Manter este ano um ambiente de crescimento da economia a taxas mais modestas que a dos últimos anos é o desafio do governo na opinião do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República. “A gente sabe que essa chamada nova classe média é um pouco polêmica, porque não tem uma posição ainda consolidada, são novos empregos. Para consolidar essa posição é preciso que esse modelo se mantenha”, disse o ministro.

Embora não seja o responsável por responder pelas contas do país e, nem pela condução da política econômica, é Gilberto Carvalho o responsável por traduzir o pensamento do governo para os movimentos sociais. “Não posso dizer que os movimentos estão totalmente de acordo com essa política ou que acham boa. Seria hipócrita da minha parte”, considerou o ministro em entrevista à Agência Brasil.

Gilberto Carvalho revelou que a “pisada no freio” na economia esteve muito presente nas discussões em relação ao salário mínimo. “É o chamando freio de arrumação”, brincou. “Era importante não fazer agora um aumento maior”.

Confira mais um trecho da entrevista de Gilberto Carvalho à Agência Brasil:

Em relação à economia, a preocupação do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a de trazer uma parcela maior da população para ter acesso aos bens de consumo. Como o governo vem pensando o atual momento, com inflação em alta. Muitas pessoas podem perder o que conquistaram nos últimos anos.

É o chamando freio de arrumação.

É importante esse freio agora? Como esse desafio econômico afeta o seu trabalho com os movimentos sociais?

É muito importante. A discussão sobre o salário mínimo versou muito esse tema. Era importante não fazer agora um aumento maior. Primeiro, que era importante por causa do compromisso assumido de ambos os lados. Tanto que já se anuncia para o ano que vem um aumento que vai superar os 12%. Será um belo aumento. Mas é uma responsabilidade fiscal que nós temos que ter. Em 2009 havia tudo para dar errado no Brasil. A decisão do governo em fazer desoneração para a produção e estimular os bancos estatais para jogarem recursos para fazer a roda girar, além da fala do presidente Lula de estímulo ao consumo foi fundamental para que isso não acontecesse. Então, na linguagem popular, metemos bala em 2009, tivemos que manter em 2010 porque ainda era necessário consolidar a posição de superação da crise e era natural que nesse ano tivéssemos que dar uma freada.

E como estão os movimentos em relação a isso?

Não posso dizer que os movimentos estão totalmente de acordo com essa política ou que acham boa. Seria hipócrita da minha parte. O movimento é muito díspar. Entre os militantes há posições de maior ou menor compreensão, maior ou menor acordo. Numa coisa eles estão de acordo sempre: é preciso segurar a inflação e nós temos um momento de fato delicado, por causa da inflação e do câmbio. Se a inflação prejudica o trabalhador, a sobrevalorização do real prejudica os exportadores. Já os importadores estão rindo a toa. É um momento delicado que está sendo conduzido com muita prudência pela presidenta, junto com o ministro Guido Mantega [ministro da Fazenda], junto com o [Alexandre] Tombine, presidente do Banco Central. Tenho muita confiança na linha que está sendo adotada porque ela é muito prudente, é cuidadosa, para não se dar nem um passo que tire o trem dos trilhos. Total segurança ninguém pode ter, evidentemente. Não somos uma ilha, há uma interdependência hoje. Há um processo inflacionário em todo mundo. Mas eu tenho muita confiança de que vamos conseguir transitar. Com os movimentos, nós estamos sempre chamando os companheiros à responsabilidade.

Mas o que o senhor diz a eles? A batalha número 1 é controlar a inflação?

Exatamente isso. Número 2 é garantir emprego de qualidade, que garanta distribuição de renda também. E eles têm visto da parte do governo seriedade. Eles estão vendo que não estamos brincando e ninguém quer fazer um processo recessivo, por outro lado.

No governo Lula houve a ascensão de grande parcela da população para a chamada nova classe média. O desafio do governo hoje é impedir que se perca isso?

A preocupação do governo hoje é exatamente manter um ambiente de continuidade de crescimento com distribuição. Aí a questão do salário é importante. A gente sabe que essa chamada nova classe média é um pouco polêmica, porque não tem uma posição ainda consolidada, são novos empregos. Para consolidar essa posição é preciso que esse modelo se mantenha. Por isso essas medidas prudenciais que estamos tomando para não haver esse desequilíbrio que leve a uma recessão nesse momento, o que levaria de novo ao desemprego. A pessoa que comprou seu carro em 36 vezes, em 42 vezes, terá um problema se isso ocorrer. Daí nosso cuidado. O importante é não ter um crescimento espetacular, e sim um crescimento mediano, para nos próximos anos retomar um crescimento nessa faixa de 4% a 5%, que nos parece bastante adequado depois do salto que nós demos. Aí tem uma ciência complexa, que a gente maneja a cada dia isso. Não sou economista, não estou no Ministério da Fazenda.

Edição: Fernando Fraga