Chega a ser cretina a recomendação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), dito e havido como "banco central dos bancos centrais" a respeito do Brasil. As informações estão na matéria "Reunião dos BCs mundiais alerta para o risco do crédito no Brasil", de Deborah Berlinck, em O Globo de 25/06.

Chega a ser cretina a recomendação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), dito e havido como "banco central dos bancos centrais" a respeito do Brasil. As informações estão na matéria "Reunião dos BCs mundiais alerta para o risco do crédito no Brasil", de Deborah Berlinck, em O Globo de 25/06.

A "preocupação" do órgão é que o crédito no país cresceu 6% a mais do que o PIB e por ser alto o endividamento de empresas e famílias. Isso faria o Brasil sofrer restrições do crédito mundial e ainda chegam a comparar o início da crise européia e estadunidense ao que ocorre por aqui. Nada mais falso.

Além disso, a análise de que a expansão do crédito deve se dar pelo natural desenvolvimento do sistema financeiro e a recomendação ao problema, adivinhem? Corte de juros e regras mais rígidas para concessão de crédito. Se fosse escrito pela Febraban não seria melhor.

Justamente quando o governo reduz drasticamente a SELIC, amplia prazos para financiamentos imobiliários e de automóveis, cria incentivos para renegociação de dívidas e amplia o teto de benefícios desta, tudo por mais consumo, mais produção, menos inadimplência e mais crescimento.

Por trás do BIS está exatamente os países da OCDE, do G-7, da UE, que temem o crescimento de BRICS e emergentes por ser um claro obstáculo para a recuperação do espaço econômico das mercadorias destas nações em crise. Era isso que estava por trás do rebaixamento do rarting da Índia, que exigia que aquele BRICS tomasse medidas liberais para combater o efeito da crise, justamente o que poderia derrubar sua economia de vez. Um cavalo-de-Tróia contra o que a Índia realmente estava fazendo, que era ampliar a regulação de mercados para não ter seu desenvolvimento refém da especulação.

A crise da zona do euro tem por genitora o mega-endividamento das grandes corporações privadas em associação com os grandes do sistema financeiro privado, num continente de alta renda. Nada a ver com o Brasil. 

Outra piada é a tentativa do FMI de criar um "controle de controle" de capitais.

Incomodados – de novo OCDE e cia. – com o sucesso da taxação de capitais especulativos indesejados, a instituição quer elaborar cartilhas aos emergentes sobre como melhor controlar capitais e até estabelecer um teto máximo de 15% para as taxas. Leia-se: "como melhor controlar capitais" significa como readequar a já inevitável reorganização da economia mundial com travas ao livre-cambismo, de forma a regulamentar,claramente as margens de lucro da especulação e menos flexibilidade para se defender dos "tsunamis monetários", originados pela impressão de papel-moela americana e transferência de dinheiro público para a banca privada, que desvaloriza a modela do "terceiro mundo".

Felizmente, o economista Amarendra Bhattacharya, secretário do G-24 "tocou no aspecto central do debate: por que os emergentes vão aceitar limites ao seu direito de se defender dos fluxos de capitais, enquanto os países desenvolvidos seguem sem limites nas suas políticas que provocam os fluxos de capitais?" ("Querem controlar os controles de capitais", Valor Econômico – 22/06/2012).
John Williamson, autor do livro-base desta nova idéia (ele, o criador do termo "Consenso de Washington") propõe como contrapartida que os ricos taxem os capitais na saída…

A despeito de que isso seria um impasse em si, porque seria a anulação da proposta implícita por de trás do controle de capitais "na entrada", aceitar este debate, por si só, já seria uma armadilha, pois abriria caminho para a correlação de forças diplomática estabelecer, de modo não-necessariamente proporcional, o teto da entrada e o da saída. Nos dois casos a questão é: os países em desenvolvimento crescem mais pelo enrobustecimento de seu mercado interno e pela atração, sob controle, do financiamento externo e, este último, resulta do clima de negócios propiciado pelo primeiro. Assim, destrua-se, com recomendações e menos crédito e regulamentação do poder de uso do investimento externo de modo soberano, esta tendência e este processo.

O interessante nisso tudo, é o "sapateado de catita" (como se diz na minha terra, o estado do Pará) dos desenvolvidos. Hoje, não dá mais para simplesmente ditar as regras pelas agências multilaterais. É preciso, ao menos, voltar à época de ver se cola ofertar espelho para vê-lo compensado com ouro, cobre e pau-brasil.

*Leopoldo Vieira, membro da Direção Nacional da Juventude do PT, editor do blog Juventude em Pauta! e assessor da Secretaria de Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento.