Programa Pauta Brasil do dia 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, ouviu três professores sobre o processo civilizatório do país, a situação e condição das pessoas LGBTQIA+. “Vivemos a barbárie?”, perguntou Azilton Ferreira Viana, membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo e do coletivo da Secretaria Nacional LGBT do PT, na mediação do programa.

“Em termos históricos, 1980/90 foi ontem. Qual a cidadania alcançamos desde então?”, disse a professora Sara Wagner York, travesti e educadora, doutoranda do Programa de pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Para ela, há uma carência educacional muito grave que prejudica avançar, “pelo menos no conceito clássico de ser civilizatório”.

Sara acredita que temas como “ideologia de gênero, escola sem partido, ensino em casa e ensino militar” são muito preocupantes, que mostram que voltamos ao passado. Sem combater essas questões e “garantir ensino público, gratuito e de qualidade para toda sociedade pode nos ajudar, muito”.

Megg Rayara Gomes de Oliveira é travesti preta, professora adjunta e professora credenciada no programa de pós-graduação do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná. Megg questionou o conceito civilizatório, responsável pela morte de negros e índios na formação da sociedade brasileira. “O processo colonizador cis, branco, heteronormativo, segue como sendo natural. Precisamos bater de frente com o mito da democracia racial e da meritocracia”, falou.

A professora relata a situação ainda difícil para as travestis no meio acadêmico: “cisgenarismo coloca obstáculos para dificultar nosso acesso à academia, para nos colocar numa posição de inferioridade nestes espaços, por conta de uma série de marcadores como racismo e machismo estruturais”, denunciou.

Megg relembrou o perigo cotidiano das pessoas pretas e pobres, “vítimas de ações como as que matam travestis a pedradas ou geram a chacina do Jacarezinho”. A professora se declara “sobrevivente”, inclusive do racismo que viveu ainda na educação básica.

O 28 de junho em todo o mundo tem o principal objetivo de conscientizar a população sobre a importância do combate à homofobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e igualitária, independente do gênero sexual.

Renan Quinalha é professor de Direito da Unifesp, advogado e ativista de direitos humanos. Em 2021 será lançado seu livro ‘Contra a moral e os bons costumes: a ditadura e a repressão à comunidade LGBT’. Ele apresentou alguns casos recentes de assassinatos lgbtqfóbicos, “mostrando que ao fim de uma década, com seus avanços, fruto de luta de disputa nos espaços onde a comunidade se insere, mesmo assim a violência também é maior.”

Uma reflexão importante, para Quinalha, é o privilégio que alguns têm, seja para ter acesso à educação, saúde ou justiça. “Tem uma série de limitações para afastar o povo dos direitos, da cidadania”.

Ele questiona como avançaremos a partir do avanço do neoliberalismo e como converter a luta por igualdade em emancipação. “É um momento rico para pensar os ativismos, construir a solidariedade para lutar contra o conservadorismo e neoliberalismo”, disse Quinalha.

O Dia do Orgulho também é um reforço para lembrar a todos os gays, lésbicas, bissexuais e pessoas de outras identidades de gênero, que todos devem se orgulhar de sua sexualidade e não sentir vergonha da sua orientação sexual.

O programa ainda falou sobre perspectivas de autonomia plena das pessoas, alteração de padrões sociais, assim como a ausência de políticas públicas e a onda de retrocessos do país fizeram parte das análises dos presentes. Assista a íntegra do programa aqui.

 Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.

O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.

Pauta Brasil: luta, organização e orgulho LGBTQIA+