadista e eu te admiro”, declarou.

O encontro reuniu também a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, o presidente da FPA, Aloizio Mercadante, assim como dirigentes partidários e ex-ministros. A íntegra pode ser assistida aqui.

 

 

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