Para mim a trajetória que percorremos na luta pelas “diretas-já” está fortemente ligada à figura de Sócrates. Como corintiana daquelas teimosas, que não abandonam o time nem nos momentos mais desanimadores, agüentei o período triste, de mais de vinte anos, em que o meu time sofreu um jejum de vitórias. Nunca passou pela minha cabeça a idéia de mudar de opção. Mas foi difícil atravessar esse período, em que o clube do meu coração era menosprezado, alvo de brincadeiras perversas.

E aí apareceu Sócrates, que se dedicou a reerguer o Corinthians, da maneira que mais poderia entusiasmar uma pessoa como eu, que estava engajada na luta pela democratização do país e isto era implantar a ”democracia corintiana”. Segui todos os passos percorridos por Sócrates para chegar ao seu objetivo, que foi alcançado. O Corinthians se reergueu, voltou a ser um grande clube, provando que o os processos democráticos são a melhor maneira de conseguir resultados favoráveis, mesmo no futebol.

Conseguindo essa vitória, Sócrates não parou por aí. Passou a engrossar as fileiras dos que lutavam por eleições livres participando das manifestações que clamavam por liberdades democráticas. Aí nos encontramos muitas vezes.

Quando a nossa Fundação resolveu editar o livro “Pela democracia, contra o arbítrio: A oposição democrática, do golpe de 1964 à campanha das Diretas Já”, que tem um capítulo sobre a campanha das diretas, pedimos ao nosso amigo Sócrates que desse o seu depoimento. Ele atendeu ao nosso pedido e escreveu para nós o texto, que vocês podem ler abaixo:

ESPERANÇA E ENTUSIASMO:

[…] Caminhando com dificuldade naquele mar de gente pude, como raras vezes na vida, me sentir mais brasileiro. Os rostos eram plenos de esperança e de entusiasmo. A euforia ultrapassava qualquer expectativa que tivesse tido. O grito “Diretas já” já havia tanto tempo engasgado nas nossas gargantas era a bandeira que representava os que sofreram nas mãos da ditadura e a busca por um caminho mais justo e nosso. Como, aliás, era a democracia corintiana , que de há muito provocava intensas discussões sobre a redemocratização do país. Aquele movimento provocou profundas transformações na sociedade brasileira. Quem poderia imaginar que 20 anos depois tivéssemos um legítimo representante do povo portando a função presidencial.

Nada será mais belo do que aquilo que vivemos naquele período.


*Zilah Abramo
é presidente do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo e co-organizadora do livro “Pela democracia, contra o arbítrio: A oposição democrática, do golpe de 1964 à campanha das Diretas Já”.