Trechos publicados em vários jornais do exterior (sem censura)

A morte de Vlado foi objeto de amplo noticiário, numerosos artigos e editoriais na imprensa estrangeira. Nesta página, UNIDADE transcreve apenas alguns trechos das matérias publicadas pelos mais respeitados jornais e revistas da França, Inglaterra e Estados Unidos.

JORNALISTA “ENCONTRADO MORTO” EM PRISÃO BRASILEIRA

“Um comunicado militar informou que o sr. Vladimir Herzog, jornalista de televisão, suicidou-se em São Paulo, depois de ter confessado pertencer ao Partido Comunista.

A nota do II Exército diz que Herzog, editor do telejornal da TV Cultura, apresentou-se espontaneamente para interrogatório. Foi deixado a sós

numa cela fechada para escrever sua confissão e foi encontrado morto uma hora depois. Aparentemente, se havia enforcado com um cinto de pano, diz a nota (…) O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo publicou nota responsabilizando as forças de segurança pela morte do companheiro.”

(The Times, 28 de outubro de 1975)

MORTE NO INTERROGATÓRIO

Vladimir Herzog, 38 anos, diretor de telejornalismo da TV Cultura de São Paulo, morreu numa prisão militar depois de ter sido interrogado sobre sua suposta ligação com o ilegal Partido Comunista Brasileiro. Uma nota oficial do II Exército diz que Vladimir foi deixado sozinho em sua cela para escrever uma confissão, na tarde de sábado, tendo aí se enforcado com uma tira de pano (…) Ele foi o décimo-primeiro jornalista preso em São Paulo, em uma semana, no curso de uma onda de detenções que alcançou mais de 200 pessoas. Os presos incluem líderes sindicais, membros do partido da oposição, MDB, médicos, estudantes, professores universitários e advogados (…) Vladimir Herzog era um dos mais conhecidos jornalistas de São Paulo. Fora nomeado diretor de telejornalismo da TV Cultura há dois meses. Como a estação pertence ao Estado de São Paulo, ele havia sido submetido a rigorosa investigação pelos órgãos de segurança.

O serviço de inteligência brasileiro (SNI) declarou nada constar contra ele (…) A morte de Herzog é a terceira que ocorre em prisões militares nos últimos tempos. Em agosto, 76 pessoas, entre as quais 63 atuais e ex-membros da Polícia Militar haviam sido chamados para interrogatórios. Três deles eram coronéis. Um morreu. A nota oficial informava ter ele sofrido um ataque cardíaco.

Um tenente aposentado da PM também morreu enforcado: a declaração falava igualmente de suicídio.”

(The Guardian, 28 de outubro de 1975)

O SOM DO SILÊNCIO EM SÃO PAULO

“A morte de um antigo funcionário da BBC numa prisão militar de São Paulo dificilmente poderia ter ocorrido em pior momento para o regime brasileiro, cuja ansiedade em obter a aprovação internacional beira, às vezes, o desespero. Vladimir Herzog, que trabalhou no Serviço Brasileiro da BBC na década de 60, foi encontrado morto nas instalações do II Exército, em São Paulo (…) Herzog, cujo corpo foi entregue à viúva numa urna lacrada, fora acusado pelos militares de ser “militante comunista” (…)

(The Guardian, (Inglaterra), 29 de outubro de 1975)

OS MEIOS POLÍTICOS DENUNCIAM NOVA ONDA DE REPRESSÃO

“Após a morte do jornalista Vladimir Herzog e da prisão de várias centenas de pessoas nas últimas semanas, um clima de medo começou a reinar nos meios políticos, jornalísticos, universitários e religiosos de São Paulo (…) A emoção foi tal que as autoridades militares julgaram aconselhável tranqüilizar a opinião pública quanto à dezena de jornalistas ainda presos e submetidos a interrogatórios. Mas ninguém se ilude com essa trégua provisória (…) Advogados, religiosos, políticos, acham que, após uma breve calmaria, a repressão irá redobrar (…)”

(Le Monde, 29 de outubro de 1975)

