Economistas do governo pregam otimismo e continuidade
Rio de Janeiro – Otimismo em relação ao futuro do Brasil e convicção quanto às opções políticas e econômicas que vêm sendo feitas pelo país nos últimos anos. Esse foi o tom da participação dos economistas mais diretamente ligados ao governo federal durante o seminário “A Crise do Capitalismo e o Desenvolvimento do Brasil”, realizado segunda-feira (28) no Rio de Janeiro. Organizado pelas fundações partidárias das quatro maiores legendas de esquerda do país – PT, PSB, PDT e PCdoB -, o seminário reuniu nomes de peso do pensamento econômico nacional para refletir sobre a crise econômica global e seus efeitos na economia brasileira.
Secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa citou o que qualifica como “oportunidades históricas” que o Brasil tem no momento atual para fortalecer seu papel na economia global: “Nos últimos seis anos, houve um movimento muito favorável nos termos de troca (N.R. preço da exportação dividido pelo preço da importação). Isso tem possibilitado o aumento da renda disponível e do poder de compra da sociedade brasileira. Nós temos também uma mudança demográfica em curso. Está aumentando a população em idade ativa, isso significa mais gente em condição de produzir e mais possibilidades econômicas”.
A esse cenário, Barbosa acrescenta a solidez política do país: “O Brasil tem, desde a redemocratização, um sistema politicamente estável, com respeito aos contratos e baixa incerteza jurisdicional. Na atual situação mundial, o Brasil é provavelmente o país que tem mais previsibilidade econômica e política”. Barbosa disse acreditar que essa estabilidade favoreça o Brasil por um período duradouro: “As questões que citei são estruturais e independem de quem está no governo e da orientação política. São dados concretos, mas o governo é que escolhe o que fazer com essas condições”.
Segundo o economista, duas “escolhas fundamentais” foram feitas pelo país nos últimos anos: “A primeira foi apostar no crescimento e na distribuição de renda. Os governos Lula e Dilma adotaram uma estratégia de política econômica pró-crescimento, com aumento sustentável dos salários reais. Essa foi uma escolha política. A segunda foi reduzir a fragilidade da economia brasileira, tanto em relação aos choques internacionais (acumular reservas e pagar a dívida com o FMI) quanto aos choques fiscais, promovendo uma queda mais forte do endividamento público”, disse.
Barbosa é otimista com o futuro do país: “Do ponto de vista econômico e estrutural, o Brasil tem recursos para financiar o seu desenvolvimento e promover as mudanças que a nossa sociedade demanda. Nós temos a renda das commodities e possivelmente o pré-sal que ainda vai entrar. Isso nos proporciona uma renda capaz de financiar a construção de um estado de bem-estar social mais eficiente”. Para ele, o maior desafio do país atualmente é político: “É a manutenção do consenso político em torno de uma estratégia de desenvolvimento que seja inclusiva, que beneficie a maioria da população e que consiga solucionar as tensões inerentes à distribuição de renda”.
Consolidação fiscal
Na visão do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, “o Brasil tem perfeitas condições de sair bem da crise”. Ele apontou a consolidação fiscal do país como elemento fundamental para garantir essa tranqüilidade: “Fizemos isso aumentando o superávit primário este ano e criando melhores condições de retomada em médio prazo”, disse. Ele citou como trunfos do governo a força do mercado interno, a diminuição da relação dívida-PIB e a redução da taxa Selic: “Redução dos juros é uma das discussões mais importantes. Temos uma tendência clara de redução da taxa de juros no Brasil. Achamos que há espaço para isso continuar, e o trabalho nosso é para que continue”, disse.
Augustin afirmou que o Brasil melhorou o perfil de sua dívida pública: “Nosso objetivo é diminuir a desindexação. No passado, dois tipos de título eram 90% da nossa dívida. Hoje, a relação é de 64% para 36%. O perfil da dívida é bem melhor. Hoje, as razões da taxa de juros decorrem da política monetária. A relação dívida-PIB é declinante, caiu de 60% em 2002 para 38,2% em 2011”, disse. O secretário do Tesouro também citou as “reservas em alta” do país, estimadas em R$ 352 bilhões: “Hoje, quando há desvalorização do câmbio, a nossa dívida cai. Somos credores líquidos em R$ 80 bilhões. Nossa dívida é basicamente dívida do setor privado”.
Nova maioria
Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann destacou o atual momento político brasileiro: “Houve no país a formação de uma nova maioria política que tem clareza de que o Brasil precisa crescer e que não podemos mais seguir no chamado vôo de galinha. O que ainda está em disputa dentro dessa maioria heterogênea é como crescer e para onde o Brasil tem que crescer”, disse.
Na economia, esse novo momento do Brasil, segundo Pochmann, se traduziu em uma maior presença do país nos organismos internacionais, com destaque para sua atuação na América do Sul, e no crescimento econômico com renda e trabalho: “O Brasil gerou 20 milhões de novos postos de trabalho nos últimos nove anos. No entanto, 95% dessas ocupações geradas foram de até um salário mínimo e meio. Esse crescimento foi importante justamente por permitir que as pessoas de menor escolaridade tivessem acesso à ocupação”.
Analisando a curva demográfica, Pochmann sustentou que o país precisa passar nos próximos anos por “duas revoluções”: uma na educação e outra no sistema de proteção do trabalho: “Não haverá mais razão para que se entenda o ensino superior como sendo o teto da sociedade, mas sim como sendo o piso. Isso significa dizer que cada vez mais será preciso postergar o ingresso do jovem no mercado de trabalho”, disse. Ele também citou a possibilidade de redução da jornada de trabalho no país: “Com o avanço da tecnologia da informação, o setor de serviços já permite que se trabalhe em qualquer lugar. É preciso lidar com essa nova realidade”.