Ela faria 95 anos neste 16 de dezembro de 2021. Recupero para este testemunho o sentimento e algumas palavras escritas no momento em que ela nos deixou.

Um aceno na luz de agosto para Zilah Abramo. Um dia depois de Brasília ter sido ocupada, em agosto de 2018, pelas três colunas dos trabalhadores sem-terra, sob os nomes: Coluna Prestes, Coluna Ligas Camponesas e Coluna Tereza de Benguela reforçadas por trabalhadores urbanos e suas organizações, para levantar as bandeiras em defesa da Reforma Agrária e da Democracia, recebo a notícia de que o coração de Zilah Abramo deixou de bater.

Dos ipês de Brasília – rosas, brancos, amarelos – me vêm um aceno na luz de agosto, como um gesto de quem se despede daqueles que amamos. Zilah amava os ipês e flamboyants de Brasília, que florescem logo depois. Guardou deles a lembrança da explosão de cores com que iluminam a vestimenta ocre do cerrado durante essa estação seca, coberta de pó. Desde o tempo em que passou por aqui com Perseu, na breve experiência da UnB, nos primeiros momentos do Golpe Militar de 1964.

A história das lutas pela construção do PT na década de 1980 e da Fundação Perseu Abramo, criada pelo Diretório Nacional, em maio de 1996, faz parte da trajetória dessa militante lúcida, atenta aos primeiros passos da modelagem de cada área deste instrumento que se tornou indispensável ao Partido dos Trabalhadores, ao conjunto das esquerdas e dos setores progressistas da sociedade brasileira. Desde os programas iniciais: a Editora, o Programa de Cultura Política, Projeto Memória e História, precurssor do Centro Sérgio Buarque de Holanda criado em 28 de setembro de 2001, o Núcleo de Pesquisa e a incorporação da Revista Teoria e Debate, até então editada sob a responsabilidade do Diretório Estadual do PT de S. Paulo, seu criador.

Zilah cumpriu um inestimável serviço à Fundação nesse período tempestuoso da vida do partido e do país, quando assumimos o governo central, trabalhando na costura de redes permanentes de contatos com os setores da intelectualidade das esquerdas, dentro e fora do PT e em âmbitos mais amplos como os movimentos da área da saúde pública, para fazer frente ao bombardeio dos setores conservadores que se desencadeou contra os governos Lula e Dilma e contra o partido.

Para cumprir o desafio de tornar a Fundação Perseu Abramo um instrumento permanente de pesquisa, elaboração e diálogo com as fundações dos demais partidos no Brasil, na América Latina e na Europa; com a academia e os movimentos socais dos trabalhadores e torna-la uma referência do pensamento socialista no Brasil, contamos com a contribuição permanente dessa militante imprescindível: Zilah Abramo.  

Reverenciar sua memória, na data dos seus 95 anos, significa comprometer-se em vencer o desafio de ampliar o alcance do papel que a Fundação Perseu Abramo pode cumprir na disputa em favor da construção de uma cultura política socialista e democrática no Brasil. Temos consciência de que se trata de um desafio complexo, na moldura de um país que se debate num quadro de crises sobrepostas e de um Partido igualmente em crise, frente a uma avassaladora onda de conservadorismo em escala mundial.    

Reproduzimos uma tradição herdada de séculos de lutas: reverenciar a memória das lutadoras e lutadores mortos quando, em diferentes circunstâncias, se despedem de nós. Não cultivamos com a mesma relevância o momento em que eles ou elas nasceram. Quando vieram para a vida. Zilah, faria neste 16 de dezembro, noventa e cinco anos. É indispensável lembrá-la viva e atuando entre nós para encontrar, com sua tenacidade militante, soluções eficazes para os nossos desafios.

Neste 16 de dezembro deixo cair um ramo de ipê iluminado por flores amarelas sobre o coração de Zilah Abramo.

Brasília, 16 de dezembro de 2021

Pedro Tierra – Poeta. Ex-Presidente da Fundação Perseu Abramo.        

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