O Pauta Brasil desta sexta-feira debateu três crises conjugadas: na ciência, tecnologia e educação universitária do país. Falta de investimentos, deliberadas ações para desmontar políticas públicas que hoje poderiam salvar vidas. Com mediação de Jorge Bittar, Edward Madureira, Helena Nader e Sidarta Ribeiro analisaram a crise tríplice e suas consequências inclusive no enfretamento da crise sanitária da Covid-19.

Jorge Bittar é engenheiro eletrônico, ex-presidente da Telebrás e deputado federal (PT-RJ) por quatro mandatos. Iniciou o programa relembrando a situação brasileira com crise econômica, sanitária e social. Ele criticou o conjunto de ações públicas definidas no Orçamento da União: “é algo muito grave”.

Helena Nader é professora titular da Escola Paulista de Medicina/Unifesp. Ela relembrou que o Brasil é o único país no mundo que deixa de investir em educação e ciência. “É gerando conhecimento que poderemos crescer, é a chamada economia do conhecimento. O mundo está investindo não só no ensino médio ou superior, mas também na faixa de 0 a três anos. Estamos tirando da educação e ciência, na contramão do que indica inclusive o Banco Mundial, explicou, também reafirmando que “não se trata de gasto com saúde e educação, mas sim investimentos, que terão retorno”.

Sidarta Ribeiro é professor titular, fundador e vice-diretor do Instituto do Cérebro da UFRN. Ele acredita o debate é estratégico para o país, “o que está em jogo é o risco de destruição da capacidade de construir conhecimento”.

“Hoje nossa ciência está completamente em risco de extinção. O orçamento foi aumentado quatro vezes nos dois governos Lula, e foi reduzido depois do golpe até hoje e voltou ao que era no começo do século. Desde o golpe contra Dilma a ciência foi colocada na lista de ‘procura-se’”. Sidarta elencou as questões que comprovam as perseguições a pesquisadores e projetos de pesquisa. Para ele, “o Estado está sendo destruído. Um governo que é anti-ciência, que gasta com propaganda mas alega não ter dinheiro para a ciência”.

Para Sidarta, o Brasil poderia estar produzindo e distribuindo vacinas mundialmente. Ele defende que vivemos a tentativa de destruição do Estado, mas acredita que é possível ultrapassar essas dificuldades e “fazer um ‘Plano Marshall’ de educação, ciência e cultura”.

Edward Madureira é reitor da Universidade Federal de Goiás e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). O retrato que ele fez da situação é similar ao que os demais apresentaram, e acredita na “força da ciência do país” e numa reversão do quadro trágico.

O reitor relatou as ações para reverter o Orçamento e garantir menos cortes para a área, “absolutamente incompatível com o tamanho e a produção da universidade brasileira”, com corte de quase 20%, “que levará ao colapso de algumas universidades brasileiras”.

Algumas das universidades que serão afetadas pela falta de recursos são importantes para o combate à pandemia de Covid-19, além da produção de vacinas e estudos urgentes. “Essa pandemia será recorrente. Não podemos ficar dependendo de vacina importada e a ciência do país tem condições e conhecimento para produzir”, alertou.

As universidades têm capacidade de dar respostas em todas as áreas, desde que com investimento sério. O Brasil tem um dos melhores sistemas de ensino do mundo, com pesquisa científica e ensino na ponta, com pessoal motivado e pesquisadores brasileiros participando do enfrentamento da pandemia, e está “tudo ameaçado pela falta de luz ou pagamento de segurança, ou o corte de assistência estudantil, gerando fuga de cérebros dos jovens estudantes”.

Bittar acredita que o Orçamento aprovado é uma peça de “ficção”. Para ele, “no fundo, quem comanda a nação tem uma visão equivocada sobre o papel do poder público”.

Os convidados defenderam ainda que a força da ciência do país irá conseguir inovar, gerar tecnologia e crescimento, com “resiliência”, segundo a professora Helena Nader. Mas Sidarta foi realista ao comentar “o esgotamento das pessoas da ciência, que podem parar de pesquisar e virar Uber ou ir estudar fora do país, um tipo de internacionalização que não nos interessa”.

Para os próximos dois anos, com o desmonte do Estado, será preciso um governo que reconstrua do zero, avalia Sidarta, acreditando que há “luz no fim do túnel”.

Edward ainda falou sobre as ingerências que ocorrem nas universidades atualmente, “pessoas que não conseguem administrar e geram paralisia das universidades. Temos quase vinte instituições onde a vontade universitária não foi respeitada. A ciência brasileira, nesse momento, é a principal produtora de conhecimento sobre Covid-19”, por isso a importância do Estado investir. “Qualquer tecnologia que temos hoje veio da ciência, que resolveu problemas e se materializou numa tecnologia”, explicou.

 

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