Após as manifestações bolsonaristas do dia 07/09, movimentos como MBL e Vem Pra Rua convocaram novas manifestações, agora, pelo impeachment. Como se sabe, estes movimentos tiveram um papel importante na convocação de mobilizações pró-golpe que destituiu a então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Os atos do dia 12/08 foram marcados (i) pela presença de lideranças como Ciro Gomes (PDT), Mandetta (DEM), Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB), João Amoêdo (Novo) e Alessandro Vieira (Cidadania) – possíveis nomes da “terceira via” – , e (ii) pela baixa adesão.

Na ocasião, foi feito na Avenida Paulista (São Paulo) um levantamento, coordenado pelos professores da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado e Márcio Moretto. O estudo entrevistou 841 manifestantes e apresentou como resultado principal o caráter diverso da manifestação, a começar pelo posicionamento político autodeclarado: 37% dos entrevistados se disseram de esquerda ou centro-esquerda e 34%, de direita ou centro-direita. Mais de 30% ainda não tem candidato para 2022. Entre quem já tem candidato, Ciro Gomes aparece em primeiro lugar das intenções de voto com 16% (houve presença de militantes do PDT na manifestação), seguido de Lula (14%) e do ex-juiz e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro (11%).

Embora 85% dos entrevistados tenham concordado que “para o impeachment de Bolsonaro, é preciso uma ampla aliança que vai da direita à esquerda”, 38% disseram que não participariam de uma manifestação junto com o PT. Num possível segundo turno entre Lula e Bolsonaro, 40% disseram que anulariam ou votariam em branco.

A baixa capacidade de mobilização da centro-direita já dava seus sinais desde as eleições presidenciais de 2018, quando o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) atingiu apenas 4% dos votos, enquanto assistia Bolsonaro tomar todo o espaço da direita que outrora foi dos tucanos. Ao passo que as manifestações bolsonaristas da Av. Paulista no dia 7 de setembro contaram com 125 mil pessoas (segundo a estimativa da Polícia Militar), as do dia 12 não obtiveram nem 5% deste contingente. Parte considerável dos agrupamentos e das lideranças presentes neste dia apoiou a eleição de Bolsonaro em 2018 e, apesar de pedirem sua saída, seus partidos recuaram mais uma vez em relação a um possível impeachment contradição que evidencia fragilidade. É uma situação diferente da outra parcela, como Ciro Gomes, que não apoiou Bolsonaro.

Como mostram as pesquisas de intenção de voto, o desempenho dos nomes da “terceira via” tem se mostrado fraco. Segundo o PoderData, apenas 15% do total dos entrevistados afirmaram não votar de jeito nenhum em Lula ou em Bolsonaro. A pesquisa Quaest mostra que em relação aos cenários para 2022, 45% preferem uma vitória de Lula nas eleições, 23% uma vitória de Bolsonaro e 25% rejeitam os dois nomes.

É considerável também a alta rejeição de nomes da “terceira via”: segundo a Quaest, 57% do total conhecem e não votariam em João Doria Jr., 53% em Ciro Gomes e 41% em Mandetta. Os números são relativamente altos para os desconhecidos Rodrigo Pacheco (31%), Eduardo Leite (28%) e Simone Tebet (14%), que possuem rejeição e são desconhecidos. Segundo o Poderdata, 51% dos entrevistados não votariam de jeito nenhum em Doria e 43% não votariam em Ciro.

Como mostra a Quaest, é falsa a ideia reverberada pelos candidatos da “terceira via” de que a intenção de voto em Lula se sustenta apenas no antibolsonarismo. A pesquisa revela que 59% dos que declaram voto em Lula o fazem pela sua gestão, 12% pela economia em seu governo, 5% por características pessoais, 16% por razões diversas e somente 8% por antibolsonarismo. Além disso, vale destacar que Lula venceria todos os nomes num possível segundo turno com uma margem confortável.

Já o atual presidente tem rejeição eleitoral de 60% segundo a PoderData e 62% segundo a Quaest, e 25% dos que indicam voto em Bolsonaro, segundo a mesma pesquisa, declaram fazê-lo por “antipetismo”.

A direita/centro-direita absorvida pelo bolsonarismo em 2018 ainda não mostrou que tem condições de se reorganizar enquanto força política nas ruas e/ou como projeto eleitoral. A “terceira via”, portanto, segue mais perto de repetir a experiência de Alckmin em 2018 do que de configurar-se como viável. 

Jordana Dias Pereira é mestre em Sociologia e coordenadora do Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo (NOPPE)

Matheus Tancredo Toledo é cientista político com mestrado na PUC-SP e analista do Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo

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