Trechos da campanha feita em alguns jornais.

“Dos meus arquivos implacáveis: General Ednardo D’Ávila Mello deixando escapar comentário: “Afinal, se o pessoal de comunicação defende a liberdade de opinião e de expressão, há evidente paradoxo na condenação do jornalista que usou desta mestria liberdade dias atrás” (referência ao “caso Fausto Rocha”). (…) Detalhe entre nós: falar em “infiltração” e manobras da esquerda “melancia” na imprensa é eufemismo…” (Cláudio Marques, Coluna Um, Shopping News, 3/8/75)

“TV Educativa continua uma nau sem rumo. Repercutindo – pessimamente – o documentário exigido pelo Canal 2, fazendo a apologia do Vietcong (referência a um filme da agência inglesa Visnews). Eu acho que o pessoal do PC da TV-Cultura pensa que isto aqui virou o fio…”(Cláudio Marques. Coluna Um, Shopping News, 7/9/75 – Nota repetida no Diário Comércio e Indústria, 8/9/75)

“A infiltração (a essa altura não é infiltração, é domínio total, ou quase…) da esquerda contestatória no sistema e na democracia em vários escalões, só não vê quem é conivente ou burro. O caso da TV Viet-Cultura extrapolou. E muito. Chegou a atingir afigura do próprio secretário José Mindlin, o que, de certa forma, é contra-senso. Mas não se pode negar que “a pesada” da esquerda militante tentou montar lá esquema após a saída de vários elementos que mantinham razoável (eu não diria ótimo) nível de rendimento administrativo e jornalístico. Houve até uma frase de um “camarada ” esta semana: “Deixa a Coluna Um serenar que a gente contrata o pessoal todo!.” e parece que na lista já estão alguns nomes bem conhecidos… O que me parece cretino é comunista sendo subvencionado pelo dinheiro do Estado. Emprego existe no paraíso soviético. Ou então em Portugal, lá no “República”, na “Rádio e TV Portuguesa “, onde NÃO são admitidos profissionais que não sejam inscritos e militantes do PC. Eu não exijo atestado ideológico de jornalista, nem quero fazer o jogo de fascistas. Mas é cretino se admitir o domínio total do PC nos jornais, revistas e TVs. Detalhe: outro dia, um enviado especial de Brasília, entre acreditar em informações que me diziam um “exagerado ” preferiu ligar o Canal 2. Estavam exibindo a vida de Suvanna Phuma e os feitos do “Khmer Vermelho”. O homem desligou com um sorriso significativo…”. (Claudio Marques. Coluna Um, Shopping News, 28/9/75)

No dia 9 de outubro, o secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia, José Mindlin, respondia a campanha, em entrevista ao Jornal da Tarde. “Enquanto não forem apontados fatos concretos, não há motivos para preocupação” – disse ele.

Mindlin afirmou que a equipe de jornalismo da TV-Cultura lhe parece séria e objetiva, não merecendo as suspeitas e críticas que tem sido levantadas. Sobre o chefe do Departamento de Jornalismo, ele garante:

“O jornalista Vladimir Herzog é um sujeito sério, que merece a confiança da Fundação Padre Anchieta (…) Não vejo porque tanto barulho pelo simples fato de a TV Cultura falar de revolução russa e socialismo. Criticou-se também um programa sobre o Vietnã, que foi levado ao ar ainda sob a responsabilidade da equipe de jornalismo que deixou a Fundarão Padre Anchieta, embora transmitido no dia em que a atual equipe assumiu. “

DESFECHO

Dia 26 de outubro, domingo, um dia após a morte de Vlado, a coluna de Cláudio Marques estampa este comentário: “Há certas horas em que a gente, com o mais puro sentimento de coleguismo, fica preocupada com novos hóspedes do Tutóia Hilton”.

Os hóspedes eram os jornalistas presos. Tutóia Hilton, uma referência ao Departamento de Operações Internas (DOI), do II Exército. Onde Vlado morreu.

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