Nova economia pode influenciar relações internacionais de Cuba
Segundo o jornalista coordenador do Comitê pela Libertação dos Cinco Patriotas Cubanos, Max Altman, as mudanças econômicas estabelecidas pelo Projeto de Linhas Gerais da Política Econômica e Social e discutidas entre os dias 16 e 19 de abril pelo 6º Congresso do Partido Comunista Cubano podem influenciar as relações internacionais da ilha. De acordo com Altman, as medidas demandarão “fortes investimentos externos” a fim de acelerar o processo de desenvolvimento do país.
Segundo o jornalista coordenador do Comitê pela Libertação dos Cinco Patriotas Cubanos, Max Altman, as mudanças econômicas estabelecidas pelo Projeto de Linhas Gerais da Política Econômica e Social e discutidas entre os dias 16 e 19 de abril pelo 6º Congresso do Partido Comunista Cubano podem influenciar as relações internacionais da ilha. De acordo com Altman, as medidas demandarão “fortes investimentos externos” a fim de acelerar o processo de desenvolvimento do país.
Sobre o impacto nas relações de Cuba com outros países, o jornalista acredita que é “absolutamente necessário trabalhar com o máximo rigor para aumentar a credibilidade do país em suas relações econômicas internacionais”. Altman comenta ainda que após o colapso da União Soviética e dos países socialistas do Leste Europeu as principais dificuldades foram vencidas, porém alguns vícios persistem.
Questionado se as mudanças na política econômica podem alterar as relações de Cuba com os Estados Unidos, o jornalista afirma que “vai depender de Washington”. “Se o bloqueio for levantado, as relações tenderão a se normalizar”, observa. “Se a proibição de cidadãos comuns norte-americanos de viajar a Cuba for suspensa, por exemplo, haverá um enorme fluxo turístico para a ilha”, sinaliza.
Acompanhe abaixo a íntegra da entrevista.
Em sua opinião, as mudanças econômicas que Cuba irá adotar influenciarão na política do país? De que maneira?
O presidente Raul Castro vem sustentando que nenhum cidadão que recebe do Estado gratuitamente ou altamente subsidiado serviços como saúde, educação, esporte, lazer, alimentação, transporte pode deixar de se dedicar a uma tarefa produtiva. Sem igualitarismo, ou seja, o trabalhador passará a receber segundo sua capacidade, em cada unidade empresarial. A par disso, há um plano em andamento de deslocar de 500 mil a um milhão de trabalhadores, de certa forma ociosos na folha de pagamento do Estado para uma das 179 ocupações elencadas de iniciativa privada. O impacto dessas medidas levará a um sistema de maior justiça social com desdobramentos na política interna de Cuba.
Caso o objetivo da mudança seja alcançado quais serão os desafios para manter esse novo modelo econômico?
Creio que o principal desafio é aumentar gradativa e firmemente o poder aquisitivo do peso cubano. Incrementada a produtividade e colocada à disposição da população uma maior diversidade de produtos e em quantidade suficiente, isto irá alimentar, por si só, o processo econômico. Porém, é preciso também modernizar todo o parque industrial e o sistema comercial de distribuição e o sistema de gestão. Creio que serão necessários nessa etapa fortes investimentos externos a fim de acelerar o processo e recuperar o tempo perdido.
Em sua opinião, em termos sociais e econômicos, Cuba está em vias de se tornar uma nova China?
Longe disso. O desenho do Projeto de Linhas Gerais da Política Econômica e Social colocada para apreciação da população cubana e a ser aprovado pelo 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba é rigorosamente peculiar. De resto, como comparar um país com a extensão territorial, com os recursos naturais e população da China com a pequena Cuba?!
Como essa nova política econômica pretende trabalhar as relações bilaterais como os países parceiros?
Acredito que o mais importante é garantir a aplicação integral da política comercial, fiscal, creditícia, tributária, trabalhista e outras que assegurem bons resultados no comércio exterior cubano em matéria de desenvolvimento das exportações e a efetiva substituição de importações, no tempo o mais breve possível. Mas ao mesmo tempo é absolutamente necessário trabalhar com o máximo rigor para aumentar a credibilidade do país em suas relações econômicas internacionais, por meio do estrito cumprimento dos compromissos contraídos.
Como o país pretende lidar com a política externa norte-americana que segue estagnada em relação a Cuba e esse momento de significativas mudanças internas?
Insistir com a Casa Branca em negociações diretas em pé de igualdade, discutindo todos os temas, sem exceção, sem arranhar a soberania e a independência de Cuba nem a auto-determinação do povo cubano. É o que o governo cubano vem reiterando.
A relação Cuba-EUA pode ser influenciada a médio ou longo prazo?
Vai depender de Washington. As mudanças não são em direção ao sistema capitalista de livre mercado e sim destinam-se a reforçar, arejar e impulsionar o socialismo em Cuba. Contudo se o bloqueio de mais de meio século for levantado, as relações tenderão a se normalizar. Por exemplo, se a proibição de cidadãos comuns norte-americanos de viajar a Cuba for suspensa, haverá um enorme fluxo turístico para a Ilha.
Como foi a receptividade da população e das comunidades cubanas no momento anterior ao congresso?
As notícias são de que houve uma intensa participação dos trabalhadores, dos profissionais das mais diversas áreas, das organizações de mulheres, estudantis, juvenis. Raul Castro informou ao ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter que cerca de dois terços dos parágrafos do projeto foram emendados pelas contribuições feitas pelo povo em geral e suas organizações sociais.
Esses setores estão preparados para essa transformação laboral?
É um processo que, em minha opinião, demandará tempo. O longo período especial que se seguiu ao colapso da União Soviética e dos países socialistas do Leste europeu criou raízes. As principais dificuldades foram vencidas, mas os vícios persistiram.
No momento em que se completam 50 anos da vitória na Batalha de Girón, como falar de capacidade de resistência do socialismo em meio a um período de mudanças?
Cinquenta e dois anos do Triunfo da Revolução. 50 anos da vitória em Praia Girón, meio século de ameaças, agressões, atos terroristas, assassinatos, tentativas de homicídio de dirigentes sofridos a partir do império do Norte, a par da dignidade e da história de um povo valente, falam por si só da capacidade de resistência do socialismo cubano.
Podemos considerar esse conjunto de mudanças como uma nova etapa do socialismo cubano? Quais as expectativas?
Sem dúvida. Os acontecimentos dos próximos anos trarão maior clareza a essa etapa que se inicia. Os progressistas do mundo inteiro – comunistas, socialistas, forças populares – torcem do fundo do coração e da mente para que os cubanos tenham pleno êxito nessa sua nova jornada.