A crise, o fascismo e o corporativismo
É unânime a concordância sobre o caráter estrutural da crise do capitalismo na etapa da financeirização. A falência do discurso neoliberal pela sua incapacidade de enfrenta-la deixou os setores dominantes sem uma perspectiva nos marcos da democracia liberal. Daí o preocupante crescimento do neofascismo em toda a Europa (já chega a 20% do eleitorado) e nos EUA, com o Tea Party. De outro lado, a esquerda encontra-se confusa desde a crise de seus principais paradigmas políticos, passando o movimento social por séria crise de identidade.
A ausência de projetos coletivos cede lugar aos projetos pessoais e, no limite, aos projetos de corporações específicas descolados de qualquer projeto nacional o que os incapacita a perceber o caráter e a ameaça da atual crise. Esta tem levado a falência dos estados nacionais e a eliminação de todas as conquistas do Estado de bem estar social, pois na hora de pagar a conta a fatura sempre recai sobre os trabalhadores. Para isto, faz-se necessário o atropelo até de prerrogativas do Estado Democrático de Direito. A outra saída historicamente utilizada pelo grande capital é a guerra, tanto pelo incentivo a indústria bélica, como pela distração ocasionada, coesionando a população em “defesa da pátria”.
Neste aspecto, vemos claros sinais de um novo colonialismo na tentativa de dominar os grandes produtores de petróleo e suas rotas. Hoje é o mundo árabe e seus problemáticos governos, amanhã poderá ser o Brasil do pré-sal. Todas estas “saídas” apontam em direção ao populismo de direita e ao neo-fascismo. Enfim, o quadro político e econômico internacional é extremamente preocupante, sendo hoje a mais séria ameaça sobre a vigorosa caminhada do Brasil rumo ao desenvolvimento e a inclusão social.
Atolados no corporativismo nossos sindicatos vinculados ao funcionalismo público não conseguem minimamente ler a conjuntura e ver a relação entre a crise mundial e seus direitos. A grande ameaça aos mesmos não vem deste governo mas da grave crise econômica e do crescimento da direita. O “esquerdismo” que historicamente sempre se prestou a escada para a direita tenta no Brasil repetir o “script”.
Colocam todos os governos no mesmo saco e, a partir daí ficam impossibilitados de estabelecer qualquer linha tática, ignoram a opinião pública, trilhando sempre o caminho da derrota. Para isto, prestam-se a massa de manobras e se aliam a forças políticas historicamente hostis aos trabalhadores e antigos arautos do neoliberalismo. Voltados para si próprio os sindicatos não conseguem ter uma postura propositiva sendo sempre contra as políticas públicas, mesmo as propostas por governos progressistas, o que os leva para os braços da direita, históricos adversários do funcionalismo e defensores do estado mínimo.
Banalizam o direito de greve nas instituições públicas e com isto desgastam e fragilizam estas instituições que dizem defender fortalecendo o discurso privatista, atingindo aos mais necessitados. É simbólico o fato de que funcionários de algumas universidades ao deflagrar uma greve imediatamente bloqueiam a Biblioteca e o Restaurante Universitário. Fechar uma Biblioteca relembra simbolicamente os tempos tenebrosos do fascismo e das ditaduras em geral. Bloquear um Restaurante Universitário é uma forma de atingir os estudantes mais pobres que com muito sacrifício se mantem na Universidade. Cegos pelo corporativismo exacerbado desprezam a necessidade de estabelecer alianças com outros segmentos e ganhar o apoio da opinião pública.
A verdadeira ameaçar as conquistas dos trabalhadores do setor público vem da grave crise econômica internacional. Basta ver o que está ocorrendo nos países onde a crise já se aprofundou. O governo brasileiro, ao contrário, é um defensor de medidas anti-recessivas, do desenvolvimento com inclusão social, da soberania e de um Estado com forte participação na sociedade.
Pela falta de perspectiva histórica, ao colocar interesses corporativos acima de um projeto democrático, servem de escada para aqueles que desejam aniquilar direitos conquistados ao longo de muitas lutas do povo brasileiro.
Incapazes de olhar para além da corporação, comprometem o presente e o futuro.
*Eliezer Pacheco é historiador, professor universitário, secretário nacional de Ensino Técnico e Profissional do Ministério da Educação e membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.