Dez anos sem Milton Santos, um intelectual visionário e crítico da globalização
Poucos lembraram, durante a mais recente crise do capitalismo internacional, de um brasileiro que, ao menos desde o final do século passado, alertava para os riscos de as sociedades dobrarem-se à lógica da financeirização das relações sócio-políticas.
Poucos lembraram, durante a mais recente crise do capitalismo internacional, de um brasileiro que, ao menos desde o final do século passado, alertava para os riscos de as sociedades dobrarem-se à lógica da financeirização das relações sócio-políticas.
Visionário, Milton Almeida Santos (1926-2001) alertou para o risco de os Estados nacionais dobrarem-se aos ditames da roleta financeira que caracteriza o atual período da economia, por ele denominado de “globalitarismo”. E chamou a atenção para a necessidade de restabelecer a Política (com “P” maiúsculo) no centro da reação ao processo que tenta submeter a todos a uma lógica econômica que, sendo principalmente contra os mais pobres, os “de baixo”, acaba por atingir ao interesse de soberania do território nacional.
Seu pensamento a respeito, manifestado várias vezes EM inúmeros artigos é lindamente sintetizado no livro Por Uma Outra Globalização: do Pensamento Único à Consciência Universal, cuja primeira edição veio a lume poucos meses antes de sua morte, em 24 junho de 2001. Logo se tornou um best-seller, entre os mais de 40 livros de sua autoria.
O terremoto financeiro que atingiu vários países em 2008-2009, a partir do seu epicentro nos Estados Unidos, com efeitos que ainda persistem como na Grécia ou Portugal, seria resultado da irresponsabilidade de agentes centrais do setor que hegemoniza hoje a economia, o das finanças com seu corolário de especulações nas bolsas.
A eleição do dinheiro em estado puro, associado às novas tecnologias, cujo elemento central são as técnicas da informação e seus aparatos, tenta impor – com um discurso único – e gera um ambiente que esfacela a solidariedade entre os homens, as empresas e os países. É preciso construir uma alternativa.
Milton Santos, um otimista, vê que já estariam em marcha novas possibilidades de tornar o mundo melhor, a partir dos grupos sociais com maior responsabilidade pela defesa dos verdadeiros interesses nacionais. Quando assistimos às manifestações das multidões que pensávamos condenadas a aceitar aquela lógica imposta de cima para baixo, consideramos que a esperança de um mundo melhor é, sim, possível.
Dez anos depois de sua morte, constatamos o quão fecundo é o seu legado. Sua obra completa está sendo relançada pela Edusp e por outras iniciativas. Uma série de estudos e investigações sobre a contribuição que deu à Geografia, libertando-a das amarras da mera descrição física e pondo-a como disciplina dos sujeitos sociais, pululam em toda parte.
A importância de Milton Santos ultrapassou fronteiras. Forçado pelas circunstâncias da ditadura militar de 64, que o prendeu e o expulsou do país, construiu uma trajetória ímpar entre os(as) netos(as) de africanos escravizados no Brasil. Soube superar as adversidades, tornando-se um intelectual referenciado internacionalmente. Seu exemplo dignifica os brasileiros".
*Luiz Alberto (PT/BA) é presidente da Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial e em Defesa dos Quilombolas.