Pauta BR: em Araraquara, motoristas de app ganham 95% da corrida
O programa Pauta Brasil desta sexta apresentou a experiência de Araraquara, exemplo concreto de economia solidária, no qual a ação pública tem sido essencial para beneficiar a classe trabalhadora.
Com a precarização do mercado de trabalho, os altos índices de desemprego e a estagnação econômica do país, milhares de brasileiros passaram a buscar aplicativos de transporte como meio de sobrevivência. E o que sociedade tem testemunhado é que esses trabalhadores perderam direitos, empregos e renda. Como um município como Araraquara, no qual os motoristas de app ficam com 95% do valor da corrida, inverteu a lógica de lucros dos aplicativos?
O programa teve a participação do prefeito da cidade do interior de São Paulo, Edinho, e da coordenadora de Trabalho e Economia Criativa e Solidária da Prefeitura de Araraquara, Camila Capacle, com mediação de Ideli Salvatti, ex-senadora e ex-ministra do governo Dilma.
O prefeito Edinho afirmou que economia solidária e cooperativismo lutam contra a hiperexploração do capital pelo trabalho e são políticas públicas da prefeitura de Araraquara organizadas há muito tempo.
Uma das primeiras foi a cooperativa de recicladores, que hoje tem centenas de mulheres e homens cooperados e se tornou referência para o Brasil. E citou ainda a organização de mulheres cozinheiras e confeiteiras assentadas, que se tornou o maior ponto turístico da região de Araraquara, além da cooperativa de egressos do sistema prisional. “São pessoas que encontram imensas dificuldades para inserir-se no mercado de trabalho”, disse “Mas agora tivemos a de motoristas de aplicativos, que tem todo apoio da prefeitura e se tornou notícia no Brasil inteiro. E também uma de moto-entregadores”, afirmou.
Os motoristas iniciaram a experiência em 3 de janeiro com 40 cooperados, e a iniciativa viralizou na internet, o que tornou muito rápido o conhecimento. Hoje estão com 200 cooperados, que aderiram ao app e à cooperativa. Em Araraquara já há mais de 9 mil passageiros cadastrados. Contam com algumas mobilidades, como agendamento, compras no mercado entre outras.
Camila explicou que a Comapa, dos motoristas de transporte de aplicativo, escolheu uma plataforma digital por meios tecnológicos, personalizou e começou a executar. O grande diferencial é que quem opera são motoristas, que, juntos, fundaram uma cooperativa, em 2020, porque estavam em grande dificuldade.
Assim que fundaram, procuraram a prefeitura e começaram um diálogo buscando soluções. Entre as principais dificuldades dos motoristas estavam um ponto de apoio para descanso, banheiros e um app próprio. Agora também existe a iniciativa dos moto-entregadores, que procuraram o prefeito em situação de grande dificuldade porque queriam formar um sindicato. “Trouxemos os entregadores para um processo de formação de economia solidária e eles acabaram decidindo pela cooperativa”, disse.
Para ela, a primeira coisa determinante no caso de Araraquara foi a vontade política, pois a cidade tem um chefe do executivo que não se acomoda e deixa ninguém se acomodar. “Ele impulsiona na direção daquilo que acredita e acha importante. Nessa questão dos moto-entregadores, ele vem falando desde o início da pandemia. Para buscar soluções criativas e solidárias, porque acredita na economia solidária como política estruturante. E graças a isso já temos lei estruturada para concretizar essas propostas”, afirmou.
Para estruturar política pública é preciso um marco legal, um orçamento público para esta política, uma equipe de trabalho com servidores comprometidos e o engajamento político. E também uma relação com redes de lideranças, que significam espaços de resistência nos municípios e nos estados.
Outras ações – Camila afirma que é importante estabelecer programas de formação para beneficiários de programas sociais para mudar a lógica, pois não aprendemos isso cotidianamente.. “Quando existe alguma categoria em extrema dificuldade, podemos orientar que existe o processo de cooperativismo. Desta forma, a gente apresenta uma solução diferente, como o processo de apropriação dos meios de produção, para o trabalhador”.
Assista ao programa completo: