“Ficamos presos mais de 40 dias e a grande angústia era não poder fazer nada enquanto todos os outros companheiros continuavam na luta”.
 


Por Devanir Ribeiro

“As greves dos metalúrgicos no ABC nos anos 78, 79 e 80 serviram para o amadurecimento não só dessa categoria mas de todo o movimento sindical do Brasil.” Esse é o principal balanço que Devanir Ribeiro faz do movimento de que participou sendo funcionário da Volkswagen e secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Como conseqüência importante da amplitude que essa luta assumiu na sociedade, segundo ele, temos a formação do PT e da CUT.

Devanir lembra que a greve de 78 ocorreu dez anos depois da última paralisação da categoria, ocorrida em 1968, mas já vinha sendo preparada havia uns três anos. “Mesmo assim, tivemos de dar uma trégua e nos preparamos ainda mais para a greve do ano seguinte, quando fomos afastados do Sindicato”.

Em 1980, a categoria estava mais preparada, porém os empresários também tinham tido tempo para se fortalecer e resistiram mais de 40 dias – os metalúrgicos esperavam encerrar a greve com vitória em apenas dez dias.

É no decorrer dessa terceira paralisação que Devanir destaca o fato mais marcante para ele nesse período: a prisão de praticamente todos os dirigentes. “Ficamos presos mais de 40 dias e a grande angústia era não poder fazer nada enquanto todos os outros companheiros continuavam na luta”.

Como a convocação de assembléias no ABC foi ficando cada vez mais difícil, a opção dos dirigentes foi partir para os bairros de maior concentração de metalúrgicos. O Parque São Lucas, Vila Prudente, onde Devanir morava, foi um exemplo. “Eu não participava diretamente de nenhum movimento popular, mas já havia companheiros mobilizados pela Saúde, contra enchentes e nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base)”. Devanir lembra que, depois das greves, esses movimentos ficaram muito mais fortalecidos devido à mobilização que os metalúrgicos promoveram nos bairros.

Em caráter pessoal, Devanir se diz privilegiado pelo apoio que recebeu de toda sua família, “já que depois da luta, muitos companheiros ficaram desempregados e acabaram com sérios problemas familiares”. Em seu caso, ele conta que sua família também abraçou a luta e os laços ficaram ainda mais fortes.

O significado político direto para Devanir foi sempre a continuidade da luta, cada vez numa esfera diferente e mais ampla. “Depois do Sindicato, participei da fundação do PT, em seguida da CUT, da Anampos (Articulação Nacional de Movimentos Populares) e trabalhei no Instituto Cajamar até me eleger vereador em São Paulo, em 1988”. Ele diz que a adaptação a essas novas etapas não foi fácil. “Apesar de continuarmos com os mesmos princípios, como a luta de classes, a distribuição de renda e a cidadania plena, a solidariedade dos tempos de sindicato não é a mesma no Parlamento, por exemplo”. A contradição, segundo ele, é que quando se atua numa esfera mais compacta, como no sindicato, há um trabalho mais coletivo, que fica individualizado cada vez que essa esfera se expande, como na Câmara Municipal.
 

* Depoimento tomado pelo jornalista Arthur Lopez Couto

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