A greve histórica de 1980
" Para chegarmos a essa greve foi necessário constituir uma comissão de salário (mobilização) com mais de 300 trabalhadores, escolhidos nas reuniões das fábricas."
Por Expedito Soares Batista*
A categoria metalúrgica, naquela época, tinha por volta de 142 mil trabalhadores, só em São Bernardo e Diadema e, deste total, 32 mil eram mulheres.
Para que a categoria chegasse ao nível de organização que foi demonstrado nas grandes assembléias, – é necessário esclarecer – nos anos anteriores muitas coisas aconteceram. Desde a década de 1970, nós, um número relativamente pequeno de militantes sindicais, persistia em efetuar um trabalho de base, visando lutas mais significativas para conquistar bandeiras históricas bem como para consolidar uma nova mentalidade sindical, ampliando a democracia dentro e fora das fábricas. Entregávamos, quotidianamente, um jornal específico aos trabalhadores, realizando inúmeros debates, reuniões por fábricas, greves isoladas, por fábricas em 78/79. Constituímos, também, comissões clandestinas de fábricas buscando sempre uma preparação maior do conjunto da categoria.
O resultado desse longo trabalho foi sem dúvida a grande greve de 1980, de 41 dias, com o Estádio no dia 1º de maio lotado de trabalhadores. Para chegarmos a essa greve foi necessário constituir uma comissão de salário (mobilização) com mais de 300 trabalhadores, escolhidos nas reuniões das fábricas. Desta comissão foi escolhido um pequeno grupo para assumir o comando da greve, caso a diretoria do Sindicato fosse cassada e presa pela polícia (DOPS). E foi exatamente o que veio a ocorrer: a partir de 17/04/80, parte dos dirigentes foi presa, entre os quais o companheiro LULA, porém, a greve continuou sendo comandada sem problemas enquanto, nas ruas do grande ABC, a violência policial predominava.
Os trabalhadores resistiram por mais de 41 dias de greve, retornando ao trabalho sem, concretamente, alcançarem o reajuste salarial pleiteado e as reivindicações. No entanto, ficou marcada uma nova época para o movimento sindical brasileiro, para a sociedade como um todo e, principalmente, para a combalida ditadura militar. Enfim, foi, sem dúvida, um grande passo para mudanças profundas na sociedade brasileira que ainda está longe de ser o que os trabalhadores esperam e querem mas, temos a certeza, de que foi dada uma modesta contribuição para a construção de uma nova Nação brasileira. Esperamos, ainda, que as novas gerações dêem continuidade para aquilo que seus pais e avós iniciaram. A luta continua, companheiro!!!!
São Bernardo do Campo, 14 de abril de 2000
* Expedito Soares Batista é Ex-dirigente sindical (77/80)