A MORTE DE UM JORNALISTA

“ (…) Várias centenas de pessoas assistiram, numa atmosfera solene, ao enterro de Vladimir Herzog. O Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo denunciou, em comunicado, as “arbitrariedades” a que estão sujeitos os jornalistas profissionais, que podem a qualquer momento “ser retirados de suas casas sempre sob o pretexto de estarem indo somente responder a um simples interrogatório e que, em total desprezo à lei, são mantidos incomunicáveis, sem a assistência das famílias ou de um advogado (…)”

(Le Monde, 30 de outubro de 1975)

MORTE DE BRASILEIRO PROVOCA PROTESTOS CONTRA O REGIME

“Vários milhares de brasileiros reuniram-se sexta-feira, 31 de outubro, em um culto à memória de um jornalista encontrado morto em sua cela numa prisão do Exército (…) Todos os lugares da catedral católica de São Paulo estavam tomados, bem com a nave central e os corredores laterais, no culto ecumênico à memória de Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Educativa de São Paulo. Outras centenas de pessoas amontoavam-se nas escadarias da igreja e na grande praça defronte (…) Os organizadores do culto fizeram tudo para mantê-lo o mais contido possível, a fim de evitar um confronto com as forças de repressão. A Polícia de São Paulo manteve a promessa de não interferir, pois o serviço era estritamente religioso (…)”

(The Washington Post, 2 de novembro de 1975)

O CASO HERZOG

“Vladimir Herzog estava aguardando uma intimação e, quando esta veio, não se preocupou. Um dos seus colegas do telejornal do Canal 2 já havia sido chamado para interrogatório (…) Num sábado de manhã, há três semanas, Vladimir levantou cedo, foi ver os dois filhos, ainda adormecidos, beijou a mulher e, calmamente, se dirigiu para o Quartel General. Algumas horas depois, as autoridades militares brasileiras anunciavam que o jornalista de 38 anos se havia suicidado na cela, depois de ter confessado ser comunista (…) Segundo as autoridades, Vladimir enforcou-se com um cinto de pano verde. Nas fotos oficiais, no entanto, o corpo de Vladimir está suspenso de uma barra numa janela com menos de 1,80 de altura e seus pés arrastam no chão. “Vlado jamais se enforcaria”, insiste Clarice, sua mulher (…) A morte de Herzog desencadeou numerosas manifestações. Na Universidade de São Paulo, onde lecionava jornalismo, 30 mil alunos e muitos membros do corpo docente boicotaram as aulas. Quando Herzog foi enterrado num dos cemitérios judeus da cidade, os mentores da sinagoga decidiram colocar o corpo no centro e não perto de um muro, conforme manda a tradição ortodoxa, quanto aos suicidas. O arcebispo católico da cidade, cardeal Paulo Evaristo Arns, presidiu a um culto ecumênico na Catedral de São Paulo. “Ninguém tocará outro homem e permanecera impune”, disse D. Paulo a uma multidão de mais de oito mil pessoas, citando ainda o quinto mandamento: “Não matarás”. (…)

(Newsweek, 17 de novembro de 1975)

SILENCIOSAS VOZES AMERICANAS

“Num recente encontro da Sociedade Interamericana de Imprensa, no Brasil, foi dito que nunca, desde a independência dos países latino-americanos, sua imprensa esteve mais ameaçada. O governo militar do país anfitrião foi especialmente citado como um dos inimigos da liberdade de imprensa. Um dia depois do fim da conferência, o Brasil proporcionou uma revoltante nota de rodapé a essa crítica: Vladimir Herzog, jornalista de São Paulo, e homem de televisão, apresentou-se, conforme lhe fora solicitado, ao II Exército, a fim de depor sobre supostas ligações com a esquerda. Na tarde desse mesmo dia, ele morreu. O Exército emitiu nota dizendo ter ele se enforcado nas barras de sua cela, após haver assinado uma confissão de pertencer ao Partido Comunista (…) A morte de Herzog fez parte de uma nova onda repressiva, durante a qual 11 jornalistas de São Paulo e mais de 200 outros intelectuais, líderes sindicais e membros do partido de oposição foram presos (…)”

(Editorial do The New York Times, 14 de novembro de 1975)

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