Falar de Apolonio, o jovem de 90 anos, não é fácil. É bom conhecê-lo pessoalmente. Ouvir suas histórias, vividas tão duramente, com tanta dignidade e coragem.

Paciência, firmeza e doçura

Falar de Apolonio, o jovem de 90 anos, não é fácil. É bom conhecê-lo pessoalmente. Ouvir suas histórias, vividas tão duramente, com tanta dignidade e coragem.

Seu grande sonho: construir o mundo novo com justiça,igualdade, liberdade, trabalho, cultura, saber para todos. Conheci o Apolonio em 1947. Voltara ao Brasil após sua participação internacionalista na Guerra Civil da Espanha, ao lado das forças republicanas, antifranquistas, e na resistência do povo francês contra o nazismo. Era o herói. Admirado. Querido. Respeitado.

No Partido Comunista (PCB) recebeu a tarefa de organizar a Juventude Comunista. Tinha 35 anos. Garboso, delicado, simpático, culto.Sua maior preocupação era a formação da juventude e dos militantes em geral. Período curto. De novo as perseguições no governo Dutra.

Depois, a participação do Apolonio em todas as etapas das lutas do povo brasileiro nas décadas 50, 60, até o golpe militar de 1964 – cadeia,tortura,exílio.
Volta ao Brasil após a anistia (1979). Formação e direção no PT.
Nessa sua longa e bela historia de militante e dirigente político, vale a pena destacar alguns traços muito marcantes de sua personalidade.

1-Enorme paciência no trato com as companheiras e companheiros de todas as idades,de todas as formas de pensar, para convencer e persuadir, em defesa de seus argumentos.

2-Respeito pela opinião dos outros, muitas vezes contrariando as dele. Grande capacidade para ouvir.

3-Valorização do trabalho e da luta da militância em geral e, mais particularmente, das mulheres no Partido, nas organizações populares, na Universidade, onde quer que fosse.

4-E, especialmente, a valorizaçâo do papel e da militância de sua querida companheira – a Renée (a quem conheceu na resistência francesa) com quem divide, até hoje, as agruras e alegrias de tantos anos de luta e convívio.

Ao pensar na trajetória desse tão jovem e querido companheiro de 90 anos, desejo que a nossa juventude, principalmente, o conheça mais e melhor, para inspirar-se em seu exemplo.

E, junto com Apolonio, também acho que, apesar dos revezes que todos sofremos ao longo das nossas vidas, vale a pena sonhar e seguir lutando para que os sonhos se transformem em realidade.

Carinhos

Clara Charf
19-2-2000


* Clara Charf da Secretaria Nacional de Relações Internacionais e da Secretaria Nacional de Mulheres do PT.