Bolsonaro e o mata-burro: não saímos da pandemia nem da crise econômica
Em entrevista a TV247 nesta manhã do dia 8 de abril, o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, comentou alguns assuntos da conjuntura, como a reunião de empresários com Bolsonaro, a atuação da mídia tradicional brasileira e as crises sobrepostas: pandemia, economia e as questões sociais “gravíssimas”.
Com uma hora de duração, a entrevista rendeu ainda as explicações de Mercadante sobre as propostas de Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, que está rompendo com mais de quarenta anos de neoliberalismo e recuperando o papel do Estado como indutor da retomada do crescimento econômico, apesar de manter a mesma essência da política externa retrograda.
“Bolsonaro é um pária internacional. O Brasil, que era referência e parte da solução para os problemas do mundo, no período do ex-presidente Lula, com ações importantes, como a criação dos Brics e do G20, deverá estar defendendo uma coordenação da política de compartilhamento das vacinas pela ONU e G20, que segue concentrada nos países mais ricos, como vem defendendo Lula.
O ex-ministro denunciou a falta de ação do governo federal, “Bolsonaro dizia que iam morrer menos de oitocentas pessoas ao ano, que era uma gripezinha. Bolsonaro menosprezou a pandemia e o poder de destruição do vírus. Sofremos com carência de oxigênio, lotação de hospitais, falta de insumos essenciais, fora a vacina, que está longe de chegar para toda população brasileira. Uma tragédia, com quase quatro mil mortes por dia, o mundo está vendo isso e todos estão muito preocupados”, alertou.
“Saiu da crise quem fez a lição de casa. Veja a China, tomou as medidas de distanciamento, monitoramento e testagem, desenvolveu tecnologia para então retomar o crescimento. Os Estados Unidos, depois do Trump, com vacinação em massa e a nova política econômica vão no mesmo caminho. Nós estamos nesse atoleiro”, o pior país na pandemia e uma política econômica neoliberal e de ortodoxia fiscal que nos empurra de novo para recessão, disse Mercadante.
Como sair da crise?
Com uma série de problemas, como a destruição da indústria nacional, aumento violento dos níveis de pobreza e desemprego, o país precisa de novas políticas públicas. Para Mercadante, o caminho para sair da crise foi formulado com o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, apresentado pela Fundação Perseu Abramo em 2019. Foi a partir do Plano que se chegou ao projeto de Auxílio Emergencial, entre muitas outras iniciativas.
“A crise é muito severa, sofrem os trabalhadores e também quem vive do seu negócio, o pequeno empresário. Precisamos garantir o isolamento social, com apoio do Estado, e aumentar a velocidade da vacinação. Estamos no ‘mata-burro’, não saímos da pandemia e não se faz a recuperação econômica.
Mercadante ainda contou que o material resultante dos debates sobre o Plano de Reconstrução é “complexo por serem muitos problemas abordados, mas a sua síntese e as ideias estão sendo divulgadas por meio de seminários temáticos e reprodução cartilhas e materiais didáticos”.
Empresários com Bolsonaro
O encontro de empresários em jantar com Bolsonaro foi comentado por Mercadante, que considera normal que empresários conversem com os governos. “Evidente que os empresários têm preocupação, ainda mais com um governo como esse”, disse.
Para ele, “alguns, que conheço bem e que estavam no jantar, são muito críticos ao Bolsonaro e a ampla maioria dos participantes não comentou nada em público depois do jantar. Como vão aplaudir um governo que gera quatro mil mortes por dia? O crescimento em V prometido por Paulo Guedes não aconteceu. Em V só o retorno da pandemia”.
E defendeu a expansão do mercado de consumo interno, que “foi um eixo fundamental do governo do PT. A dinâmica não pode ser só exportação, o mercado interno tem um papel estratégico nos grandes países para o crescimento. O país precisa retomar e fortalecer as políticas de inclusão social”.
Mercadante ainda lamentou os cortes que inviabilizaram a realização do Censo do IBGE: “é importantíssimo para calibrar as políticas públicas, vamos navegar sem bússola”, estão degradando vários indicadores importantes, explicou. O Orçamento aprovado arrocha a saúde e a educação é outra preocupação, alertou Mercadante.
Assista a íntegra da entrevista aqui.