Quem vier à China e não se surpreender, está preocupantemente perdendo a capacidade de ver a realidade, se problematizar com ela e aprender dela. Do bom, do ruim e do difícil de assimilar e compreender. Quem não sair da China com a mente mais aberta e se perguntando mais sobre o mundo contemporâneo, está perdendo a capacidade de captar a realidade no que ela tem de mais representativo, significativo – suas contradições, como motores que a movem.

Quem vier à China e não se surpreender, está preocupantemente perdendo a capacidade de ver a realidade, se problematizar com ela e aprender dela. Do bom, do ruim e do difícil de assimilar e compreender. Quem não sair da China com a mente mais aberta e se perguntando mais sobre o mundo contemporâneo, está perdendo a capacidade de captar a realidade no que ela tem de mais representativo, significativo – suas contradições, como motores que a movem.

Trato de ver, com o menos grau de preconceito possível, a China, e transmitir a vocês algumas dessas observações. Pretendo, no final, fazer um twitcam e escrever algo mais abrangente. Estou mandando este Diário e algumas mensagens pelo Facebook e pelo Twitter, contornando os bloqueios existentes aqui – que existem também com o Google -, o que faz com que não possa ler os comentários de vocês nesses instrumentos – no blog, sim -, nem as solicitações de ingresso no Facebook, o que eu só poderei processar no meu regresso.

Hoje quero contar o que se pode ler – em inglês, é claro, não tenho condições de relatar o que se pode ler em mandarim – por aqui. As livrarias em línguas estrangeiras são similares às do ocidente, com tudo o que tem ali, inclusive as coisas muito ruins: as listas de best-seller são iguais às daí.

Existe um Time Out, como nas grandes cidades europeias e dos EUA, com os programas culturais de Beijing, mas com uma edição mensal e não semanal. Toda a programação cultural da cidade está ali: cinemas, teatros, exposições, etc. Inclusive tudo o que acontece no espetacular e surpreendente bairro chamado 9 7 8, porque antes ali havia ali um complexo industrial ligado à segurança chinesa, de que ainda sobram pedaços. Mas o espaço se transformou num belíssimo lugar de ateliês de arte a mais avançada do mundo contemporâneo, de exposições e galerias, de bares com música – muita musica brasileira, especialmente bossa nova, a única presença brasileira que deu pra presenciar por enquanto por aqui, além dos nadadores no campeonato mundial de natação que se realiza em Shanghai -, de lojinhas com produtos muito sofisticados e criativos. Um espaço que não fica nada a dever a espaços similares de Nova York ou Londres, é até bem melhor em vários aspectos, apontando não apenas para a possibilidade de espaços criativos de arte – inclusive com criticas politicas aos processos de mercantilização por que passa a China -, como ensejam um potencial criativo que revela que o país se tornará um país de vanguarda artística no século XXI. Um jornal de noticias culturais, as também politicas, Beijing Today, é distribuído gratuitamente no bairro.

Mas e melhor e mais representativa leitura é a do China Daily (www.chinadaily.com.cn), um resumo da imprensa chinesa, em uma ótica claramente progressista, nestes dias especialmente centrada na apuração rigorosa das responsabilidades sobre o acidente de trem rápido que levou à morte de 48 pessoas, na luta permanente contra a corrupção e a contaminação e na defesa dos direitos sociais dos trabalhadores.

No numero de 27 de julho,ontem, por exemplo, havia matérias significativas (que podem ser consultadas no endereço que mencionei acima). Os familiares das vitimas do choque de trens reclamavam do governo, mais do que indenização, definir os responsáveis pela tragédia. Dois vice-ministros foram demitidos, mas a apuração segue, incentivada pelo próprio primeiro ministro. Um artigo aproveitava para questionar as prioridades: se um transporte mais rápido ou mais seguro, se uma sociedade melhor equipada tecnologicamente ou com mais direitos para as pessoas.

Outra matéria relatava os casos de corruptos extraditados, grande parte dos quais funcionários do Banco Central ou da Alfandega, que outra transferia dinheiro para uma conta no exterior, depois saia do pais e não retornava ou, funcionários da Alfandega, que ganhava dinheiro para facilitar a importação ilegal de mercadorias. São citados com alarde os casos de extradição, com destaque para o mais recente, que foi reenviado pelo Canadá.

Um artigo cita um livro de um chinês que combateu na guerra da Coréia, foi prisioneiro de guerra, e quando retornou ao pais, sob suspeita de ter colaborado com o inimigo, foi preso. Defende-se seus direitos e se ataca a visão – chamada de ultra-esquerdista – de desconfiança em relação aos que defenderam os interesses nacionais na guerra e foram vitimas do inimigo.

Aborda-se casos de contaminação ambiental, de injustiças sociais – com boa seção de carta de leitores – e se publica editorial sobre a supremacia dos critérios tecnológicos sobre os humanos.

Varias outras matérias de interesse discutem a natureza do sistema politico chinês, o lugar da China no mundo, a crise capitalista e como a China tem contornado esse problema.

Em suma, quem quiser ter uma visão mais real do que se lê na China, deve dar uma olhada no China Daily.

 

Leia também:

Diário da Nova China (3) – O Império do Meio

Diário da Nova China (2) – Beijing no domingo: primeiras impressões

Diário da Nova China (1) – O século XXI será chinês