Mas não estás sozinho,
nunca mais estarás sozinho.
Teus irmãos te resgatam
e adiam para amanhã
o riso dos chacais.

A Última Noite

Sexta-feira. Noite.
Noite mais longa
que os sete anos de André,
os nove anos de Ivo,
noite mais longa
que o beijo de Clarice.

Na carne da sombra
outras sombras se desenham
buscando formas humanas
(é necessário um disfarce mínimo)
contra o claro corte de luz.

Ninguém viu como chegaram.
Em torno a treva abriga
o passo de seus filhos.

As mãos sedentas de gritos,
de prisões, de chagas,
arrastam teu corpo
ao território da treva.

Mas não estás sozinho,
nunca mais estarás sozinho.
Teus irmãos te resgatam
e adiam para amanhã
o riso dos chacais.

De tuas mãos ainda brotará
o último noticiário da noite.
Preso entre os dedos
o endereço da morte.


* Pedro Tierra é poeta.
Esse poema foi extraído do livro “Poemas do Povo da Noite” de 1979.

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