O horror na França
Foi na França, não foi aqui; como foi há tempos na Argentina e não aqui. Acho que no Brasil esse tipo de ódio e de loucura não prospera, mas este sentimento em nada conforta: sinto o horror como se tivesse acontecido aqui no Rio, como há pouco ocorreu em Realengo. É o horror da Humanidade, com os requintes de um massacre de crianças, o símbolo da inocência; é um horror que nos penetra e nos inflama, não importa onde tenha ocorrido. Isto é, importa, sim, especialmente, que tenha sido na França, que tem tanto significado na nossa história, a nação que primeiro escreveu a Declaração dos Direitos do Homem.
Não dá para deixar passar, virar a página como fazem os jornais, e esquecer. Não dá! É preciso vencer os inimigos do gênero humano onde quer que estejam. Vencer fisicamente, claro, mas vencer sobretudo politicamente, vencer sentimentalmente e racionalmente, ganhar os corações e as mentes do mundo, em todo o mundo.
Em todo o mundo, sim, a humanidade é uma só e os amigos da guerra repontam em todos os continentes. Mas vencer prioritariamente, inicialmente, vencer urgentemente o conflito entre israelenses e palestinos. Mobilizar o mundo inteiro para realizar a paz naquele pequeno recanto de onde emanam fortes correntes de ódio, fanatismo, intolerância e incompreensão, isto é, onde brotam possantes fontes de desumanização que estão formando rios através do mundo.
Aquele conflito que dura mais de meio século tornou-se um símbolo de violência capaz de envenenar a Humanidade. As crianças do mundo inteiro merecem uma cruzada mundial de paz no Oriente Médio, que comece por apoiar maciçamente os grupos e líderes palestinos e israelenses que clamam pela paz, e que são muitos. A voz do grande líder palestino Salam Fayad, que condenou veementemente o terrorista de Toulouse precisa ser ampliada em todas as escolas e redes sociais do mundo: “Chegou a hora de esses criminosos pararem de fazer terrorismo em nome da Palestina; pararem de fingir que defendem as crianças palestinas, que pedem apenas uma vida decente”.
Os esforços diplomáticos têm de ser compartilhados por todas as nações do planeta. Lembro-me de que Lula esboçou uma participação do Brasil nas mediações políticas daquela região e foi rechaçado por um Obama ciumento das prerrogativas das grandes potências para administrar o confronto de interesses maiores que se estabeleceu ali depois da falência do Império Britânico. E não faltaram opiniões de brasileiros subalternos a aconselhar a nossa retirada para a inércia dos irrelevantes. Pois acho que o Brasil pode e deve se apresentar nessa arena maior, primeiro pelo conceito de Potência da Paz que desfruta com reconhecimento internacional. Segundo porque todas as nações do mundo, grandes e pequenas, devem participar desta cruzada de paz que a Humanidade está exigindo.
Assim também nós, qualquer um de nós, deve se engajar nesta cruzada, pregando a paz, em todos os momentos e oportunidades, enaltecendo as vozes da paz, expressando os anseios de paz e os sentimentos de amor humanitário por judeus e árabes, pelas qualidades benevolentes e agasalhadoras que possuem suas gentes em clima de paz, pelas crianças e pelos inocentes que são tantos, pode-se dizer a maioria, de ambos os lados, e por tudo de muito relevante que esses povos já fizeram em benefício do desenvolvimento da Humanidade.
*Roberto Saturnino Braga, economista, ex-senador (PT/RJ) e membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo
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