Ricardo de Azevedo: “Uma Fundação para valer"
"Estávamos em uma reunião de planejamento de atividades do PT para o ano de 1996, no hotel Dona Carolina, em Itatiba, quando o Rochinha – que coordenava a reunião – nos informou que Perseu Abramo havia falecido. Imediatamente a reunião foi suspensa e um grupo grande de seus participantes – entre os quais eu estava – se dirigiu à PUC de São Paulo onde o corpo de Perseu estava sendo velado.

Na cerimônia lá ocorrida, José Dirceu – então presidente do partido – falando em nome dele e de Lula, anunciou que a fundação que o PT iria criar se chamaria Perseu Abramo. Perseu estava encarregado de realizar estudos e elaborar um primeiro anteprojeto do que viria a ser a fundação. Deixou alguns textos preliminares. Daí a homenagem prestada.

Menos de um mês depois fui procurado por Luiz Dulci, com quem já havia trabalhado em 1988/89 na primeira Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do PT, e que havia sido encarregado pela direção partidária de dar continuidade ao trabalho que vinha sendo realizado por Perseu.

Imediatamente aceitei a tarefa, pois como já tinha trabalhado por anos na formação política e dirigido a revista Teoria e Debate, parecia-me extremamente importante que o PT criasse um espaço institucional que pudesse ser aberto ao livre debate no campo da esquerda, que contribuísse para a elaboração teórica e que pudesse aglutinar os intelectuais e artistas do campo progressista. Um espaço não de propaganda partidária, mas de análise, reflexão e debates. Contrariando uma visão tradicional na esquerda, que transformava institutos de pesquisa em meros órgãos de divulgação de uma doutrina pré-estabelecida, a direção partidária e seu presidente José Dirceu tinham decidido fazer uma fundação para valer.

Assim, formamos um pequeno coletivo, formado por Luiz Dulci, eu, Zilah e Helena Abramo, que nos reuníamos para, com base naquilo que Perseu nos tinha deixado, dar continuidade ao seu trabalho. Inúmeras outras pessoas foram sendo incorporadas, deram importantes contribuições na formulação do projeto de trabalho e dos estatutos da FPA até que em maio de 1996 o Diretório Nacional do PT, por unanimidade, aprovou a criação da Fundação Perseu Abramo, elegeu seu primeiro Conselho Curador e sua primeira diretoria, da qual tive a honra de fazer parte como tesoureiro."

 

*Ricardo de Azevedo é sociólogo. Foi preso político durante a ditadura militar (1969-1970) e esteve exilado no Chile e na França (1972-1976). Fundador do PT, foi membro da Executiva Estadual do partido em São Paulo (1987-1993). Integrou a primeira equipe da Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do PT (1988-1989). Trabalhou como assessor do prefeito Celso Daniel na Prefeitura de Santo André (1992) e no Instituto Cajamar (1995). Foi o primeiro diretor da revista Teoria e Debate (1987). Foi diretor da FPA (1996 a 2003), vice-presidente (2003 a 2007) e presidente (2007 a 2008). Foi chefe de gabinete da Secretaria Geral Nacional do PT.